sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Uma devastadora crítica à moda, por Zygmunt Bauman:

A moda coloca todo estilo de vida em estado de permanente e interminável revolução.

A moda tem o papel de operador chefe da transformação da mudança constante do modo de vida humano.

Atual forma da moda é definida pela colonização e exploração, pelos mercados de consumo, desse aspecto da condição humana.

A moda é um dos principais motores do "progresso" (ou seja, tipo de mudança que diminui, difama e, outras palavras, desvaloriza tudo aquilo que ela deixa atrás de si e substitui por algo novo).

A moda associada ao "progresso" em um processo irrefreável, sem relação com nossos desejos e indiferente a nossos sentimentos - um processo cuja força irresistível e insuperável exige nossa humilde submissão segundo o princípio de "Se não pode vencê-los, junte-se a eles".

O progresso segundo as crenças instiladas pelos mercados de consumo, é uma ameaça mortal ao preguiçoso, ao imprudente e ao indolente. O imperativo de "juntar-se ao progresso" é inspirado pelo desejo de escapar do espectro da catástrofe pessoal causada por fatores sociais, impessoais, cujo hálito podemos sentir constantemente sobre nossa nuca. Ele evoca a chave do "voo para o futuro".

O progresso, em suma passou do discurso da melhoria compartilhada da existência para o discurso da sobrevivência pessoal. Pensamos em "progresso" não no contexto de elevar nosso status, mas de evitar o fracasso. Se você não quer afundar, deve continuar mudando o guarda-roupa, a mobília, a aparência e os hábitos - em suma, você.

Uma vez que os esforços coordenados e resolutos do mercado de consumo fizeram com que a cultura fosse subjugada pela lógica da moda, torna-se necessário - para ser uma pessoa e ser visto como tal - demonstrar sua capacidade de ser outra. O modelo pessoal da busca da identidade torna-se o camaleão.

Não é preciso acrescentar, já que seria óbvio, que a mudança de foco da posse para o descarte e alienação de coisa se encaixa perfeitamente na lógica de uma economia orientada para o consumo. Uma economia cuja condição "sine qua non" de sobrevivência, é o descarte rápido, e cada vez mais abundante, na lata do lixo, dos bens comprados.

Trecho do livro "A cultura no Mundo Líquido Moderno", de Zygmunt Bauman

Um comentário:

  1. Prezado Assis Ribeiro,

    Não existe melhoria compartilhada para a humanidade. Somos seres racionais, logo, extremamente egoístas !!!

    Abração

    Mário Mendonça

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