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domingo, 16 de abril de 2023
Você sabe o que é ética e moral?
domingo, 29 de janeiro de 2023
Viviane Senna e a educação brasileira
domingo, 23 de outubro de 2022
Como é a vida dentro do celular
domingo, 25 de setembro de 2022
Característica do fascismo
sábado, 9 de abril de 2022
‘Geração do quarto’
domingo, 9 de janeiro de 2022
Quais as diferenças entre as gerações X, Y e Z
sábado, 1 de janeiro de 2022
Esperançar, o Brasil precisa de Paulo Freire.
domingo, 26 de dezembro de 2021
O Mito Da Caverna
"Mito da Caverna"
Descrito no livro A República, capítulo 6, do filósofo Platão.
Platão utilizou a linguagem alegórica para mostrar o quanto os homens estavam presos a imagens, sombras ou preconceitos e superstições, como correntes ligadas aos seus corpos.
Para descrever isso, ele remete à imagem de um grupo de homens que nasceram e cresceram dentro de uma caverna, imobilizados por correntes e obrigados a olhar apenas para a parede da caverna à sua frente. Ali, acorrentados e totalmente acostumados com esta situação, contemplavam o que achavam ser o mundo, a partir apenas das sombras refletidas no fundo da caverna por uma escassa luz que havia atrás deles.
O seu mundo ‘real’ era formado por sombras de estatuetas de homens, de animais, vasos, bacias e outros vasilhames, refletidas na parede da caverna. Como só podiam enxergar essas imagens distorcidas, concluíam que eram verdadeiras. A existência desses prisioneiros era inteiramente dominada pela ignorância e contentamento com o que é superficial.
Quebrando as correntes
Certo dia, um dos prisioneiros resolveu libertar-se e voltar-se para o lado de fora da caverna. No início, ao sair da caverna e das trevas que ali reinavam, ficou cego devido à claridade vinda de fora. Gradativamente, seus olhos foram se acostumando à claridade e vislumbraram um outro mundo, com natureza, cores, “imagens” diferentes do que antes considerada verdadeiro. O universo da ciência (gnose) e o do conhecimento (episteme), por inteiro, se abria perante ele, podendo então vislumbrar o mundo das formas perfeitas ou o mundo da verdade, do conhecimento verdadeiro. Maravilhado com o conhecimento, ele voltou para dentro da caverna para narrar o fato aos seus amigos ainda acorrentados, com o intuito de também libertá-los, mas eles não acreditaram nele e revoltados com a sua “mentira”, acostumados a permanecerem na “zona de conforto”, ameaçaram matá-lo.
Com essa alegoria, Platão divide o mundo em duas realidades: o sensível, que é percebido pelos cinco sentidos, e o inteligível (o mundo das ideias), que se alcança apenas com a racionalidade, o pensamento puro, livre das 'trapaças' dos sentidos. O primeiro é o mundo da imperfeição, da ilusão, da mera opinião, do “eu acho”. O segundo é o mundo da verdade, do conhecimento, das ideias, das formas inteligíveis e perfeitas, dos conceitos, do “eu sei”.
A mensagem de Platão ao mundo atual é que o ser humano deveria procurar as verdades em si, sem se contentar com as meras opiniões ou preconceitos.
O homem deveria se empenhar em uma atitude de investigação, pesquisa, discernimento, aprofundamento, problematização, criticidade, enfim, se empenhar na atitude filosófica, para que consiga atingir o bem maior para sua vida, que só pode ser decorrência da verdade ou, pelo menos, da busca sincera e incessante por ele.
No dia a dia, muitas são as cavernas em que nos envolvemos e nos encontramos, seja por comodismo ou alienação, e encontramo-nos enganados e submersos, sem nos darmos conta de que tudo é mera especulação ou ilusão. Assim, O Mito da Caverna, e a filosofia como um todo, é um convite permanente à reflexão e à vida digna.
Richard Garcia é professor de Filosofia, Sociologia e Atualidades do Percurso Pré-vestibular e Enem.
https://www.em.com.br/app/noticia/especiais/educacao/enem/2015/08/03/noticia-especial-enem,674644/platao-e-o-mito-da-caverna.shtml.
domingo, 28 de novembro de 2021
Música e a geração da 'audição ansiosa'.
segunda-feira, 20 de setembro de 2021
Quem tem medo de Paulo Freire?
sexta-feira, 6 de setembro de 2019
Imperdíveis frases de Paulo Freire
"O estudante precisa aprender a ler o
mundo para poder transformá-lo."
Paulo Freire
"Enquanto presença na História e no
mundo, esperançadamente luto pelo
sonho, pela utopia, pela esperança."
Paulo Freire
"Como professor não me é possível
ajudar o educando a superar sua
ignorância se não supero
permanentemente a minha".
Paulo Freire
"Se nossa opção é progressista, se
estamos a favor da vida e não da morte,
da equidade e não da injustiça, do direito
e não do arbítrio, da convivência com o
diferente e não de sua negação, não
temos outro caminho senão viver
plenamente a nossa opção."
Paulo Freire
"É preciso ousar, aprender a ousar, para
dizer NÃO a burocratização da mente a
que nos expomos diariamente".
Paulo Freire
"O conhecimento exige uma presença
curiosa do sujeito em face do mundo.
Requer uma ação transformadora sobre
a realidade. Demanda uma busca
constante. Implica em invenção e em
reinvenção".
Paulo Freire
"Estudar exige disciplina. Estudar não é
fácil. porque estudar pressupõe criar,
recriar, e não apenas repetir o que os
outros dizem."
Paulo Freire
"A educação necessita tanto de formação
técnica e científica como de sonhos e
utopias".
Paulo Freire
"Ler não é caminhar sobre as palavras.
Ler é reescrever o que estamos lendo, é
perceber a conexão entre o texto e o
contexto e como vincular com o meu
contexto."
Paulo Freire
"Num mundo a que faltasse a liberdade e
tudo se achasse preestabelecido, não
seria possível falar em esperança.”
Paulo Freire
“Não há criatividade humana, não há
produção humana, não há mudança de
mundo, sem se correr risco.”
Paulo Freire
"Precisamos contribuir para criar a Escola
que é aventura que marca, que não tem
medo do risco, por isso recusa o
imobilismo."
Paulo Freire
“Ensinar não é transferir conhecimento,
mas criar as possibilidade para a sua
própria produção ou a sua construção”
Paulo Freire
"A educação problematizadora está
fundamentada sobre a criatividade e
estimula uma ação e uma reflexão
verdadeiras."
Paulo Freire
“Como professores, educadores, nós
temos que estar engajados num palco de
luta permanente, que é a luta pela
superação. É preciso estarmos abertos
constantemente ao novo e ao diferente,
para poder crescer e aprender.”
Paulo Freire
”Só uma educação da pergunta aguça,
estimula e reforça a curiosidade. A
educação da resposta não ajuda em
nada a curiosidade, indispensável ao
processo cognitivo."
Paulo Freire
"O mundo não é, o mundo está sendo".
Paulo Freire
"O homem, ser de relações, e não só de
contatos, não apenas está no mundo,
mas com o mundo"
Paulo Freire
"É porque eu amo o mundo que luto para
que a justiça social venha antes da
caridade"
Paulo Freire
"Educação não transforma o mundo.
Educação muda pessoas. Pessoas
transformam o mundo".
Paulo Freire
"Não há saber mais, nem saber menos, há
saberes diferentes"
Paulo Freire
"A educação tem caráter permanente.
Não há seres educados e não educados.
Estamos todos nos educando."
Paulo Freire
“A educação é um ato de amor, por isso, um ato de coragem. Não pode temer o debate. A análise da realidade. Não pode fugir à discussão criadora, sob pena de ser uma farsa."
Paulo Freire
"É fundamental diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz, de tal maneira que num dado momento a tua fala seja a tua prática."
Paulo Freire
"É preciso ousar para jamais dicotomizar
o cognitivo do emocional."
Paulo Freire
"Nao deixe que o medo do difícil paralise
você."
Paulo Freire
"Sem a curiosidade que me move, que me
inquieta, que me insere na busca, não
aprendo nem ensino".
Paulo Freire
"A prática educativa é tudo isso: afetividade, alegria, capacidade científica, domínio técnico à serviço da mudança ou lamentavelmente, da permanência do hoje."
Paulo Freire
quarta-feira, 17 de julho de 2019
Comunicação em rede e nova política no Brasil
Hoje, no Brasil, há pessoas que dizem que o nazismo era de esquerda, que as vacinas são ruins e que a terra é plana. Como isso é possível na era da informação?
Primeiro, as pessoas não funcionam racionalmente e sim a partir de emoções.As pesquisas mostram cientificamente que a matriz do comportamento é emocional e, depois, utilizamos nossa capacidade racional para racionalizar o que queremos. As pessoas não leem os jornais ou veem o noticiário para se informar, mas para se confirmar. Leem ou assistem o que sabem que vão concordar. Não vão ler algo de outra orientação cultural, ideológica ou política. A segunda razão para esse comportamento é que vivemos em uma sociedade de informação desinformada. Temos mais informação do que nunca, mas a capacidade de processá-la e entendê-la depende da educação e ela, em geral, mas particulamente no Brasil, está em muito mau estado. E vai ficar pior, porque o próprio presidente acha que a educação não serve e vai cortar os investimentos na área. Por um lado, temos mundos de redes de informação, de meios que invadem o conjunto de nosso pensamento coletivo, e ao mesmo tempo pouca capacidade de educação das pessoas para entender, processar, decidir e deliberar. Isso é o que chamo de uma era da informação desinformada.
As universidades públicas e os professores brasileiros estão sob ataque?
Vocês estão vivendo um novo tipo de ditadura. As instituições estão preservadas, mas se manipulam tanto por poderes econômicos, quanto por poderes ideológicos. O Brasil, nesse momento, perdeu a influência da Igreja Católica que foi muito tradicional durante muito tempo na História, mas ganhou algo muito pior que são as igrejas evangélicas, para quem claramente não importa a ciência e a educação, porque quanto mais educadas e informadas estejam as pessoas, mais capacidade terão de resistir à doutrinação. O mesmo acontece com o presidente (Bolsonaro) e com o regime que está instalando. Não se pode fazer uma ditadura antiga, que se imponha com o exército, mas uma ditadura Orwelliana, de ocupar as mentes. Isso se faz acusando de corrupção qualquer tipo de oposição. Como a corrupção está em toda parte, então persegue-se apenas a corrupção de políticos e personalidades que se oponham ao regime. Esse tipo de ditadura só pode funcionar com um povo cada vez menos educado e mais submetido à manipulação ideológica.
Como essa manipulação é exercida?
Nosso mundo da informação é um mundo baseado nas redes sociais e nas redes sociais há de tudo. Elas permitem a autonomia dos indivíduos, acreditávamos que era um instrumento de liberdade e é, mas é uma liberdade que é usada tanto pelos manipuladores como pelos jovens que tentam mudar o mundo. Foram desenvolvidas técnicas muito poderosas de desinformação e manipulação, que incluem a utilização massiva de robôs manipulados por organizações como o Movimento Brasil Livre (MBL) e financiadas pela extrema direita internacional, que estão preenchendo as redes sociais e manipulando-as muito inteligentemente, de forma que a construção coletiva do que ocorre na sociedade está totalmente dominada por movimentos totalitários, que querem ir pouco a pouco anulando a democracia. Por isso, é preciso atacar a educação, atacar os professores, as universidades, as humanidades e as ciências sociais, que são áreas que nos permitem pensar. Tudo o que significa pensar é perigoso. Por isso, digo que é uma ditadura, ainda que de novo tipo. É uma ditadura da era da informação.
O que as escolas brasileiras precisam ter para mudar a realidade do país?
Primeiro: recursos. Mesmo que haja mudanças na pedagogia, se não há recursos, se não pagam e não respeitam os professores e se não há menos alunos por classe, (não adianta). É preciso uma formação inicial melhor dos professores e também uma reciclagem contínua, sobretudo, nas escolas mais longínquas do Brasil. Precisamos de bons professores imediatamente, não podemos esperar vinte anos para produzir os educadores que vão educar os jovens. E como fazer isso? Com educação virtual a distância. Precisamos reforçar as universidades virtuais, fazer com que haja programas de formação virtual, mas não de segunda categoria. Estou na Universidade Aberta da Catalunha, que tem 65 mil estudantes 100% na internet, e funciona muito bem. Os estudantes de lá têm os mesmos diplomas que os demais e não há nenhuma diferença de qualidade e nem de mercado para eles.
Você falou muito sobre a importância da valorização do professor. Atualmente, o professor mais conhecido do país, Paulo Freire, está sendo alvo de ataques.
Isso significa que tudo que é criação de uma cidadania informada, educada e autônoma, é um perigo para uma ditadura sutil, que precisa de pessoas que não sejam bem educadas, que sejam desinformadas e manipuláveis. Os três princípios de Paulo Freire são: aprender pela experiência— hoje em dia encontramos tudo na internet, há possibilidade de fazer grupos de aprendizagem na internet—, autonomia dos alunos para educar-se para buscar a informação, e professores para guiá-los. Agora que temos tecnologia, não só internet, mas as conexões rápidas, é possível revolucionar facilmente a escola seguindo os princípios de Paulo Freire. Por que se ataca Paulo Freire? Porque no mundo, e não só no Brasil, ele é um símbolo. Eu conheci Paulo Freire na Universidade Stanford e lá ele era adorado, porque seus princípios são adaptados ao que é a nova sociedade: criar pessoas livres e autônomas, capazes de promover sua própria aprendizagem, guiados por seus professores. Isso é muito perigoso para aqueles que querem manipular. Paulo Freire é liberdade, e a liberdade é agora o maior obstáculo que existe para que se siga desenvolvendo essa ditadura sutil que estão tentando impor ao Brasil.
O governo anunciou recentemente que pretende criar mais de 100 novas escolas militares, com uma forte disciplina. Qual sua opinião sobre essa iniciativa?
A autonomia é fundamental. O que precisamos hoje é de pessoas educadas para pensar autonomamente, porque há uma quantidade de informação tão grande que precisamos ser autônomos em construir nossas opiniões e tomar decisões. Hoje em dia, existem robôs cada vez mais avançados, e as escolas não podem ser produtoras de robôs. (A formação de) gente que simplesmente obedece, segue o que está programado e aceita tudo é um princípio de militarização não só da escola, mas da sociedade. A grande questão do Brasil nesse momento é que se não houver uma grande reação da sociedade contra essas medidas que chamo de uma ditadura de novo formato, o Brasil será transformado em uma sociedade totalitária.
Na sua opinião, qual o papel das redes sociais na eleição de Jair Bolsonaro?
Foi um papel fundamental. Bolsonaro é um pensamento totalitário, mas ele foi eleito democraticamente. Portanto, a grande pergunta é: por que uma maioria clara dos brasileiros elegeu Bolsonaro? Uma coisa é a democracia e outra são os resultados da democracia. Hitler foi eleito democraticamente.Tenho tentado dar uma resposta sobre isso não só para o Brasil, mas para o mundo, porque aconteceu o mesmo em outros lugares, como (Donald) Trump (nos Estados Unidos). O que mostro é que as pessoas em todo o mundo já não acreditam na classe política, nos partidos, nas formas do que chamávamos de democracia liberal, porque elas se corromperam. Os políticos se apropriaram da democracia e do Estado para eles mesmos. A confiança entre governantes e governados se rompeu. Então, qualquer pessoa com capacidade de mobilização e de carisma, apoiado por recursos econômicos muito importantes dos grupos poderosos de sempre — que temem que as pessoas sejam capazes de controlar suas próprias vidas e não se deixem manipular e explorar— formam a combinação (que leva a isso).Então surgem demagogos como Trump e Bolsonaro. A narrativa está sendo controlada nas redes sociais pela extrema direita e por movimentos totalitários, muitos deles de cunho religioso.
A esquerda já perdeu essa batalha nas redes?
Essa esquerda sim. Essa esquerda está morta. Toda a democracia liberal está morta e não só no Brasil. No resto do mundo, o pouco que resta da esquerda está tentando se reestruturar. Agora, a esquerda não é simplesmente uma ideologia, alguns partidos. O que chamamos de esquerda é a capacidade das pessoas de se rebelarem contra sua exploração, sua manipulação, e sua opressão. Então, se falamos da esquerda existente hoje, ela está em colapso total, mas se falamos da possibilidade de uma rebelião, de um controle social contra o que está acontecendo. Posso garantir, pela experiência história do Brasil que haverá mais que uma esquerda, haverá grandes movimentos sociais contra a ditadura, como houve para acabar com a ditadura anterior.
Hoje, temos uma difusão enorme de notícias falsas. Há precedentes na História?
Nunca tivemos tanta difusão de informação, mas os chamados "rumores" sempre foram fundamentais. Os "mitos". Pessoas foram perseguidas, mulheres foram queimadas por histórias de que eram bruxas e participavam de atos com o demônio. Tudo isso é fake news. A História está cheia de fake news fundamentais para mobilizar os comportamentos mais extremos e irracionais, mas o que acontece é que agora como há uma capacidade muito maior de difusão da informação, muito mais intervenção de todos nessas redes, não apenas dos poderes de sempre, a densidade é muito maior. As pessoas que querem estabelecer a verdade, a honestidade e os valores fundamentais humanos têm que intervir nas redes sociais, porque hoje em dia os que fazem isso são, sobretudo, os destruidores da Humanidade.
Manuel Castells,
Referência no estudo de comunicação e comunicação em redes.
No jornal O Globo
sábado, 13 de julho de 2019
Educar para o respeito, não para a obediência ou o medo
Pode surpreendê-lo, mas uma criança obediente não é uma criança feliz. Obediência é quase sempre alcançada através do medo, então o melhor é educar para que eles entendam imediatamente o que respeito, reciprocidade e empatia são construídos através do afeto sincero.
Certamente alguns pais não concordarão. De fato, muitos de nós fomos educados de acordo com as regras da psicologia comportamental que fazer algo errado envolve receber uma punição severa e, ao contrário, fazer a coisa certa leva a uma recompensa.
Prêmios e punições nem sempre são eficazes, especialmente porque no mundo adulto a sociedade nem sempre nos recompensa por “se comportar bem”. As crianças não devem direcionar seu comportamento com base em gratificações simples.
Em vez disso, elas precisam entender por si mesmos a base do bom comportamento, respeito e nobreza da alma, colocando-os em prática espontaneamente.
Obediência baseada no medo e infelicidade
Começamos esclarecendo os conceitos mais importantes. Obediência transmitida através do medo é uma fonte de desconforto em uma criança; Da mesma forma, porém, também a permissividade causa infelicidade. Em um caso, a criança só verá paredes ao seu redor; no outro, sem ver ninguém, ela nunca saberá o que esperar.
Os extremos não funcionam quando uma criança é criada. Portanto, é melhor definir o que se entende por “criança obediente”.
Crianças obedientes só em casa
Esse é um comportamento tipicamente observado nas escolas. Mestres e professores percebem crianças que se comportam violentamente na sala de aula e não respeitam os outros, mostrando uma atitude muito diferente do que fazem em casa.
Quando os professores falam sobre isso com seus pais, estes não conseguem imaginar ou acreditar que seus filhos se comportam assim porque em casa “são muito obedientes”.
O problema é o seguinte: quando educamos através do medo e da punição, as crianças obedecem, mas não conseguem aprofundar o conceito de respeito. Ela faz o que faz porque é obrigada, mas não o entende. É por isso que na escola, sentindo-se mais livres das pressões familiares, ela tende a canalizar o medo e a raiva através dessas ações destrutivas.
Não é a coisa certa a fazer. Às vezes podemos até testemunhar a situação oposta; Crianças severamente educadas através da obediência em outras ocasiões mostram uma atitude fechada, medrosa e defensiva. O medo não as educa, pelo contrário, prejudica seu equilíbrio emocional.
As maneiras pelas quais crianças obedientes são educadas
Há muitas maneiras de educar uma criança e cada família terá seus próprios princípios, valores e estratégias para transmitir a seus filhos. Em qualquer caso, a obediência baseada na submissão não é saudável ou pedagógica.
Vejamos os riscos deste tipo de educação dominante e rigorosa baseada na obediência:
• As crianças não sabem ou se atrevem a expressar suas emoções porque qualquer ato espontâneo é punido.
• A criança que é educada para ficar em silêncio, para esconder as lágrimas porque “chora é para os fracos” ou para ficar calma porque “para não incomodar” vai acabar desenvolvendo uma repressão emocional e pessoal muito perigosa.
• Obediência também visa “proteger” a criança de possíveis ameaças. Uma criança obediente nunca sairá da zona de conforto familiar e ficará presa dentro dessa “bolha” paterna e materna.
• A criança obediente educada no medo não tem a coragem de explorar ou descobrir, ela não se sente segura para se abrir com os outros. O medo é o oposto da felicidade. Portanto, é necessário mudar a estratégia, educar para o respeito e não para o medo.
Educar para o respeito, educar para a felicidade
Não é a mesma coisa dizer “cale a boca e pronto, você está incomodando” e dizer “você pode ficar quieto agora, por favor? Mamãe está no telefone “.
A educação e a atitude da linguagem são pedagógicas: servir como modelo é a chave para a educação de uma criança. Se é verdade que todos nós queremos que nossos filhos nos escutem, também é verdade que eles devem entender por que as coisas são melhores assim, por que devem se comportar respeitosamente com os outros.
Tome nota destas ideias-chave para refletir sobre o valor da educação baseada no respeito:
• Dê responsabilidades ao seu filho. Ele deve entender desde cedo a importância de fazer as coisas sozinho e cuidar de seus objetos pessoais. Pouco a pouco, ele perceberá que é capaz disso e que confiamos nele e nos orgulharemos disso.
• Debata com ele sobre as regras que você estabelece em casa. Explique por que ele deve observá-las; Desta forma, estabelecemos uma comunicação baseada no respeito através da qual você pode responder a todas as suas perguntas.
• Se ele fizer algo errado, não grite ou o humilhe (com expressões como “você é estúpido” ou “você é o pior filho do mundo”). Em vez de intensificar a negatividade, ensine-o a fazer as coisas da maneira certa.
Tente entender suas emoções e ensine-as a canalizá-las e a entender esses processos internos.
Originalmente publicado em Siamo Mamme. Via Pensar Contemporâneo.
sábado, 11 de maio de 2019
a barbárie como projeto de nação
Desmonte do pensamento: a barbárie como projeto de nação.
Os desmontes da Educação pública no Brasil começaram na década de 60, no entanto, o sucateamento físico, moral e intelectual verticalizou-se com força a partir dos anos 90, quando avançaram as políticas neoliberais, transformando a Educação em fardo econômico e não mais como um projeto de nação.
Nos últimos 30 anos o país foi submetido a políticas públicas que desvalorizaram a profissão, relegando os professores praticamente a párias sociais. Além de transformarem a profissão, base de toda sociedade civilizada e desenvolvida, em motivo de vergonha social, dentre outros pontos, complementaram o círculo de ruínas, implantando programas de progressão continuada, uma nomenclatura gourmet que, na prática, passou a despejar despejou milhões de cidadãos no mercado sem as menores condições de interpretar a vida.
No sentido inverso, no mesmo período, a Coreia do Sul, então mais subdesenvolvida que o Brasil, iniciava uma profunda transformação por meio de uma revolução educacional, que fez emergir o país como um dos grandes centros tecnológicos do planeta, formando novas gerações de cidadãos, preparadas, que impactaram positivamente em todos os segmentos.
Na contramão da História, no Brasil, os governantes "investiram" no desmonte do pensamento, estereotipando a Educação como gasto e não como investimento.
As atuais políticas de cortes na Educação afundam ainda mais o país para a formação de uma nação cada vez menos pensante. As retaliações orçamentárias na educação básica, no ensino universitário e nos programas de pesquisas, fruto de inimigos ideológicos imaginários, desmontam qualquer projeção para a formação de uma nação desenvolvida. Economia não é constituída apenas por números, mas também por pessoas.
Pior que a retaliação nos investimentos e uma nova investida com matizes ideológicos (sem lastros com a realidade) para justificar possíveis privatizações no futuro é a demonização das atividades intelectuais, estabelecendo um novo grande sofisma de que educar se restringe a aprender uma profissão, direcionando assim, a sociedade para o tecnicismo absoluto.
Segundo estudo conduzido pelo IPM (Instituto Paulo Montenegro) e pela ONG Ação Educativa, em 2016, em que foram entrevistadas 2002 pessoas entre 15 e 64 anos de idade, residentes em zonas urbanas e rurais de todas as regiões do país, apenas 8% das pessoas em idade de trabalhar "capazes de entender e se expressar por meio de letras e números. Ou seja, oito a cada grupo de cem indivíduos da população plenamente capazes de entender e se expressar por meio de letras e números".
Como se constata a partir do estudo, o descaso das últimas décadas com a Educação já criou uma imensa massa ignara. Fato é que, com estes índices destacados na pesquisa, somos preponderantemente uma nação de analfabetos.
O desdobramento desse vácuo de pensamento poderá ser ainda mais danoso. Em um país politicamente polarizado, a massa, com pouca instrumentação cognitiva por culpa dos governantes, sem conhecimentos históricos mínimos e com a pós-verdade sendo estabelecida via redes sociais, esse contingente revela-se incapaz de compreender a sociedade e, como consequência, começa a reescrever a História através distorções e achismos.
Educação não pode ser tratada como objeto de esquerda ou direita.
Quando se renega o pensamento como elemento de desenvolvimento em sentido amplo de uma nação, estabelecido por meio de um sistema sólido de Educação, a única projeção para o futuro é da consolidação do tecnicismo simplista e superficial, formando uma sociedade com hordas destinadas à esteira da produção. Em plena Era da Tecnologia, considerada a quarta revolução, o Brasil adota medidas – e cortes - para a formação de "apertadores de parafusos".
Não há como projetar uma nação desenvolvida sem se considerar um projeto inclusivo de educação.
É necessário um mínimo de bom senso e discernimento para compreender que um povo se desenvolve com pensamento crítico em todas as áreas do conhecimento. Sobretudo, que não se faz uma nação com armas, guerras ideológicas vazias e que transformações reais não se sustentam em redes sociais.
Por mais que pareça óbvio, é preciso compreender que o mundo mudou. Tentar retroagir a mentalidade das pessoas e as novas concepções sociais é como querer pegar uma canoa e tentar fazer com que ela volte a ser árvore.
Brasil 247, brasil247.com.
11 de Maio de 2019
quarta-feira, 20 de março de 2019
Como a internet está matando a democracia
“Fomos muito ingênuos”, adverte o pesquisador e jornalista inglês Jamie Bartlett.
Para ele, nos primórdios da internet “havia uma ampla visão de que o simples fato de tornar a informação mais disponível e permitir que todos pudessem criar e compartilhar informação transformaria o nosso ambiente em mais informado, politizado e racional.”
Não foi o que aconteceu, e segundo ele a radicalização atual nem era tão difícil de prever. Para Bartlett, os grupos radicais chegaram antes à internet por estarem fora dos jornais e do mainstream.
“Mas o mais importante é que todos nós nos tornamos mais radicais”, explica. “Pulamos de um assunto para outro e somos apresentados a mais e mais conteúdos apelativos e sensacionalistas para manter nosso vício nas redes.” Como resultado, somos expostos a argumentos emocionais radicais e acabamos xingando e vociferando nas redes sociais.
Autor do recém-lançado livro The people vs tech: How the internet is killing democracy and how we save it (O povo vs tecnologia: como a internet está matando a democracia – e como podemos salvá-la, em tradução livre), ainda inédito no Brasil, Bartlett faz parte da Demos, um think tank britânico que reúne especialistas em educação e tecnologia para pesquisar temas relacionados à política.
Em entrevista à Pública, Bartlett fala sobre a radicalização promovida pelo ambiente online, desinformação, campanhas digitais e outros perigos da rede para a democracia.
Mas, mais do que constatar os problemas, o pesquisador propõe soluções para avançarmos junto com a tecnologia. Entre elas, um departamento governamental dedicado a fazer uma auditoria de algoritmos e uma base de dados pública, com registros instantâneos, de toda propaganda eleitoral publicada nas redes. Leia a entrevista a seguir:
O surgimento da internet, e depois das redes sociais, veio com a expectativa de uma maior democratização da informação e do debate público. Ao longo do tempo, essa ideia desapareceu. Pesquisadores, incluindo você, mostram que, ao contrário de democratizar, o ambiente virtual potencializou discursos radicais e extremistas. Por que isso aconteceu?
A primeira coisa que precisamos entender é por que fomos tão ingênuos no início. Havia uma ampla visão de que o simples fato de tornar a informação mais disponível e permitir que todos pudessem criar e compartilhar informação transformaria o nosso ambiente em mais informado, politizado e racional. Eu penso que boa parte da razão para essa crença veio do fato de que a maioria das pessoas por trás dessa tecnologia são pessoas da costa oeste dos Estados Unidos, da Califórnia. Pessoas extremamente liberais e grandes defensoras dos poderes naturais da livre informação e alienados das reais questões do mundo. E isso é só uma das explicações. Foi uma ingenuidade criar essas expectativas. As pessoas assumiram que a internet e as redes sociais seriam extremamente livres e que não haveria controle sobre as informações que estariam ali. Ninguém pensou nas consequências.
Mas, olhando com mais atenção, era possível ver que não seria bem assim. Na maioria das novas tecnologias, são as pessoas mais radicais, marginais e até criminosos que primeiro aprendem suas possibilidades. Eles têm essa vantagem, pois, na maioria das vezes, os mais autoritários se consideram excluídos, então dedicam boa parte de sua vida a novas técnicas e tecnologias.
O que eu descobri foi que, se você observar grupos de extrema direita, e até alguns grupos radicais de esquerda, na maioria das democracias, são eles os primeiros usuários de novas tecnologias. Neonazistas, por exemplo, encontraram maneiras de usar as redes sociais para espalhar suas mensagens, porque eles são determinados e não tinham outra forma de fazer isso. Se você os tira da mídia tradicional, é natural que eles procurem outros meios.
Adicione a isso o fato de que em troca da gratuidade das redes sociais nós damos a elas [as empresas de tecnologia] nossos dados. Assim elas tornam essas plataformas ambientes viciantes, para que fiquemos mais tempo lá, fornecendo ainda mais dados. E nossa tendência é clicar naquilo que for mais extremo, radical, inacreditável, pessoal.
Isso deixou as pessoas mais radicais, ou foram os extremistas que se tornaram mais fortes?
Boa pergunta. Eu acho que os radicais cresceram nas plataformas digitais porque tinham essa vantagem de serem usuários há mais tempo. Mas o mais importante é que todos nós nos tornamos mais radicais – não exatamente extremistas, mas somos exponencialmente expostos a conteúdos radicais e apelativos. Não temos a intenção de falar sobre essas temáticas, mas elas nos são apresentadas. Assim, quando entramos nessas plataformas, gritamos uns com os outros, discutimos sobre coisas pequenas, discordamos sem ao menos escutar o outro lado. Pulamos de um assunto para outro e somos apresentados a mais e mais conteúdos apelativos e sensacionalistas para manter nosso vício nas redes. E o resultado é que nos tornamos mais extremos.
E como Trump, nos EUA, e Bolsonaro no Brasil se beneficiaram desse ambiente polarizado?
Na minha opinião, esses políticos se baseiam em frases de efeito e soluções simplistas. E é exatamente isso que funciona nas plataformas de redes sociais. Discursos populistas sempre foram apelativos. Sempre se trata de apelar para o emocional, tratar problemas complexos com soluções fáceis.
As redes sociais são excelentes ambientes para amplificar essas mensagens porque não são tratadas como nos jornais, por exemplo. Com as notícias, temos que nos sentar e pensar sobre o que lemos. Não somos guiados por emoções. Mas nessas plataformas, sim. Quando compartilhamos conteúdos, esperamos respostas, curtidas, então é mais provável que publiquemos conteúdos que nos fazem sentir raiva ou animação do que conteúdos profundos e reflexivos.
Você acredita que essa radicalização impulsionada pelas redes é igual para a direita e para a esquerda?
É uma pergunta muito difícil de responder. Eu acredito que o discurso político que funciona nas redes pode ser tanto de direita quanto de esquerda.
Qual é o papel da desinformação nesse processo de radicalização online?
Levantamento inédito mostra que às vésperas das eleições presidenciais, brasileiros se tornaram segunda maior nacionalidade na plataforma Gab, que é investigada no Brasil e nos EUA
Rastreamos a hashtag que espalhou fake news sobre Jean Wyllys
Iniciados por anônimos, boatos que ligavam ex-deputado a ataque a Bolsonaro explodiram com atuação de Olavo de Carvalho, Alexandre Frota e Lobão no Twitter e Facebook
O problema não é a desinformação em si, mas o fato de haver diversas categorias de notícias falsas nas redes, e todas elas causam um efeito importante.
Na internet você acha todo e qualquer tipo de informação, verdadeira ou falsa. Há aquelas postadas por veículos de notícias e as que são apenas histórias de pessoas e também podem ser confiáveis. E há aquelas que são ruins e mentirosas. Ninguém sabe qual é verdadeira e qual é falsa. Então, no que as pessoas confiam quando não sabem no que acreditar é simplesmente em suas próprias intuições e emoções. Você confia no personagem que você acha que combina mais com você e fala coisas que você acredita. E isso é mais um elemento que beneficia os populistas porque eles geralmente são melhores em convencer as pessoas.
Não é simplesmente a desinformação pela desinformação, é que a informação circula em bolhas. Na rede você encontra dados e estatísticas para embasar qualquer opinião que você tenha. Cada um tem seus próprios fatos. E eles não estão exatamente certos, mas na internet é possível encontrar tanta coisa que existe informação para o que você quiser, tudo que valide sua opinião.
E estar envolvido em tanta informação assim é mais preocupante que as próprias notícias falsas. Por que é isso que faz com que as pessoas não saibam no que acreditar e parem de prestar atenção nos jornais para guiarem-se apenas pelos sentimentos. E é também isso que está tornando os políticos mais radicais, porque ninguém mais tem a autoridade sobre a verdade ou sobre os fatos.
No seu livro, você fala muito sobre o disparo de mensagens na campanha de Donald Trump com a ajuda de dados fornecidos pela empresa Cambridge Analytica. Você pode explicar como essa empresa ajudou Donald Trump, que não era do meio político, a ganhar as eleições nos EUA?
A tecnologia usada não era única ou inovadora, e vem sendo usada por publicitários há muito tempo. Eles basicamente identificaram pessoas que acreditavam que eram mais suscetíveis de serem convencidas pela campanha. O que eles fizeram foi construir perfis detalhados de milhões de americanos usando dados disponibilizados publicamente na internet. Esses dados, que podem ser comprados, incluem coisas como o valor da sua casa, que carro você tem, que revistas assina e muito mais. Eles pegaram o máximo de informações das pessoas que conseguiram e dividiram elas em grupos, enviando conteúdo mais provável de convencê-las.
Além de eleições, essa tecnologia pode influenciar outros aspectos da nossa vida. Somos bombardeados com anúncios personalizados, é como se as empresas soubessem mais de nós que nós mesmos. Como isso afeta a democracia?
Para mim, o maior problema é a popularização dessas técnicas de publicidade com dados, especialmente quando não há regulação. Significa que qualquer um pode dizer que seu opositor está trapaceando.
Qualquer um que perder uma eleição pode dizer que o adversário está usando dados de pessoas indiscriminadamente e manipulando eleitores com publicidade. E isso compromete a integridade de qualquer pleito. Quando você usa essas técnicas, na cabeça das pessoas, isso compromete a integridade de uma eleição.
Você não acha que a popularização dessas técnicas de publicidade vai fazer as pessoas questionarem suas escolhas e atitudes online?
É o seguinte: ninguém acha que foi influenciado por um anúncio. Nunca. As pessoas sempre falam: “Ai, isso não me afeta”. Mas, então, por que os publicitários investem tanto nas redes sociais? Por que eles já testaram e viram que realmente funciona.
Uma das razões pelas quais eu escrevi meu último livro foi para tornar as pessoas mais conscientes da maneira como seus dados estão sendo usados. E eu acho que as pessoas estão cada vez mais preocupadas.
Você vê um crescimento em outras formas de usar a internet?
Sim, eu vejo. Acho que está crescendo e melhorando. No Reino Unido, nós temos VPN [redes privadas individuais], que nos dá mais proteção de dados, e significa que empresas só conseguirão coletar nossos dados se dermos autorização, e isso nos dá o direito de pedir nossos dados de volta também. Já existem empresas que ajudam as pessoas a recuperar seus dados de outras empresas, novas redes sociais estão surgindo. Então, existem pequenas iniciativas nesse sentido. Eu não sei se vai funcionar, ou se vai fazer muita diferença, mas eu vejo melhora.
Existem maneiras de minimizar os efeitos dessa falta de privacidade online sem ser pela via completamente anônima e criptografada. No seu livro, uma das soluções que você sugere é o policiamento dos algoritmos. Você pode explicar como isso funcionaria?
Sim. O que podemos fazer é criar formas de controle democrático sobre os sistemas que possuem nossos dados pessoais. Uma das maneiras de fazer isso é da mesma maneira que fiscalizamos nossas instituições como escolas, serviços de saúde etc., para garantir que eles estejam funcionando. Com os algoritmos isso não é feito. Ninguém sabe se certos tipos de notícias estão sendo privilegiados pelos algoritmos, por exemplo. Eu não tenho a exata solução para isso, mas eu acho que é preciso criar um sistema de fiscalização.
A lógica é: se há um poder, é preciso criar um sistema de fiscalização.
Sim, mas isso precisaria ser feito pelo poder público, e os políticos que temos atualmente mostram muito pouco conhecimento sobre as questões do ambiente digital. Prova disso foi a audiência realizada com Mark Zuckerberg no Congresso americano. Você acha que essa equipe é capaz de formular políticas públicas eficientes nesse sentido?
Eu acho que é possível. Não é preciso ser um engenheiro de computação para pensar em soluções para esses problemas digitais. Eu só acho que é preciso disposição e investimento. Por que não seria possível instalar um departamento para fiscalizar algoritmos? Para mim parece possível e plausível, apesar das dificuldades.
Mas os problemas que temos são urgentes. Como cidadãos, o que podemos fazer?
O que eu mais tenho dito é que precisamos olhar nosso comportamento online como um passo. Eu acredito que temos o dever, como cidadãos, mais importante do que votar, de refletir sobre nosso comportamento online. Que dados estamos criando? Com quem estamos compartilhando? Que plataformas estamos usando?
Porque, toda vez que compartilhamos nossos dados, estamos contribuindo para a sociedade de controle que vivemos atualmente.
E as plataformas? Você acha que elas devem ser mais bem reguladas? De que maneira?
Sim. Eu acho que há regulações que podemos criar. A mais fácil delas seria definir essas empresas como publicitárias e investigá-las para combater oligopólios e promover a livre concorrência. Não pensá-las como plataformas de redes sociais.
Temos que ficar atentos às aquisições que essas empresas fazem, porque muitas vezes elas compram plataformas menores antes mesmo que estas se tornem competitivas. Então, temos que bloquear esse tipo de compra.
E há algumas outras coisas, como regular o conteúdo que circula nesses lugares, como o discurso de ódio. E multá-las caso não removam esses conteúdos.
Que outras medidas legais precisam ser tomadas na sua opinião?
Devemos atualizar as legislações eleitorais urgentemente, porque elas estão ultrapassadas. Uma das coisas que eu proponho é que todos os anúncios usados em campanhas eleitorais devem ser publicados em tempo real num banco de dados público para todos verem. Eu acho uma medida importante e fácil de ser implementada. Acho que isso pode aumentar a confiabilidade das eleições.
E também precisamos melhorar de uma maneira geral o sistema educacional, porque nenhum dá a verdadeira atenção para o estudo dos problemas de desinformação, deep fakes, fake news. E as pessoas convivem com isso todos os dias. Portanto, precisamos de uma drástica melhora na maneira como ensinamos media literacy [alfabetização midiática]. Estamos muito atrasados.
Do site
https://apublica.org/2019/03/como-a-internet-esta-matando-a-democracia/
quinta-feira, 1 de novembro de 2018
Droga, uma economia informal. Antônio Risério
Tem um outro dado aí que é o tráfico de drogas, consumo e tráfico de drogas, que gera muito dinheiro...
E emprego.
Pois é, a economia informal da cidade gera mais que a formal... E gera muita violência em cima disso, muita repressão policial, muita corrupção. Corrupção policial, corrupção política, corrupção da Justiça. Como esse elemento, que não existia e que agora é cada vez mais forte em Salvador, pode mexer e já está mexendo no quadro em que a gente vive?
Não acho que o negócio das drogas tenha criado um "Estado paralelo", como falam. Pode até ter formas fragmentárias de atuação de tipo estatal, coisas filantrópicas, até tribunais e tal. Mas nem chega a ser uma organização para-estatal. É apenas um empresariado ilegal e o que você tem são grupos armados disputando espaços de mercado. Nem tem também essa história de guerra civil. Guerra civil é quando uma classe ou uma etnia, por exemplo, enfrenta outra, por questões econômicas, ideológicas, etc. Você tem mesmo é disputa de mercado, numa situação de ilegalidade. O tráfico oferece ao jovem pobre, além de aventura e risco, coisas que a juventude adora, dinheiro e acesso ao consumo. Você fica vendo o tempo todo, nas novelas da Globo, aquele padrão de vida ali... e vai ter acesso àquilo como? Ou tomando ou traficando, não há muitos caminhos. Não temos política educacional, a política de inclusão social ainda é muito fraca, não tem inclusão cultural, não tem nada. A periferia é abandonada e é um prato cheio, claro, para o tráfico. Com um agravante, hoje, que é o seguinte. Antes, a gente falava que o que distinguia o tráfico no Brasil era a base territorial. É um traço específico da bandidagem brasileira. Uma quadrilha controlava um morro no Rio, por exemplo, que então era fechado a outras quadrilhas. Aqui, também. Era a partir da base territorial que se negociava. Era isso que fazia, por exemplo, com que o crack não entrasse no Rio. Mas esse ano a gente viu que esse negócio foi detonado. O PCC passou a controlar financeiramente o tráfico carioca. Então, essas bases territoriais não existem mais. Continuam sob controle, mas não são fechadas ao jogo financeiro. O que existe hoje são redes de empresas do tráfico, sediadas em São Paulo, como as grandes empresas legais. Esse empresariado paralelo está no país todo e de forma organizada. Agora, para lidar com isso a gente também não pode ser hipócrita. É o óbvio: se existe tráfico, existem consumidores. Um sujeito que cheira pó, num apartamento de luxo na Vitória, não tem autoridade nenhuma para falar de tráfico e violência urbana. Ele tem que se ver como cúmplice, como partícipe do processo. Sem ele, o tráfico de drogas não existiria. Muita gente não tem consciência disso, fala como se o tráfico fosse uma coisa distante. Não é. Nós fazemos parte desse circuito comercial. Nós fazemos parte estruturalmente do tráfico de drogas. Nós somos o mercado.
O fato de ser uma briga territorial faz com que determinadas áreas das cidades, inclusive aqui em Salvador, sejam totalmente dominadas. Não entra polícia, nem serviços públicos, nem nada. Como se fosse um território estrangeiro.
E que foi criado graças à complacência dos poderes públicos, que nunca quiseram lidar com isso, sempre pactuaram, permitiram, e isso alimentado pelo conjunto da sociedade. Agora, é o seguinte. Essas bases territoriais distinguem o tráfico brasileiro do tráfico de Londres ou Nova York, por exemplo, onde você tem tráfico, mas não tem base territorial. E isso é uma coisa terrível aqui. Porque, com a base territorial, você tem comunidades controladas e pessoas que já nascem naquilo, né? Todo mundo sabe disso no Rio, mas não vejo ninguém discutindo isso em Salvador. Você vê como as coisas estão reduzidas aqui. Em relação a tudo. Passei esse ano em São Paulo e não tinha uma semana que eu não recebesse um manifesto para assinar. Aí você pensa, é a sociedade civil se movimentando e tal. Mas tudo era manifesto para preservar alguma coisa. Claro que há coisas há serem preservadas. Mas nem sempre era o caso. Não tem mais critério. Eu digo: até fogareiro de baiana do acarajé virou monumento histórico. Só tinha preocupação preservacionista e nenhum projeto para o presente ou para o futuro? Por outro lado, até entendo. As intervenções no espaço urbano de Salvador têm sido tão desastrosas que você se sente inclinado a preservar até tampinha de guaraná. Mas a cidade não pode ficar paralisada. Isso aqui precisa de uma puta sacudida. De onde, não sei.
Talvez do tráfico...
Vamos ver se essa meninada aí vem com alguma coisa. O que resta à gente é tentar transformar o que é possível transformar. Mas é difícil. Você apresenta um projeto, acham maravilhoso, mas não vai pra lugar nenhum. Nós estamos vivendo no reino da lábia.
O que é o reino da lábia?
Todo mundo fala, acha ótimo, faz um barulho, mas fica só nisso. Parece psicanalista, que acha que resolve tudo na conversa. Aqui, as pessoas conversam sobre um assunto e acham que o assunto foi resolvido. A conversa não é uma preliminar pra encarar o problema. O problema já se resolve na conversa. Quer dizer, a conversa é um âmbito auto-suficiente onde as coisas se resolvem. Deveria se fazer aqui o que o governador de Brasília fez. Proibiu o gerúndio: estamos fazendo, estamos construindo, estamos dando... Sempre estamos dando alguma coisa, mas cadê a coisa?
Antônio Risério, poeta e antropólogo
entrevista a Mário Kertész (Revista Metrópole, n. 17, novembro 2008)
Reprodução de "Terra Magazine"