O advento da busca da felicidade como principal motor do pensamento e
ação humanos prenuncia para alguns, embora também ameace para outros,
uma verdadeira revolução cultural, mas também social e econômica.
Culturalmente, ele pressagia, sinaliza ou acompanha a passagem da
rotina perpétua à inovação constante, da reprodução e retenção daquilo
"que sempre foi" ou "que sempre se teve" para a criação e/ou apropriação
daquilo "que nunca foi" ou "nunca se teve"; de "empurrar" para "puxar",
da necessidade para o desejo, da causa para o propósito.
Socialmente, coincide com a passagem da regra da tradição para a "fusão dos sólidos e a profanação do sagrado".
Economicamente, desencadeia a mudança da satisfação de necessidades para a produção dos desejos.
Se o "estado de felicidade" como motivo de pensamento e ação foi
essencialmente um fator de conservação e estabilização, a "busca da
felicidade" é uma poderosa força desestabilizadora.
Para as redes de vínculos inter-humanos e seus ambientes sociais,
assim como para os esforços humanos de auto-identificação, ela é de fato
o anticongelante mais eficaz. Pode muito bem ser considerada o
principal fator psicológico do complexo causal responsável pela passagem
da fase "sólida" para a fase "líquida" da modernidade.
Sobre o impacto psicológico da "busca da felicidade" promovida
simultaneamente ao status de direito, dever e propósito maior da vida,
Tocqueville tinha a dizer o seguinte:
Eles [os americanos] estão acostumados a vê-la de perto o bastante
para conhecer seus encantos, mas não se aproximam o suficiente para
usufruí-la, e estarão mortos antes de terem provado plenamente os seus
prazeres ... [Essa] é a razão da estranha melancolia que frequentemente
assombra os habitantes das democracias em meio à abundância, e daquele
desgosto pela vida que por vezes toma conta deles em condições de calma e
tranquilidade. (....)
Na Idade Média, foi elevada à categoria de principal objetivo e
preocupação suprema dos mortais, e empregada para promover os valores
espirituais acima dos prazeres da carne - assim como para explicar (e,
esperava-se, afastar pela argumentação) a dor e a miséria da breve
existência terrena como o prelúdio necessário e, portanto, bem-vindo do
interminável êxtase do pós-vida.
Com o advento da era moderna, retornou com nova roupagem: a da
futilidade dos interesses e preocupações individuais, que se provou
serem de duração abominavelmente curta, além de efêmeros e inconstantes
quando justapostos aos interesses do "todo social" - a nação, o Estado, a
causa...
... Mas com a fórmula da felicidade que eleva o "estar na frente" à
categoria de princípio orientador, com indivíduos esmagados por uma
"sede de excitação e uma decrescente disposição de se ajustar aos
outros, subordinar-se ou abrir mão, "como é possível que dois indivíduos
que desejam ser ou se tornar iguais e livres descubram o terreno comum
no qual seu amor pode crescer?", indagam Ulrich Beck e Elisabeth
Beck-Gernsheim.
eu quero esse livro meu tio !!! lucas
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