Incrível, no país, a classe média reune nas ruas mais de quatro milhões de pessoas, com o apoio direto ou indireto de quase todos os segmentos da sociedade para derrubar a presidenta, e se mantém inerte quanto a destruição de empresas brasileiras, desmonte das empresas públicas e mistas, a retirada de inúmeros direitos trabalhistas, a permanência no poder do grupo tudo é reconhecido como o mais corrupto do país.
Tudo isso só pode ser explicado:
1 - pela ignorância da classe média brasileira;
2 - manipulação das informações através dos grandes grupos de mídia;
3 - conluio do poder judiciário;
4 - esgarçamento das funções básicas das entidades organizadas;
5 - descompromissado do brasileiro com os destinos do país;
6 - constatação do esfarelamento da cidadania em seu sentido mais preciso;
7 - falência do modelo representativo;
8 - incapacidade de aglutinação da mídia alternativa e do seu poder de influenciar amplos segmentos;
9 - perda pela população da sua capacidade de sonhar;
10 - negação do que conceitualmente se chamou democracia.
O apoio maciço para a derrubada de Dilma, e a mansidão do país para os desmandos dos usurpadores é de entrincheirar qualquer análise e reflexão sobre o tema, salvo para atribuir à Globo um poder equivalente aos deuses criadores de tudo.
O desmonte feito na Petrobras e a inação da então (?) poderosíssima FUP é, no mínimo, chocante. E que pode demonstrar o desaparecimento de forças coletivas populares (aliás, típica do mundo líquido de Bauman).
O que pensar de uma população que vê a sua aposentadoria ser jogada na latrina e de mantém inerte, sem mobilização, sem ação?
Agora começamos a entender o que é a falta de ideologia, de pensamento, o aprisionamento ao pragmatismo que levou Fukuyama a preconizar, "o fim de história".
Lamentavelmente, o que se percebe é um mundo sem planos, sem projetos, sem líderes com rosto (há a liderança imperial do mercado com seus fantoches eleitos pelo voto direto ou entronizados por golpes solapando os direitos).
Mannheim já tinha nos prevenido:
“A desaparição da utopia ocasiona um estado de coisas estático em que o próprio homem se transforma em coisa. Iríamos, então, nos defrontar com o maior paradoxo imaginável, ou seja o do homem que, tendo alcançado o mais alto grau de domínio racional da existência, se vê deixado sem nenhum ideal, tornando-se um mero produto de impulsos. (...) o homem perderia, com o abandono das utopias, a vontade de plasmar a história e, com ela, a capacidade de compreendê-la”.
A população parece ter perdido o seu poder de fiscalização, de controle, e de busca por uma sociedade mais justa e mais ética, à reboque das ordens emanadas dá rede Globo.
O Mercado e a Globo vêm estimulando nas populações um sentimento anti política e rejeição a noção de entidades públicas, mesmo de definhamento que pode levar á tendência de própria eliminação do Estado-Nação. Esta desordem do Estado é muito pior do que as dificuldades econômicas e crises institucionais.
A percepção é que hoje não se sabe quem está no controle, ou pior, não existe ninguém no comando da situação.
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