Viviane Senna, comparou a situação do País à de um espadachim que deve travar duas lutas simultaneamente. De um lado, observou ela, a educação brasileira precisa superar desafios que já deveriam ter sido vencidos no século passado: é o caso da alfabetização das crianças e do ensino de matemática ou de pensamento lógico. De outro, as escolas têm de dar conta da formação dos alunos para o século 21. Aí entram as habilidades socioemocionais.
Não se trata, em hipótese alguma, de diminuir a ênfase nas disciplinas tradicionais. Por óbvio, é dever da escola assegurar que as crianças aprendam a ler e a escrever, a fazer contas e a raciocinar, adquirindo conhecimentos sobre a vida, a sociedade e o mundo. A questão, como bem destacou Viviane Senna, é que isso “deixou de ser a linha de chegada e agora é apenas a largada”. Ou seja, a educação tem que ir além do currículo tradicional. Não por modismo ou capricho, mas por uma imposição da realidade. Vale reproduzir um exemplo citado pela presidente do Instituto Ayrton Senna: no Japão, crianças nas turmas de educação infantil recebem brinquedos exageradamente grandes, de modo que precisem umas das outras para conseguir brincar. O objetivo, desde cedo, é estimular atitudes de colaboração.
No Brasil, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) enfatiza a importância das habilidades socioemocionais. Entre as dez competências gerais a serem desenvolvidas por todos os alunos da educação básica, há menções a “empatia”, “diálogo”, “resolução de conflitos”, “cooperação”, “respeito ao outro”, “flexibilidade” e “determinação”. A BNCC, documento que serve de referência para os currículos, preconiza também que os estudantes sejam capazes de tomar decisões a partir de “princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários”.
Fica evidente que as competências socioemocionais atendem a diferentes propósitos. Servem tanto para aumentar as chances de êxito dos jovens em sua futura carreira profissional quanto para reduzir a violência nas escolas. Ou mesmo para a construção de uma cultura de paz na sociedade, fortalecendo valores como o respeito pelo outro, algo que, infelizmente, anda em falta no País. Por ocasião do segundo turno das eleições presidenciais, colégios particulares em diferentes cidades registraram manifestações inaceitáveis de racismo, nazismo e ódio por parte de estudantes descontentes com o resultado das urnas. A esse propósito, como lembrou a colunista do Estadão Rosely Sayão, é tarefa concomitante da família e da escola contribuir para os processos de autonomia e socialização dos alunos. Maior ênfase às competências socioemocionais, nas salas de aula do Brasil inteiro, bem que poderia ajudar.
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