sábado, 2 de março de 2024

Extremo centro x extrema direita, a atual polarização política.

Extremo centro x extrema direita
piaui.folha.uol.com.br

A crise de representatividade, aliada às crises econômicas, chacoalharam o Ocidente. A extrema-direita soube aproveitar esse caldo e trazer como resposta ao moribundo Estado-nação uma vitalidade única de nacionalismo – forma o governo de países como os Estados Unidos, Turquia, Itália, Hungria, Polônia. Cresce significativamente em países como França, Holanda, Alemanha e Suécia. 

O populismo de direita, como é chamado por analistas, se baseia sempre em algum discurso de ódio quanto a alguma minoria e em combate ao establishment e seus valores amorais (no caso, são valores liberais).

Se, no passado, a extrema-direita era essencialmente anticomunista, hoje ela é antiliberal. A figura do barbudo militante comunista do passado foi substituída pela do burguês progressista e viajado, o vencedor da globalização.

Não à toa, o inimigo nº 1 desses movimentos é justamente um financista, o senhor George Soros, aluno de Karl Popper, talvez o mais brilhante pensador liberal do século XX. 

A extrema direita de hoje é contrária ao sistema de poderes e contrapoderes e ao modo de escrutínio. Bolsonaro é contrário aos direitos humanos, em outras palavras às liberdades individuais: defende a tortura e as execuções extrajudiciais (afirma que os direitos humanos são a razão para a crise de segurança pública). E também militantemente contrário à livre associação e à livre imprensa – esta última seus aliados chamam de fake news.

Bolsonaro recusa a evidência científica como base para a ação governamental, ao negar as mudanças climáticas e querer entregar a Amazônia para o extrativismo mais primário e grotesco.

Opõe-se a uma sociedade diversa e plural, o que se nota no combate que empreende ao que, estupidamente, chama de “ideologia de gênero”. Salvini, Trump, Erdogan, Orban, Putin, também têm o mesmo discurso. Em nenhum de seus países o alvo é a esquerda, mas sim o liberalismo.

O que está em jogo é a manutenção da ordem global liberal que parecia consolidada no momento da queda do Muro de Berlim e é agora desafiada pelos movimentos de extrema direita. 

É nesse sentido que surge uma disputa muito mais profunda do que a rixa esquerda versus direita: o embate entre extrema direita e extremo centro. 

A luta não é distributiva, é de visão de mundo, e se dá entre nacionalismo e a globalização, entre a ignorância provinciana e o cosmopolitismo elitista, quer dizer, entre barbárie e civilização.

(...)
Miguel Lago
É cientista político e diretor executivo do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (Ieps). Cofundador do Meu Rio e do Nossas, lecionou na Universidade Columbia em Nova York e na Sciences Po Paris

Artigo completo:
https://piaui.folha.uol.com.br/extremo-centro-x-extrema-direita/

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

7 hábitos que você precisa abandonar para ter mais equilíbrio e autoconfiança


7 hábitos que você precisa abandonar para ter mais equilíbrio e autoconfiança
Por Juliana Peixoto, mundoemrevista.com.br.
26 de February de 2024 


Comparar-se com os outros

Constantemente medir sua vida, conquistas e aparência em relação aos demais é prejudicial para a autoconfiança e equilíbrio emocional.

Cada indivíduo possui um caminho único e circunstâncias singulares. Em vez de se comparar, focar em suas próprias metas e avanços.

Criticar a si próprio

O excesso de autocrítica pode resultar em baixa autoestima e ansiedade. Importante cultivar uma voz interna compassiva e gentil.

Exercitar a autocompaixão e aprender a se perdoar, como perdoaria um amigo.

Depender de validação externa

Contar com a aprovação externa para se sentir bem consigo mesmo é uma armadilha comum. A verdadeira confiança vem de dentro.

Aprender a se valorizar independente das opiniões alheias. Buscar aprovação interna ao invés de validação externa.

Falar impulsivamente

Reações impulsivas em momentos de emoção podem levar a arrependimentos e conflitos. 

Refletir sobre suas palavras e como podem impactar os outros. Comunicar-se de forma assertiva e respeitosa, considerando as consequências do que é dito.

Desculpar-se em excesso

Pedir desculpas sem necessidade por questões triviais pode transmitir insegurança e enfraquecer sua autoridade. Reservar desculpas para situações genuínas e necessárias.

Não conseguir dizer ‘não’

Aceitar todas as demandas e solicitações alheias pode sobrecarregar e desequilibrar emocionalmente. Aprenda a estabelecer limites saudáveis e recusar quando necessário. Definir limites, sem culpa.

Ignorar o autocuidado

Negligenciar suas necessidades físicas, emocionais e mentais pode resultar em esgotamento e desequilíbrio.

Dedicar-se ao autocuidado, reservando tempo para atividades que recarreguem suas energias, como exercícios, hobbies, meditação ou simples descanso. Reconhecer a importância de cuidar de si.

Matéria completa:
https://mundoemrevista.com.br/7-habitos-que-voce-precisa-abandonar-para-ter-mais-equilibrio-e-autoconfianca/

domingo, 25 de fevereiro de 2024

Bauman examina crise da internet e da política

Redes sociais criaram redomas de pensamento único. Democracia é devastada por poderes globais. Há saídas, mas vivemos a “hora mórbida”

Zigmunt Bauman, entrevistado por Alessandro Gilioli, no L’espresso | 
Tradução: Antonio Martins

Zygmunt Bauman, o grande sociólogo teórico da “sociedade líquida” tem dedicado parte de suas reflexões recentes à internet – em particular, às redes sociais, acusadas de criar redes afetivas na verdade inexistentes. 

Professor Bauman, a sua crítica à internet é existencialista?

(...) a maior parte das pessoas usa a internet não para abrir a própria visão mas para fechar-se dentro de cercados, para construir “zonas de conforto”. 
(...) onde as pessoas vivem num tipo de mundo imaginário, sem controvérsias, sem conflitos, sem se expor às diferenças.

É claro que, graças à rede, pode-se hoje convencer as pessoas a ir às ruas manifestar-se contra qualquer coisa ou qualquer um, mas a incidência sobre o real destas mobilizações nascidas nas “zonas de conforto” é outro assunto. 

(...) segundo o senhor, não há uma relação entre a difusão da internet e os protestos anti-sistema?

Sim, há, mas a internet não é a causa, é só um veículo.  As causas dos partidos anti-sistema relacionam-se, na verdade, com a crise de confiança na democracia. 

(...), hoje os governos estão sob dupla pressão. 

De um lado, devem responder aos eleitores, que reivindicam dos políticos realizar o que prometeram; 

de outro, a realidade global interdependentes – os mercados as bolsas, a finança e outros poderes jamais eleitos por ninguém – impedem que estas promessas sejam mantidas. 

A crise de confiança nasce desta dupla pressão. Sentimos todos que agora as democracias não mais funcionam, mas não sabemos como ajustá-las ou com o quê substituí-las.

É disso que nascem os movimentos anti-sistema?

Diria, melhor, que é disso que nascem os sentimentos anti-sistema. 

As pessoas compartilham reações emotivas nas redes sociais e às vezes organizam-se, a partir dali, para ir às ruas e protestar. 

Gritam todas os mesmos slogans, mas na verdade têm interesses diversos e expectativas difusas. Depois, voltam para casa contentes pela fraternidade com os demais que se criou, mas é uma solidariedade falsa. 

Chamo-a de “solidariedade carnaval”, porque me lembra aqueles eventos nos quais, por quatro ou cinco dias, coloca-se a máscara, canta-se e dança-se junto, fugindo por um tempo limitado da ordem das coisas. 

Estes protestos permitem a explosão coletiva de problemas diversos, e de demandas individuais, por um lapso breve de tempo, como no carnaval – mas a raiva não se transforma em mudança compartilhada.

Alguns partidos, que ao menos canalizam estes sentimentos, são muito distintos entre si. Que pensa a respeito?

Também estes partidos encontram-se diante da crise da democracia da qual falávamos. 

E a esta crise respondem tanto os que buscam reforçar a democracia quanto os que propõem, em vez disso, um “homem forte”, ou qualquer forma de fundamentalismo político-religioso. 

De resto, se as democracias não são capazes de realizar as expectativas, não surpreende que se busque alguém a quem atribuir uma função salvadora, o homem “de pulso” que parece capaz de realizar o que as democracias não sabem cumprir.

Um exemplo recente é Donald Trump: hoje, muitos eleitores norte-americanos seduzem-se por quem ataca as instituições democráticas e zomba de sua representação. 

Esta ruptura de confiança na democracia explica também a característica “populista” que tem sido atribuída aos movimentos anti-sistema? O senhor está de acordo com esta definição?

“Populistas”, na política, são sempre os outros, os adversários. 

Na verdade, qualquer bom partido deveria ser “populista” – ou seja, escutar o que pensam e o que pedem as pessoas comuns, os cidadãos. 

No entanto, no debate político a palavra é usada em sentido pejorativo. Não me preocupa a suposta ameaça do “populismo”, mas a possível resposta autoritária à crise da democracia.

Mas por que em alguns países, como na França, o protesto anti-sistema derivou à direita e em outros, como a Espanha, à esquerda?

Porque estamos num interregno, para citar Gramsci. Ele dizia que “se o velho morre e o novo não nasce, neste interregno ocorrem os fenômenos mórbidos mais diversos”. Hoje, os velhos instrumentos não funcionam mais; mas os novos ainda não existem. 

Direita e esquerda eram conceitos plenos de significado há poucas décadas, mas são muito menos na complexidade policêntrica do presente.

Em que consiste esta complexidade policêntrica?

Depois da queda do Muro de Berlim, alguns pensadores levantaram a hipótese do fim da História, do fim dos conflitos políticos, no interior de um sistema liberal-capitalista pacífico e definitivo.

Erraram. O planeta está muito mais dividido e conflituoso que antes, cheio de choques locais mais difíceis de compreender, se comparados com os que ocorriam entre os dois blocos. 

Antes, o confronto era entre conservadores e progressistas, entre quem queria uma sociedade baseada no lucro e quem a queria assentada na cooperação. Hoje, os conflitos são até maiores, mas menos simples e menos puros.

(...)  muitos políticos herdeiros da esquerda apavoram-se com a ideia de irritar as bolsas, os mercados, a finança – em suma, os poderes que podem colocar um país de pernas para o ar em um dia. 

Por isso, mudam de tema. Por exemplo, autodefinem-se de esquerda os políticos favoráveis ao casamento homossexual. Bonito, justo, de acordo, mas o que tem a ver com o significado de esquerda? O que tem a ver com a justiça social, que era a razão de ser da esquerda.

Matéria completa:
1/03/2016

http://outraspalavras.net/capa/bauman-examina-crise-da-internet-e-da-politica

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

6 coisas que podem melhorar seu humor — e que não envolvem dieta ou exercício


6 coisas que podem melhorar seu humor — e que não envolvem dieta ou exercício
bbc.com | 18 de February de 2024

Embora praticar exercícios e manter uma dieta saudável sejam estratégias reconhecidas que contribuem para melhorar o estado de ânimo, elas não são as únicas ferramentas disponíveis para alcançar esse resultado.

O jornalista da BBC e médico, Michael Mosley, compartilha em seu programa de rádio da BBC Radio 4, chamado "Apenas Uma Coisa", muitas outras ações que podemos realizar para aprender a viver mais felizes. Aqui estão algumas de suas recomendações para melhorar o humor.

1. Escrever

Se você está com muitas preocupações, ficará surpreso ao descobrir que colocá-las no papel pode ser uma maneira eficaz de superá-las.

Ao dedicar apenas 15 minutos à prática conhecida como "escrita expressiva", é possível reduzir pensamentos negativos e o estresse, aprimorar o humor, o sono, o sistema imunológico e até mesmo a memória. Os benefícios podem começar a ser percebidos em apenas uma semana.

2. Afaste-se do seu telefone

Provavelmente você sabe que o uso excessivo do telefone celular pode ser prejudicial para sua saúde mental, sono e produtividade.

Um estudo realizado na Alemanha mostrou que as pessoas que reduziram o uso do telefone em apenas uma hora por dia se sentiram menos ansiosas e mais satisfeitas com a vida. 

3. Compre plantas para sua casa

As plantas de interior não apenas contribuem para deixar um ambiente mais bonito, especialmente aqueles sem vistas, mas também melhoram a qualidade do ar e podem aprimorar o bem-estar, a memória e a produtividade.

4 . Cantar

Pode ser que você aprecie cantar no chuveiro ou talvez com o rádio no carro, mas sabia que ao fazer isso também está liberando uma variedade de substâncias químicas que contribuem para os sentimentos de felicidade?

Exemplos incluem endorfina, dopamina, serotonina e oxitocina; além de endocanabinoides, compostos químicos que têm ações semelhantes às do componente ativo da planta de cannabis.

Consequentemente, cantar pode ter uma ampla gama de efeitos psicológicos significativos, ajudando a desenvolver a autoconfiança, reduzir a solidão e impactar positivamente nos níveis de ansiedade.

5. Aprenda uma nova habilidade

Quando você se concentra na tarefa em mãos, pode entrar no que é conhecido como estado de fluxo, ou a "zona", onde está completamente imerso no momento. Isso acalma a parte frontal do seu cérebro, o que geralmente ajuda a analisar e questionar menos o seu próprio comportamento, diminuindo assim o julgamento das suas ações.

6. Conte as coisas pelas quais você é grato

Isso pode até ter parecer antiquado, mas há uma base científica sólida por trás da afirmação de que cultivar o hábito de expressar gratidão não só fará você se sentir melhor, mas também pode reconfigurar seu cérebro.

Em um estudo em que as pessoas foram instruídas a cultivar sentimentos de gratidão, os pesquisadores observaram uma maior ativação na região da córtex pré-frontal, associada à tomada de decisões e recompensa social.

Para experimentar os benefícios e começar a transformar seu padrão de pensamento de negativo para positivo, tente simplesmente pensar em três coisas pelas quais você é grato em um dia, seja uma gratidão geral ou interações positivas com os outros.

Artigo completo:

https://www.bbc.com/portuguese/articles/cz9m2rldq01o.amp?

sábado, 17 de fevereiro de 2024

O preconceito — atalho para o radicalismo e o autoritarismo


Carta ao Leitor: A beleza das diferenças
veja.abril.com.br

O preconceito — atalho para o radicalismo e o autoritarismo, chagas da humanidade — foi sempre um capítulo trágico na história da civilização. Na trilha do tom de superioridade, como se uns fossem melhores do que outros, os grupos majoritários impuseram ao longo dos séculos a mão de ferro contra os minoritários, em jogo permanente de poder. 

É longa a lista de classes instadas a ficar quietas, caladas, à margem da sociedade: os negros, os homossexuais, as mulheres… 

A visão de mundo hegemônica dos que têm poder representou, desde sempre, o caminho mais curto para a opressão, as guerras e os genocídios — alguns evidentes, outros silenciosos, mas igualmente perniciosos.

Da ruína moral, depois de séculos de manutenção das coisas como elas são, brotaram nos últimos anos bandeiras saudáveis que fizeram mover as placas tectônicas. 

Nos anos 1960, as mulheres saíram às ruas exigindo isonomia com os homens, de sutiã em mãos. Os movimentos pelos direitos civis, nos Estados Unidos, iluminaram a dor contida e o pedido de espaço dos negros, que, na voz de Martin Luther King, tinham um sonho. Mais recentemente, como resposta ao assédio sexual dos tubarões de Hollywood contra as atrizes, surgiu o #MeToo, denunciando agressões. Novas legislações, inclusive no Brasil, autorizam o casamento homoafetivo. 

Nesse aspecto, o da grita contra as injustiças e os abusos, em nome de igualdade, simples assim, o mundo melhorou — embora a estrada ainda seja longa e sinuosa.

Celebrem-se, portanto, a inteligência e a força de quem se mexeu para brigar, fazendo andar a roda da sensatez. 

A diversidade é inegociável, como bem vimos no Carnaval. Contudo, e como constatação de que o ser humano é complexo, demasiadamente complexo, a bandeira de direitos justíssimos produziu exageros — e, em alguns casos, fez com que os defensores de boas posturas se comportassem como as pessoas a quem
acusam, de dedos em riste, em patrulha multiplicada. 

Não é fácil, mas convém estar atento às fronteiras — até onde devemos ir? — das necessárias posturas politicamente corretas, que apontam caminhos e sugerem inclusive um modo diferente de usar as palavras (e não é o caso de temê-las ou desdenhá-las).

Nos Estados Unidos, o termo woke (passado do verbo acordar, despertar) nasceu no seio da comunidade afro-­americana, em vigília contra a injustiça racial. Trata-se, portanto, em sua origem, de expressão cultural criada para ampliar o questionamento das normas opressoras historicamente impostas pela sociedade. 

Não demorou, contudo, para que o woke fosse adotado pelo outro lado, em forma de acusação — para essa turma conservadora, woke descreveria os supostos hipócritas que acreditam ser moralmente superiores e querem impor suas ideias progressistas aos demais. 

E então, de um rastilho fundamental e correto — o não ao racismo —, brotou o quase oposto, como se a defesa do direito de viver engendrasse um outro tipo de hegemonia, em conflito de versões intransigentes. 

Não pode ser assim. A sabedoria é não transformar o outro em inimigo, aceitar o diferente sem ódio e polarização — e não erguer na compulsória luta contra a discriminação um outro muro intransponível.

Publicado em VEJA de 16 de fevereiro de 2024, edição nº 2880

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

Austeridade sustentáculo do moderno

Capitalismo é incompatível com democracia, diz italiana que pesquisa austeridade
folha.uol.com.br | February de 2024 

Clara E. Mattei, 35
Doutora em economia, é professora do Departamento de Economia da New School for Social Research (Nova York)

Celebrado por figurões como Thomas Piketty e Martin Wolf, o livro "A Ordem do Capital" propõe uma nova maneira de enxergar as políticas de austeridade adotadas por diferentes países.

Não como uma exceção impopular e dolorosa usada só para reduzir o déficit orçamentário em momentos de maior desequilíbrio nas contas públicas, mas como "o sustentáculo do capitalismo moderno", segundo a italiana Clara Mattei.

No livro, a pesquisadora volta à década de 1920 para mostrar como a austeridade surgiu depois da Primeira Guerra Mundial em países como Inglaterra e Itália, quando trabalhadores organizados cobravam mais direitos sociais.

Para Mattei, a austeridade foi naquela época —e continua sendo hoje— "uma reação antidemocrática às ameaças de mudança social vindas de baixo para cima". Daí o subtítulo da obra: "Como economistas inventaram a austeridade e abriram caminho para o fascismo".

Em entrevista à Folha, ela diz que "as decisões econômicas são em grande parte decisões políticas", mas que o "capitalismo é incompatível com a democracia no sentido de participação das pessoas nas decisões econômicas".

Em seu livro, a sra. afirma que os programas de austeridade devem ser vistos não como exceção, mas como o sustentáculo do capitalismo moderno. Qual o ganho analítico dessa perspectiva?
Minha definição tem a vantagem de ser uma definição política, na qual fica claro quem ganha e quem perde com as políticas de austeridade. Essa definição tenta ir além da ideia de que a austeridade seja apenas a redução do tamanho do Estado.

Falar em "menos Estado" é uma maneira muito ideológica de entender a história do capitalismo e nossa situação econômica atual. O ponto não é ver se o Estado gasta menos, mas onde o Estado gasta. Porque austeridade não significa menos Estado, mas Estado gastando a favor das elites em detrimento da maioria da população.

A trindade de políticas de austeridade —fiscal, monetária e industrial— tem o objetivo de enfraquecer os sindicatos e manter os trabalhadores sob controle. E isso enquanto o Estado gasta muito dinheiro no complexo industrial militar, por exemplo, ou subsidiando e desonerando investimentos privados em energia verde, ou resgatando bancos.

Sua pesquisa volta aos anos 1920 para detectar as origens da austeridade na Inglaterra e na Itália. O que explica o surgimento desse receituário?
A austeridade não é um produto da exceção do sistema neoliberal. O que tento mostrar é como, na verdade, a austeridade é funcional e estrutural para o capitalismo. Ela é particularmente útil quando as pessoas querem um sistema econômico alternativo, querem mais direitos sociais. Aí a austeridade é muito importante para a elite, a fim de preservar o status quo.

Após a Primeira Guerra Mundial [1914-1918], isso ficou muito claro, porque foi um momento em que, no coração do capitalismo, os cidadãos estavam exigindo sociedades pós-capitalistas, rompendo com as relações salariais, rompendo com a propriedade privada dos meios de produção em favor da democracia econômica. Ou seja, as pessoas queriam a participação dos trabalhadores no processo de produção e distribuição. Foi aí que a austeridade nasceu.

O subtítulo do livro faz uma ligação forte entre austeridade e fascismo, mas a Inglaterra não teve um governo fascista. É possível generalizar a conexão?
A questão é mostrar que Mussolini se tornou tão poderoso porque ele era muito bom em implementar a austeridade, exatamente as mesmas políticas que os liberais na Itália, nos Estados Unidos e no Reino Unido estavam patrocinando.

A capacidade de subjugar os trabalhadores, de fazê-los aceitar salários mais baixos e parar com as greves; a capacidade de privatizar, de cortar gastos sociais e revalorizar a lira: tudo isso fez de Mussolini quem ele se tornou, um ditador fascista que permaneceu no governo por mais de 20 anos.

O capitalismo é bastante incompatível com a democracia no sentido de participação das pessoas nas decisões econômicas e na distribuição de recursos.

Claro que o capitalismo é compatível com a democracia eleitoral, mas isso é superficial. No capitalismo contemporâneo, você pode se tornar fascista para apoiar as prioridades da economia. Foi o que aconteceu na Itália sob Mussolini, no Chile sob Pinochet e é o que está acontecendo agora na Argentina com Milei.

Em outros países não é tão diferente, se você olhar para a necessidade de proteger as decisões econômicas da interferência das pessoas. E isso é feito com a independência do Banco Central, com a ideia de colocar orçamentos equilibrados na Constituição, com mecanismos técnicos que têm o mesmo efeito de desdemocratizar a economia.

Há uma tensão entre capitalismo e democracia. Os governos fascistas, obviamente, são antidemocráticos. Mas o que é generalizável é que as supostas democracias liberais também têm tendências antidemocráticas que se associam muito mais ao fascismo do que se costumava pensar.

Que lições podem ser tiradas em relação à extrema direita hoje?
Os governos de extrema direita são muito bons em implementar a austeridade e, por esse motivo, ganham a confiança do mercado e são vistos com bons olhos pelos tecnocratas internacionalmente.

Mas o contexto agora é muito diferente. Quando Mussolini chegou ao poder, ele estava lá explicitamente para esmagar quem estava se mobilizando. Hoje, as pessoas votam em governos de extrema direita porque foram desempoderadas por um século de políticas de austeridade.

O sucesso da austeridade está em nos individualizar, nos tornar muito precários, nos tornar muito inseguros, para que não sintamos que estamos unidos como trabalhadores. A razão pela qual esses governos de extrema direita chegam ao poder é porque, em última instância, representam a expressão da insatisfação com o atual sistema econômico, que as pessoas entendem como um sistema a favor dos ricos e poderosos.

O problema é que as pessoas votam na direita, mas a direita é melhor em implementar a austeridade.

No Brasil, políticas de austeridade não são exclusivas de governos de direita. Por que isso acontece?
Essa é outra lição muito importante que podemos tirar do estudo histórico: infelizmente, a austeridade atravessa as linhas partidárias. É a expressão do falso pluralismo na economia que nossas democracias eleitorais apresentam. Elas nos dão a impressão de que, se votarmos em Lula em vez de Bolsonaro, teremos uma completa mudança nas políticas econômicas, mas é mais complicado do que isso.

Sob o capitalismo, a prioridade de qualquer governo, de direita ou de esquerda, é garantir os fundamentos para a acumulação de capital, o que significa não perturbar os investidores privados.

Então não podemos pensar que votamos uma vez a cada quatro anos e nosso trabalho está feito, porque existem pressões muito fortes vindas do mercado. Se o povo brasileiro, como qualquer outro povo, quiser uma mudança social séria, precisa lutar por isso.

Se você olhar historicamente, perceberá que há muito mais potencial para sistemas econômicos alternativos do que estamos acostumados a pensar, porque o objetivo principal dos economistas no poder é nos dizer que não há alternativa possível.

As alternativas existem, mas, para obtê-las, não basta eleger alguém que diga que fará algo diferente. Precisamos de uma participação maior do povo na economia.

Mas como escapar da lógica que comanda a economia em escala global hoje em dia?
A mensagem principal que emerge do livro é que as decisões econômicas são em grande parte decisões políticas, no sentido de que não há nada que seja uma necessidade técnica. São decisões políticas que acontecem dentro de um sistema que funciona sob pressões específicas.

Você pode ir contra essas pressões, mas terá de arcar com as consequências. Essa mudança não acontecerá suavemente. Se você quiser realmente subverter o Estado capitalista de dentro, você precisa entender que não vai ser fácil.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

6 atitudes que entregam se uma pessoa tem caráter ou não

6 atitudes que entregam se uma pessoa tem caráter ou não

de Redação, muzambinho.com.br
5 de February de 2024

Há certos comportamentos indicam se alguém possui uma índole sólida ou se é mau caráter

Ao observar essas características no indivíduo, podemos ter uma boa indicação se ele tem caráter e da confiabilidade como ser humano. 

6 atitudes que entregam se uma pessoa tem caráter ou não

1. Agem de acordo com os próprios discursos
A verdadeira essência de alguém é revelada pela consistência entre o que essa pessoa diz e o que ela faz.

Quando a pessoa é confiável e tem caráter, ela não apenas fala sobre os valores e princípios, mas também os vivenciam em suas ações diárias.

2. Honestidade nas ações
Aqueles que prezam pela sua imagem íntegra não mentem e enganam os outros, mesmo quando seria conveniente, mostrando que até em momentos oportunos segue os próprios valores.

Eles mantêm a integridade em todas as áreas da vida, seja no trabalho, nos relacionamentos ou em situações cotidianas, afinal, a honestidade é uma característica fundamental do caráter.

3. Assume a responsabilidade por seus atos
Indivíduos que assumem responsabilidade por suas escolhas e comportamentos, sem tentar culpar os outros pelos próprios erros, são exemplos a serem seguidos e provam que têm caráter.

4. Respeito em qualquer ocasião
Seguindo a lista,uma característica chave para identificar quem tem caráter, é observando o respeito que possuem em qualquer situação, não apenas pelos outros, mas também por si mesmos.

5. Compaixão pelas experiências dos outros
Pessoas com caráter demonstram empatia pela jornada de terceiros, além ter profunda compaixão pelas vivências dos outros.

Elas são capazes de colocar-se no lugar do outro e compreender as emoções e dificuldades que foram enfrentadas, sendo uma qualidade que reflete o senso de humanidade e responsabilidade afetiva.

6. Fortes princípios morais
Por fim, a integridade moral anda lado a lado com quem tem caráter.

Eles agem de acordo com os princípios morais mesmo sob pressão, mantendo a integridade mesmo quando ninguém está observando, pois acreditam que é a coisa certa a fazer.

Artigo completo:
https://muzambinho.com.br/2024/02/05/6-atitudes-que-entregam-se-uma-pessoa-tem-carater-ou-nao

terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

Uma cacetadazinha do ego

Todo complexo que  faz uma oposição ao ego, é, neste sentido, um inimigo. Mas ele só é um inimigo porque ele não está integrado à sua consciência.

Ele não é um inimigo que quer te destruir e nem acabar com a sua vida. 
Ele é um inimigo que incomoda porque ele quer ser reconhecido por você. 

Ele quer que você o olhe, quer que você o acolha, que você perca um tempo com ele para compreendê-lo, que você devote alguns minutos do seu dia para ouvi-lo, para sentir o que ele sente e você saber que dói. 

É sua parte abandonada, é a sua parte deixada de lado, é aquela parte que você não tem solidariedade com ela. Você tem solidariedade com o vizinho que enche os seus ouvidos de problemas. Mas você não tem solidariedade com seu complexo inconsciente que deseja a sua atenção para voltar a participar da sua consciência.

Você percebe como somos ou podemos ser bem cruéis com nós mesmos?

Houve um homem que disse para a gente  amar as outras pessoas. Mas vocês devem primeiro amar a vocês mesmos. Jesus falou que se você não gostar de você mesmo, não há meio para você gostar de outras pessoas. 
O mestre disse em Mateus 23 - 39:
'Amarás o Teu Próximo como a Ti Mesmo'.

Se vocês tiverem ódio de vocês e praticarem amor ao próximo, não será amor ao próximo será uma fuga do seu auto-ódio. 

Você não pode fugir de você e ser altruísta porque isso é contrário a autenticidade do indivíduo.  E a nossa função última é sermos autênticos com a nossa vida.

Aliás, ela é só isso. É olhar a sequência de acontecimentos da nossa vida e o prêmio para a nossa autenticidade é olhar para ela sem se assombrar ou sem rejeitá-la.   

Do contrário transborda a cena que alguns não querem ver. 

De fato, deve ser muito doloroso para alguns trazerem para a superfície descobertas que jurariam que não tem nada a ver com eles. Aquilo ali é melhor não ver.  Por isso preferem viver na alienação (ou alucinação?), na convicção dos seus próprios Fake News.