O que realmente importa
veja.abril.com.br | 31 de October de 2022
A internet transformou nossas vidas em um grande ato de imaginação. Eu abro o Instagram e contemplo a felicidade em mil sorrisos, de mil maneiras.
A fronteira entre a vida real e a imaginária acabou, com preferência para a imaginária.
(...)
Muita gente vai achar horrível o que estou dizendo. Então a pessoa não tem direito de sonhar? Tem, sim. Mas uma vida imaginária, que poderia ser mas não é, ano após ano? Não desejo a ninguém. Simplesmente porque nos tira do momento presente.
Eu lembro de um amigo que, cada vez que se sentava para comer, comentava: “Está bom, mas se botassem isso ou aquilo, ficava melhor” Eu perguntava: “Por que você não desfruta o prato, sem pensar em outro que não está aí?”.
Para muita gente, a vida na prática corre bem, com metas alcançadas, amores, família. Mas chega-se à maturidade e velhice com vontades de adolescente. Tudo bem, há casos em que a pessoa realmente inicia uma nova faculdade, desfaz o casamento, dá uma boa e saudável reviravolta na vida. Mas a maioria sente-se injustiçada, porque não aconteceu alguma coisa desejada.
O passar dos anos desmascara os sonhos. Fica-se com a vida que nos deu alegrias, tristezas — que foi, enfim, nossa! Assim como o prato diante do meu amigo, que ele não conseguia desfrutar. Não conseguia estar de fato no momento presente, desfrutando o que havia, não o que poderia ser.
O segredo não é imaginar outra vida. O que realmente importa é a vida que a gente tem.
Publicado em VEJA de 26 de outubro de 2022, edição nº 2812
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