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terça-feira, 28 de agosto de 2018

Frases Bauman

“Vivemos tempos líquidos. Nada é para durar”.

“Na era da informação, a invisibilidade é equivalente à morte”.

"Nenhuma sociedade que esquece a arte de questionar pode esperar encontrar respostas para os problemas que a afligem."

A premonição de Zygmunt Bauman:

“Foi uma catástrofe arrastar a classe média à precariedade. O conflito não é mais entre classes, é de cada um com a sociedade”.

Uma releitura de Zygmunt Bauman

O movimento dos camisas amarelas, de 2013 é emocional, carece de pensamento.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Uma devastadora crítica à moda, por Zygmunt Bauman:

A moda coloca todo estilo de vida em estado de permanente e interminável revolução.

A moda tem o papel de operador chefe da transformação da mudança constante do modo de vida humano.

Atual forma da moda é definida pela colonização e exploração, pelos mercados de consumo, desse aspecto da condição humana.

A moda é um dos principais motores do "progresso" (ou seja, tipo de mudança que diminui, difama e, outras palavras, desvaloriza tudo aquilo que ela deixa atrás de si e substitui por algo novo).

A moda associada ao "progresso" em um processo irrefreável, sem relação com nossos desejos e indiferente a nossos sentimentos - um processo cuja força irresistível e insuperável exige nossa humilde submissão segundo o princípio de "Se não pode vencê-los, junte-se a eles".

O progresso segundo as crenças instiladas pelos mercados de consumo, é uma ameaça mortal ao preguiçoso, ao imprudente e ao indolente. O imperativo de "juntar-se ao progresso" é inspirado pelo desejo de escapar do espectro da catástrofe pessoal causada por fatores sociais, impessoais, cujo hálito podemos sentir constantemente sobre nossa nuca. Ele evoca a chave do "voo para o futuro".

O progresso, em suma passou do discurso da melhoria compartilhada da existência para o discurso da sobrevivência pessoal. Pensamos em "progresso" não no contexto de elevar nosso status, mas de evitar o fracasso. Se você não quer afundar, deve continuar mudando o guarda-roupa, a mobília, a aparência e os hábitos - em suma, você.

Uma vez que os esforços coordenados e resolutos do mercado de consumo fizeram com que a cultura fosse subjugada pela lógica da moda, torna-se necessário - para ser uma pessoa e ser visto como tal - demonstrar sua capacidade de ser outra. O modelo pessoal da busca da identidade torna-se o camaleão.

Não é preciso acrescentar, já que seria óbvio, que a mudança de foco da posse para o descarte e alienação de coisa se encaixa perfeitamente na lógica de uma economia orientada para o consumo. Uma economia cuja condição "sine qua non" de sobrevivência, é o descarte rápido, e cada vez mais abundante, na lata do lixo, dos bens comprados.

Trecho do livro "A cultura no Mundo Líquido Moderno", de Zygmunt Bauman

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Diferença de rede social e comunidade

"A diferença entre a comunidade e a rede é que você pertence à comunidade, mas a rede pertence a você.

É possível adicionar e deletar amigos, e controlar as pessoas com quem você se relaciona. Isso faz com que os indivíduos se sintam um pouco melhor, porque a solidão é a grande ameaça nesses tempos individualistas.

Mas, nas redes, é tão fácil adicionar e deletar amigos que as habilidades sociais não são necessárias. Elas são desenvolvidas na rua, ou no trabalho, ao encontrar gente com quem se precisa ter uma interação razoável. Aí você tem que enfrentar as dificuldades, se envolver em um diálogo.

O diálogo real não é falar com gente que pensa igual a você.

As redes sociais não ensinam a dialogar porque é muito fácil evitar a controvérsia… Muita gente as usa não para unir, não para ampliar seus horizontes, mas ao contrário, para se fechar no que eu chamo de zonas de conforto, onde o único som que escutam é o eco de suas próprias vozes, onde o único que veem são os reflexos de suas próprias caras. As redes são muito úteis, oferecem serviços muito prazerosos, mas são uma armadilha.


Zygmunt Bauman

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Diferença de rede social e comunidade

"A diferença entre a comunidade e a rede é que você pertence à comunidade, mas a rede pertence a você.

É possível adicionar e deletar amigos, e controlar as pessoas com quem você se relaciona. Isso faz com que os indivíduos se sintam um pouco melhor, porque a solidão é a grande ameaça nesses tempos individualistas.

Mas, nas redes, é tão fácil adicionar e deletar amigos que as habilidades sociais não são necessárias. Elas são desenvolvidas na rua, ou no trabalho, ao encontrar gente com quem se precisa ter uma interação razoável. Aí você tem que enfrentar as dificuldades, se envolver em um diálogo.

O diálogo real não é falar com gente que pensa igual a você.

As redes sociais não ensinam a dialogar porque é muito fácil evitar a controvérsia… Muita gente as usa não para unir, não para ampliar seus horizontes, mas ao contrário, para se fechar no que eu chamo de zonas de conforto, onde o único som que escutam é o eco de suas próprias vozes, onde o único que veem são os reflexos de suas próprias caras. As redes são muito úteis, oferecem serviços muito prazerosos, mas são uma armadilha.


Zygmunt Bauman

Diferença de rede social e comunidade

"A diferença entre a comunidade e a rede é que você pertence à comunidade, mas a rede pertence a você.

É possível adicionar e deletar amigos, e controlar as pessoas com quem você se relaciona. Isso faz com que os indivíduos se sintam um pouco melhor, porque a solidão é a grande ameaça nesses tempos individualistas.

Mas, nas redes, é tão fácil adicionar e deletar amigos que as habilidades sociais não são necessárias. Elas são desenvolvidas na rua, ou no trabalho, ao encontrar gente com quem se precisa ter uma interação razoável. Aí você tem que enfrentar as dificuldades, se envolver em um diálogo.

O diálogo real não é falar com gente que pensa igual a você.

As redes sociais não ensinam a dialogar porque é muito fácil evitar a controvérsia… Muita gente as usa não para unir, não para ampliar seus horizontes, mas ao contrário, para se fechar no que eu chamo de zonas de conforto, onde o único som que escutam é o eco de suas próprias vozes, onde o único que veem são os reflexos de suas próprias caras. As redes são muito úteis, oferecem serviços muito prazerosos, mas são uma armadilha.


Zygmunt Bauman

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

A dissimulação

"Toda imagem de si mesmo se parte numa coleção de instantâneos.

Nesse mundo, os laços são dissimulados em encontros sucessivos, as identidades em máscaras sucessivamente usadas, a história da vida como uma série de episódios.

Essa é a identidade que se ajusta ao mundo em que a arte de trocar e esquecer de torna mais importante do que guardar e cuidar. Tudo é como efêmero e passageiro.

Nada pode ser reconhecido como segurança, nada que se possa considerar sólido e digno de confiança.

Viver nessas condições de esmagadora incerteza é uma experiência inteiramente distinta da vida em sociedade ao lado do colapso de qualquer que seja o sentido de identidade e vida familiar ou coletiva. Um mundo de cada um por si."

Zygmunt Bauman

sexta-feira, 7 de julho de 2017

A Cultura no Mundo Líquido Moderno

Há cerca de dois séculos nascia o conceito de cultura, designado um estágio de conhecimento a ser atingido por toda a humanidade. Com ele surgia o moderno Estado-nação, responsável por organizar e administrar a economia, a política e a sociedade, e definia-se também o papel dos intelectuais da educação e na formação cultural dos povos.

Em nossa era líquido-moderna, na qual todas as hierarquias se dissolvem e os indivíduos passam de produtores a consumidores, todo esse arcabouço se desfaz.

A cultura já não é humana, mas de grupos, de guetos, e a agenda contemporânea põe na ordem do dia temas como cidadania, direitos humanos e convivência.

Mas que lutar pelos direitos da diferença, deveríamos nos empenhar pelo direito à igualdade.

Zygmunt Bauman

sábado, 10 de janeiro de 2015

"A Arte da Vida", por Bauman

"No mundo pós-romântico", como assinalam Ehrenreich e English,   

em que os antigos vínculos não mais se sustentam, tudo que interessa é você: você pode ser o que quiser; você escolhe sua vida, seu ambiente, até mesmo sua aparência e suas emoções. ... As velhas hierarquias de proteção e dependência não existem mais, só existem contratos abertos, rescindidos livremente. O mercado, que há muito tempo se expandiu para incluir as relações de produção, agora se expandiu para abarcar todos os relacionamentos. 

 "A cultura do sacrifício está morta", declarou bruscamente Gilles Lipovetsky no posfácio de 1993 a seu estudo pioneiro, de dez anos antes, sobre o individualismo contemporâneo. "Deixamos de nos reconhecer na obrigação de viver em nome de qualquer coisa que não nós mesmos." 

Não que tenhamos ficado surdos às nossas preocupações com os infortúnios de outras pessoas, ou com o triste estado do planeta, nem que tenhamos deixado de ser sinceros sobre tais ansiedades.  

Também não deixamos de declarar nossa disposição de agir em defesa dos oprimidos, assim como na proteção do planeta que eles compartilham conosco, nem de atuar (ao menos ocasionalmente) a partir dessas declarações.  

O oposto parece ser o caso: a ascensão espetacular da auto-referencialidade egoística, paradoxalmente, caminha de par com uma crescente sensibilidade à miséria humana, a execração da violência, dor e sofrimento que afligem o mais distante dos estranhos, e as erupções regulares de caridade focalizada (terapêutica).  

Mas, como Lipovetsky corretamente observa, esses impulsos morais e essas explosões de magnanimidade são casos de "moralidade indolor", moralidade privada de obrigações e sanções executivas, "adaptada à prioridade do Ego". Quando se trata de agir "em nome de outra coisa que não de si mesmos", as paixões, o bem-estar e a saúde física do Ego tendem a ser tanto as considerações preliminares quanto as derradeiras. Também tendem a estabelecer os limites do caminho que estamos preparados para percorrer em nossa disposição de ajudar.  

Via de regra, as manifestações de devoção àquele "algo (ou alguém) que não nós mesmos", ainda que sinceras, apaixonadas e intensas, não chegam ao auto-sacrifício.  

Por exemplo, a dedicação à causa verde dificilmente chega a ponto de se adotar um estilo de vida ascético, ou mesmo uma forma parcial de abnegação. Com efeito, longe de estarmos prontos a renunciar a um estilo de vida caracterizado pela tolerância consumista, frequentemente relutaremos em aceitar o menor inconveniente pessoal.  

A força-motriz de nossa indignação tende a ser o desejo de um consumo superior, mais protegido e mais seguro. No resumo de Lipovetsky, "o individualismo disciplinar e militante, heroico e moralizante" deu lugar ao "individualismo à la carte", "hedonista e psicológico", que "faz das realizações íntimas o propósito principal da existência".  Parece que não sentimos mais que temos uma tarefa ou missão a desempenhar no planeta, e aparentemente não há nenhum legado que nos sintamos obrigados a preservar, por termos sido nomeados seus guardiões. 

 A preocupação com a forma como o mundo é administrado deu lugar à preocupação com a “auto-administração”. Não é a situação do mundo, juntamente com seus habitantes, que tende a nos incomodar e a nos deixar preocupados, mas sim aquilo que é de fato um produto final da reciclagem de seus ultrajes, futilidades e injustiças em desconfortos espirituais e inconstâncias emocionais que prejudicam o equilíbrio psicológico e a paz de espírito do indivíduo interessado.  

Isso pode ser, como Christopher Lasch foi um dos primeiros a observar e articular, o resultado de transformar "queixas coletivas em problemas pessoais suscetíveis à intervenção terapêutica".   

"Os novos narcisistas", como Lasch memoravelmente chamou os "homens psicológicos" capazes de perceber, esmiuçar e avaliar a condição do planeta unicamente através do prisma dos problemas pessoais, são "assombrados não pela culpa, mas pela ansiedade". Ao recordarem suas experiências "interiores", eles "procuram não fornecer um relato objetivo de um fragmento representativo da realidade, mas seduzir outros" a lhes darem "sua atenção, aplauso ou simpatia", e assim sustentar seu inseguro senso de eu [self]. A vida pessoal tornou-se parecida com a guerra e tão cheia de estresse quanto o próprio mercado. O coquetel "reduz a sociabilidade ao combate social". 

 Sem muito mais em que basear a ansiada segurança de sua posição social, ressoando como autoconfiança e autoestima, exceto os ativos pessoais de propriedade pessoal ou a serem adquiridos pessoalmente, não admira que as demandas por reconhecimento, como diz Jean-Claude Kaufmann, "inundem a sociedade". "Todo mundo busca ansiosamente a aprovação, a admiração ou o amor nos olhos dos outros." E observemos que as bases para a autoestima fornecidas pela "aprovação e admiração" de outros são notoriamente frágeis. Como se sabe, os olhos se movem, e as coisas sobre as quais eles recaem ou pelas quais deslizam são conhecidas por sua propensão a virar e revirar de maneiras impossíveis de prever, de modo que o impulso e compulsão de "observar atentamente" na verdade nunca cessam. O calor da vigilância atual pode muito bem transformar a aprovação e aclamação de ontem na condenação e no ridículo de amanhã.  

http://books.google.com.br/books?id=0W5mFKYJCcYC&pg=PA57&lpg=PA57&dq=No+mundo+p%C3%B3s-rom%C3%A2ntico%22,+como+assinalam+Ehrenreich+e+English,&source=bl&ots=aMdGKceqt1&sig=JOMjY0yzg2aCscdILV6WBN7CCkI&hl=pt-PT&sa=X&ei=hW7uUfGlEpTi8gTn44H4Bg&ved=0CC0Q6AEwAA#v=onepage&q=No%20mundo%20p%C3%B3s-rom%C3%A2ntico%22%2C%20como%20assinalam%20Ehrenreich%20e%20English%2C&f=false

domingo, 7 de julho de 2013

Zygmunt Bauman, trecho do Capítulo 1 - O que há de errado com a felicidade? - do livro "A Arte da Vida"

E, no entanto, essa pergunta é feita por Michael Rustin,(1) assim como o foi anteriormente, e com certeza o será no futuro, por pessoas preocupadas - e Rustin explica o motivo: sociedades como a nossa, movidas por milhões de homens e mulheres em busca da felicidade, estão se tornando mais ricas, mas não está claro se estão se tornando mais felizes. Parece que a busca dos seres humanos pela felicidade pode muito bem se mostrar responsável pelo seu próprio fracasso. Todos os dados empíricos disponíveis indicam que, nas populações das sociedades abastadas, pode não haver relação alguma entre mais riqueza, considerada o principal veículo de uma vida feliz, e maior felicidade!

A íntima correlação entre crescimento econômico e maior felicidade é amplamente considerada uma das verdades menos questionáveis, talvez até a mais autoevidente. Ou pelo menos é isso que nos dizem os líderes políticos mais conhecidos e respeitáveis, seus conselheiros e porta-vozes - e que nós, que tendemos a nos basear nas opiniões deles, ficamos repetindo sem pausa para refletir ou pensar melhor. Eles e nós agimos no pressuposto de que essa correlação é genuína. Queremos que eles ajam com base nessa crença de modo ainda mais resoluto e enérgico - e lhes desejamos sorte, esperando que seu sucesso (ou seja, aumentar nossas rendas, o dinheiro à nossa disposição, o volume de nossas posses, bens e riquezas) melhore a qualidade de nossas vidas e nos torne mais felizes.

Segundo praticamente todos os relatórios de pesquisa examinados e resumidos por Rustin, "as melhoras nos padrões de vida em nações como Estados Unidos e Grã-Bretanha não estão associadas a um aumento - e sim a um ligeiro declínio - do bem-estar subjetivo". Robert Lane descobriu que, apesar do imenso e espetacular aumento das rendas dos americanos nos anos do pós-guerra, a felicidade por eles declarada era menor.(2) E Richard Layard concluiu, a partir de uma comparação de dados transnacionais, que embora os índices de satisfação com a vida declarados cresçam amplamente em paralelo com o nível do PNB, eles só crescem de modo significativo até o ponto em que carência e pobreza dão lugar à satisfação das necessidades essenciais, "de sobrevivência" - e param de subir, ou tendem a decrescer drasticamente, com novos incrementos em termos de riqueza.(3) No todo, só uns poucos pontos percentuais separam países com renda média per capita anual entre 20 mil e 35 mil dólares daqueles situados abaixo da barreira dos 10 mil dólares. A estratégia de tornar as pessoas mais felizes aumentando suas rendas aparentemente não funciona.

Por outro lado, um indicador social que até agora parece estar crescendo de modo espetacular paralelamente ao nível de riqueza - na verdade, tão rapidamente quanto se prometia e esperava que aumentasse o bem-estar subjetivo - é a taxa de criminalidade: roubos a residências e de automóveis, tráfico de drogas, suborno e corrupção no mundo dos negócios. E cresce também uma incômoda e desconfortável sensação de incerteza difícil de suportar, e com a qual é ainda mais difícil conviver permanentemente. Uma incerteza difusa e "ambiente", ubíqua mas aparentemente desarraigada, indefinida e por isso mesmo ainda mais perturbadora e exasperante...

Essas descobertas parecem profundamente decepcionantes, considerando-se que precisamente o aumento do volume total de felicidade "do maior número de pessoas" - um aumento provocado pelo crescimento econômico e por uma ampliação do volume de dinheiro e crédito disponíveis – foi declarado, durante as últimas décadas, o propósito principal a orientar as políticas estabelecidas por nossos governos, assim como as estratégias de "política de vida" colocadas em prática por nós mesmos, seus súditos. Também serviu de régua principal para medir o sucesso e o fracasso de políticas governamentais, assim como de nossa busca da felicidade. Poderíamos até dizer que nossa era moderna começou verdadeiramente com a proclamação do direito humano universal à busca da felicidade, e da promessa de demonstrar sua superioridade em relação às formas de vida que ela substituiu tornando essa busca menos árdua e penosa, e ao mesmo tempo mais eficaz. Podemos perguntar, então, se os meios indicados para se alcançar essa demonstração (principalmente o crescimento econômico contínuo, tal como mensurado pelo aumento do "produto nacional bruto") foram escolhidos erroneamente. Nesse caso, o que exatamente estava errado nessa escolha?

1. Ann Rippin, "The economy of magnificence: Organiza-tion, excess and legitimacy", Culture and Organization n.2, 2007, p. 115-29.
2. Max Scheler, "Das Ressentiment im Aufbau der Mora-len", in Gesammelte Werke, vol.3, Berna, 1955, aqui citado segundo a edição polonesa, Ressentyment i Moralnosc, Czy-telnik, 1997, p.49.
3. Ibid.,p.41.

Uma passagem pelo livro "A Arte da Vida", de Zygmunt Bauman

O advento da busca da felicidade como principal motor do pensamento e ação humanos prenuncia para alguns, embora também ameace para outros, uma verdadeira revolução cultural, mas também social e econômica.

Culturalmente, ele pressagia, sinaliza ou acompanha a passagem da rotina perpétua à inovação constante, da reprodução e retenção daquilo "que sempre foi" ou "que sempre se teve" para a criação e/ou apropriação daquilo "que nunca foi" ou "nunca se teve"; de "empurrar" para "puxar", da necessidade para o desejo, da causa para o propósito.

Socialmente, coincide com a passagem da regra da tradição para a "fusão dos sólidos e a profanação do sagrado".

Economicamente, desencadeia a mudança da satisfação de necessidades para a produção dos desejos.
Se o "estado de felicidade" como motivo de pensamento e ação foi essencialmente um fator de conservação e estabilização, a "busca da felicidade" é uma poderosa força desestabilizadora.

Para as redes de vínculos inter-humanos e seus ambientes sociais, assim como para os esforços humanos de auto-identificação, ela é de fato o anticongelante mais eficaz. Pode muito bem ser considerada o principal fator psicológico do complexo causal responsável pela passagem da fase "sólida" para a fase "líquida" da modernidade.

Sobre o impacto psicológico da "busca da felicidade" promovida simultaneamente ao status de direito, dever e propósito maior da vida, Tocqueville tinha a dizer o seguinte:

Eles [os americanos] estão acostumados a vê-la de perto o bastante para conhecer seus encantos, mas não se aproximam o suficiente para usufruí-la, e estarão mortos antes de terem provado plenamente os seus prazeres ... [Essa] é a razão da estranha melancolia que frequentemente assombra os habitantes das democracias em meio à abundância, e daquele desgosto pela vida que por vezes toma conta deles em condições de calma e tranquilidade. (....)

Na Idade Média, foi elevada à categoria de principal objetivo e preocupação suprema dos mortais, e empregada para promover os valores espirituais acima dos prazeres da carne - assim como para explicar (e, esperava-se, afastar pela argumentação) a dor e a miséria da breve existência terrena como o prelúdio necessário e, portanto, bem-vindo do interminável êxtase do pós-vida.

Com o advento da era moderna, retornou com nova roupagem: a da futilidade dos interesses e preocupações individuais, que se provou serem de duração abominavelmente curta, além de efêmeros e inconstantes quando justapostos aos interesses do "todo social" - a nação, o Estado, a causa...

... Mas com a fórmula da felicidade que eleva o "estar na frente" à categoria de princípio orientador, com indivíduos esmagados por uma "sede de excitação e uma decrescente disposição de se ajustar aos outros, subordinar-se ou abrir mão, "como é possível que dois indivíduos que desejam ser ou se tornar iguais e livres descubram o terreno comum no qual seu amor pode crescer?", indagam Ulrich Beck e Elisabeth Beck-Gernsheim.

terça-feira, 3 de abril de 2012

"AMOR LÍQUIDO"

O autor, Zygm Zygmunt Bauman procura investigar neste livro, porque as relações humanas estão cada vez mais flexíveis, gerando níveis de insegurança que aumentam a cada dia. Os seres humanos estão dando mais importância a relacionamentos em “rede” (pela internet através de bate-papo, email ou celular através de mensagens de texto e bate-papo) que podem ser desmanchados a qualquer momento e muito facilmente, sendo que assim, sendo este contato apenas virtual, as pessoas não sabem mais como manter um relacionamento a longo prazo. E isso não acorre apenas nas relações amorosas e vínculos familiares, mas também entre os seres humanos de uma maneira geral.
Ex: Se um estranho cumprimenta outro na rua, o outro além de não responder o cumprimento, ainda sente-se estranho, talvez ofendido ou até pensa, “que pessoa esquisita”. As pessoas não se sentem à vontade na presença de um estranho, quanto mais cumprimentando alguém que não conhecem. Outro exemplo é o fato de quase ninguém ajudar um mendigo ou um estranho na rua. As pessoas têm medo, tanto por causa da violência, talvez sofrida por eles, quanto pela repercussão dos meios de comunicação que cada vez mais “apavoram” os seus usuários com notícias que envolvem apenas as coisas ruins feitas pelos próprios seres humanos. Então, como não ter medo? 

Os relacionamentos em geral, estão sendo tratados como mercadorias. Se existe algum defeito, podem ser trocadas por outras, mas não há garantia de que gostem do novo produto ou que possam receber seu dinheiro de volta. Hoje em dia os automóveis, computadores ou telefones celulares em bom estado e em bom funcionamento são trocados como um monte de lixo no momento em que aparecem versões mais atualizadas. E assim acontece com os relacionamentos, não gostou, pode trocar, assim ninguém sofre. Também existem os relacionamentos de bolso, do tipo que pode-se usar e dispor quando for necessário e depois tornar a guardar para ser utilizado numa outra ocasião.

A sociedade atual está criando uma nova ética do relacionamento, os relacionamentos estão cada vez mais fragilizados e desumanos. A confiança no próximo está cada vez mais próxima de terminar definitivamente. Os seres humanos estão sendo usados por eles mesmos.
Ex: vaso de cristal, na primeira queda, quebra. As relações terminam tão rápido quanto começam, as pessoas pensam terminar com um problema cortando seus vínculos, mas o que fazem mesmo é criar problemas em cima de problemas.

A definição romântica do amor, está fora de moda. O amor verdadeiro em sua definição romântica, foi rebaixado a diversos conjuntos de experiências vividas pelas pessoas, nas quais referem-se utilizando a palavra amor. Noites avulsas de sexo são chamadas de “fazer amor”. Hoje é muito fácil de se dizer “eu te amo”, pois não existe mais a responsabilidade de estar mesmo amando, a palavra amor foi rotulada de uma forma, em que as pessoas nem sabem direito o que sentem, não conseguem definir uma diferença entre amor e paixão, por exemplo, e mesmo assim utilizam incorretamente esta palavra, que perdeu sua importância.

Como diz o autor, “Amar é querer “gerar e procriar”, e assim o amante “busca e se ocupa em encontrar a coisa bela na qual possa gerar”... não é ansiando por coisas prontas, completas e concluídas que o amor encontra o seu significado, mas no estímulo a participar da gênese dessas coisas. O amor é afim à transcendência...”

            Os seres humanos têm medo de sofrer e pensam que não mantendo uma relação estável e duradoura, irão parar de sofrer ou diminuir a dor, trocando de parceiros, amigos, namorados, noivos, amantes, etc. O sofrimento e a solidão é o principal problema para as pessoas. Os seres humanos estão sendo ensinados a não se apegarem a nada, para não se sentirem sozinhos. A nossa sociedade moderna, não pensa mais na qualidade, mas sim na quantidade, quanto mais relacionamentos eu tiver, melhor, quanto mais dinheiro tiver, melhor. O consumismo é muito grande e as pessoas compram não por desejo ou necessidade, mas por impulso e isso ocorre também nas relações humanas.

            Outro problema que está na sociedade atual é a insegurança. Para sentirem-se seguras, as pessoas preferem se “encontrar” pela internet do que pessoalmente, assim, quando quiserem, podem apagar o que haviam escrito, ou simplesmente “deletar” (apagar) um contato e facilmente dizer “adeus”. Para as pessoas de hoje sentirem-se seguras precisam ter sempre uma mão amiga , o socorro na aflição, o consolo na derrota e o aplauso na vitória e isso nem sempre iria ocorrer caso tivessem as mesmas pessoas ao seu lado. No momento em que o outro não lhe dá a segurança que tanto precisa, logo o mesmo é esquecido e substituído. 

Pelo que pude compreender a modernidade liquida são os avanços tecnológicos que influenciam muito o ser humano em suas relações de um modo geral e o amor líquido representa justamente esta fragilidade dos laços humanos, a flexibilidade com que são substituídos. É um amor criado pela sociedade atual (modernidade líquida) para tirar-lhes a responsabilidade de relacionamentos sérios e duradouros, já que nada permanece nesta sociedade, o amor não tem mais o mesmo significado, foi alterado como algo flexível, totalmente diferente do seu verdadeiro significado de durabilidade e perenidade.
 

quarta-feira, 21 de março de 2012

Modernidade líquida

Zygmunt Bauman 

De acordo com Bauman, a sociedade tardo-moderna decreta a afirmação do indivíduo, mas do indivíduo de jure, não do indivíduo de fato. Sozinho, vulnerável, sem um espaço público a que se referir, sem uma dimensão política que apenas uma ressurreição da "ágora" pode garantir, o indivíduo contemporâneo não se eleva para o papel de cidadão, mas um isolado à mercê das suas escolhas e das suas derrotas, "com os olhos fixos apenas no seu desempenho."

Se até há poucas décadas atrás, a ameaça para o homem vinha da intromissão do poder público, do olho penetrante do Big Brother,do totalitarismo, hoje, ao contrário, os perigos derivam da retirada do indivíduo e da pobreza da dimensão pública.

O espaço público está agora reduzido a pouco mais de uma tela grande, “em que se faz pública confissão de segredos e confissões privadas." Não surpreendentemente, uma expressão típica do nosso tempo são os talk show que proliferam nas televisões a todas as horas, onde quem intervem exibe uma sinceridade frequentemente inautêntica.”

Julgado dono de seu destino e, portanto, culpado no caso de insucesso, o indivíduo é forçado pela ideologia triunfante a procurar, nas palavras de Ulrich Beck, uma "solução biográfica para contradições sistêmicas."

O individualismo hodierno é um individualismo pobre, onde prevalecem o interesse egoístico, a incerteza e o medo de falhar. O indivíduo instável do nosso tempo projecta e desloca os próprios medos sobre comprovados bodes expiatórios: o criminoso, o estrangeiro, o político com vida privada insensata, o vizinho, o conspirador.

A existência contemporânea está dominada pelo consumo: o shopping compulsivo é o ritual através do qual tentamos exorcizar os nossos medos. A verdadeira vida é aquela que é apresentada na TV, a vida dispendiosa da elite cheia de recursos. Vivemos na idade do glamour e da aparência. Apesar de tudo, o consumo desenfreado na procura sempre de novos objetos deixa-nos insatisfeitos, não cura a nossa insegurança e o nosso sentimento de precariedade.

A mercantilização diz também respeito às relações pessoais, que são vigentes enquanto garantem mútua satisfação.  

As relações são "temporárias", tal como os bens de consumo têm uma data de expiração. A fragilidade do novo tipo de união conjugal, especialmente no caso de pessoas comuns, não faz outra coisa senão produzir "miséria, agonia e sofrimento humano e um número crescente de vidas desfeitas, desprovidas de amor e de perspectivas." Os mais fracos, por exemplo, as crianças, que também são parte no processo, raramente são questionados.

A saúde na sociedade contemporânea, tornou-se Fitness, na busca incansável e sempre insatisfeita de forma física perfeita.

O trabalho, cada vez mais escasso, torna-nos intercambiáveis ​​ e licenciáveis. "Os trabalhos seguros e em empresas seguras parecem uma recordação do passado; nem existem especializações e experiências que, uma vez adquiridas, possam garantir um emprego certo, e, sobretudo, duradouro."

As guilhotinas que pairam sobre as nossas cabeças chamam-se “redimensionamento”, "otimização", “racionalização ", "demanda flutuante ", "concorrência", "produtividade", "eficiência".

A "flexibilidade ", tão exaltada por economistas e especialistas contemporâneos, não é outra coisa que sinônimo de trabalho sem segurança, a curto prazo, sem qualquer direito futuro.

Fonte: http://pt.shvoong.com/books/dictionary/2188678-modernidade-l%C3%ADquida/#ixzz1pmiEn59J

Globalização: As conseqüências humanas.

BAUMAN, Zygmunt.
Todo esse processo de transformação redundou na precarização e na desintegração dos “laços humanos”, onde a vida seguida de seus padrões lógicos permeou a solidão e demudou as relações sociais em relações autônomas. Na construção da cidade idealizada, esqueceram que ela depende da oportunidade dada aos homens, pois são eles, e somente eles, que devem se privilegiar desta harmonia “os homens não se tornam bons simplesmente seguindo as boas ordens ou o bom plano de outros” (BAUMAN, 1999 p 54).

A cidade que outrora fora criada para preservar o coletivo dos males vindos de fora, agora serve para preservar os cidadãos do “inimigo interior”. Os muros não estão mais para proteger as cidades e, sim, para blindar o indivíduo que agora se protege dentro de sua casa e de seus muros.

Partindo desta reorganização social, o Estado ganha um novo sentido na visão de Bauman. No seu terceiro capitulo o autor trabalha com a mudança e a nova perspectiva do Estado, onde este abre uma divisão com a economia.

Com a velocidade dos novos acontecimentos, a economia ganha um impulso determinante, que acaba por romper com as últimas barreiras de proteção do Estado, ficando este condicionado ao fator econômico.

As empresas perante a falta de localidade, acabam impondo pressões aos Estados. Uma empresa pode demitir pessoas nas mais diversas localidades sem ter prejuízos econômicos, deixando para o Estado as futuras conseqüências que este fato irá gerar.

Devido a isso, Bauman diz que o Estado vem sofrendo um definhamento, ou seja, existe uma forte tendência à eliminação do Estado-Nação. Esta circunstância leva ao que o autor chama de nova desordem mundial.

Hoje não se sabe quem está no controle, ou pior, não existe ninguém no comando da situação, sendo assim, não existe um consenso global dos rumos que a humanidade deve seguir e por onde se locomover.

Estes processos estão cada vez mais abertos e a globalização está constituída por seu ”caráter indeterminado, indisciplinado e de autopropulsão dos assuntos mundiais”, portanto, a nova desordem mundial é uma seqüência de ações, que parte da falta de definição dos rumos a serem tomados e quem está no controle, assim como, a falta um centro que una os interesses da civilização. Portanto, globalização nada mais é do que o processo de desordem da economia e das relações sociais.

A globalização diz respeito a todos e leva a percursos inesperados, não há como planejar os caminhos a serem almejados, simplesmente eles acontecem da maneira que Wright chamou de “forças anônimas” operando em uma terra sem donos.

Assim, Bauman identifica a morte da soberania do Estado, que tem de abrir mão do seu controle para privilegiar a nova ordem mundial. Não se espera do Estado o mesmo papel de outrora, este novo Estado que surge é uma máquina dependente dos processos produtivos.

Não se supõe em tempos atuais, um Estado que vise uma política fechada que não deslumbre o mercado global. O poder econômico foi extremamente abalado e não existem maneiras de se governar a partir de ideologias políticas e interesses soberanos da nação.

A globalização impõe seus preceitos de forma totalitária e indissolúvel, impondo pressões que o Estado não é capaz de dirimir, ou seja, para Bauman alguns minutos bastam para que as empresas e a Nação entrem em colapso.

O Estado está despido de seu poder e de sua autoridade, somente lhe restou ferramentas básicas para manutenção do interesse das grandes organizações empresariais. Cabe, desta maneira, enfatizar que toda essa desorganização tem como ponto culminante, as regras de livre mercado, políticas especulatórias, capital global e um Estado diminuto e fraco, que tem como única função a manutenção e criação de processos que mantenham a estabilidade financeira e econômica.

Hoje as mega-empresas desfrutam de toda a liberdade para realizarem manobras econômicas que tornam o Estado um mero espectador, dominado e sem poder de reação. Tendo na incerteza do mercado uma arma de armotização dos possíveis atos de revolta, tanto da sociedade, como de seus governantes.

A promessa do livre comércio e o desenvolvimento econômico como profícuo a diminuição das desigualdades sociais, tem se mostrado uma falácia, o que se apresenta é um aumento cada vez mais elevado da riqueza dos mais ricos e uma diminuição drástica das condições de vida dos mais pobres.

Condições estas que estão imobilizadas exatamente pela “imobilidade dos miseráveis” em suprimir as pressões da globalização e a “liberdade dos opressores”, em seus discursos que dão legitimidade ao modelo proposto de sociedade moderna e mundo globalizado, ou seja, um mundo econômico, tecnológico, científico, extremamente desigual e excludente.

Este novo mundo proposto é o da fome, pobreza e miséria absoluta, onde 800 milhões de pessoas estão em condições de subnutridas e 4 bilhões de pessoas vivendo na miséria (BAUMAN, 1999, p. 81).

Para Bauman (1999) a pobreza leva ao processo de degradação social que nega as condições mínimas de vida humana. A soma do resultado “fome=pobreza”, derivam outros fatores que “enfraquecem os laços sociais” e passam a destruir também, os laços afetivos e familiares.

Por Leonardo Betemps Kontz,
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