Educação, Violência e Bioética sob a Ótica do
Estudante Secundário Brasileiro
A educação
deve apresentar características fundamentais que possam contribuir para o
desenvolvimento do ser humano como um todo reafirmando seu papel nas
transformações pelas quais vêm passando as sociedades contemporâneas e
assumindo um compromisso cada vez maior com a formação para a cidadania. Esta
educação construtiva deve levar ao desenvolvimento integral do ser humano, o
respeito às diferenças e a preocupação com o bem estar coletivo entre outros.
Para Klein
está entre as finalidades fundamentais da educação o preparo dos alunos para
serem cidadãos ativos, críticos e membros solidários para uma sociedade
democrática. Para isso, tornam-se necessários recursos e experiências de ensino
e aprendizagem inovadores com formas de avaliação e metodologias que promovam a
construção dos conhecimentos, habilidades, atitudes e valores importantes para
o exercício da cidadania.
Dentro do
espaço das escolas é possível constatar como os alunos repetem padrões de
comportamento estabelecidos pela própria sociedade. Assim, numa sociedade
capitalista em desenvolvimento como o Brasil, é fácil verificar o reflexo da
diferença social, do preconceito racial e sexual e da intolerância dentro da
própria escola. São estas e outras realidades as responsáveis, direta e
indiretamente, por gerar a violência no cotidiano dos adolescentes seja dentro
ou fora do ambiente escolar. Essa violência que se instala no cotidiano dos
jovens e das escolas sucumbe diante de valores de mercado que atribuem
importância à apropriação de riquezas materiais como forma de valorização da
pessoa humana. Neste contexto, o jovem é afastado de si mesmo e do ambiente
onde foi gerado e esse deslocamento diminui sua capacidade de interlocução e consequentemente
de reflexão sobre a vida. Torna-se então difícil a inserção de valores como a
responsabilidade e a compreensão do outro, uma vez que não existe a
identificação do outro, comprometendo a prática da cidadania.
É
pressupondo a educação como base para a formação de valores e formação de
pessoas capazes de intervir como cidadãos, que o ensino da bioética pode
contribuir para promover mudanças desde o nível individual até o coletivo.
Garrafa e Porto sugerem o modelo de bioética de intervenção como meio de
reflexão e conscientização para tratar temas tais como o esgotamento dos
recursos naturais, desigualdade social, direitos humanos, poder e injustiça.
Segundo Klein, “... o ensino da bioética pode e deve ser desenvolvido de
modo a propiciar ao aluno a reflexão sobre um mundo que está sendo construído,
que é dinâmico e que permite sua participação e atuação como sujeito na medida
em que se desenvolve”.
A proposta
deste trabalho é introduzir a bioética de intervenção como ferramenta reflexiva
interdisciplinar em discussões a cerca da violência no cotidiano do aluno de
ensino médio de escolas públicas. Foram formados grupos de reflexão de acordo
com temas e situações reais com o intuito de verificar o que o jovem estudante
pensa sobre violência. Como resultado espera-se que mudanças possam ser
realizadas através da tomada de consciência de cada realidade.
Educação
para cidadania: o papel da escola
A palavra educação
vem do verbo latino educere que quer dizer abrir o caminho, puxar
para fora, deixar sair, em significado mais profundo, conduzir para o alto o
potencial inato do ser humano, instigar e propiciar o desenvolvimento de novas
habilidades. Durkheim define educação como o desenvolvimento do indivíduo nas
atitudes e capacidades que lhes são exigidas “não só pela sociedade em
conjunto, mas também pelo meio especial a que em particular está determinado”.
Ainda neste contexto, a educação tem a função de contribuir para uma reforma
constante do papel do indivíduo nas transformações pelas quais passou as
sociedades contemporâneas.
A educação,
assim como a cultura também sofre influências cada vez maiores de fatores
socioeconômicos e políticos. É nesta conjuntura participativa que sobressai o
papel da educação como elemento transformador do desenvolvimento para o
compromisso social. O desenvolvimento e a educação não podem ser vistos como
iniciativas isoladas, mas sim como uma cadeia de ações que se complementam. "De
fato, se o homem deve ser sujeito de sua educação igualmente deve ser agente e
beneficiário do desenvolvimento". Neste contexto surge a chamada “educação
para o desenvolvimento” (ED), resolução aprovada em assembleia geral da UNESCO
em 1974.
Nesta
perspectiva transformadora, a escola que antes se limitava a refletir e/ou
discutir temas estritamente ligados às disciplinas curriculares como
matemática, português, geografia, história, etc., vê-se agora obrigada a
abrir-se para temas cada vez mais afeitos aos interesses da comunidade. Candau
ressalta a importância de que "uma escola deve ser um espaço onde se
formam crianças e jovens para serem construtores ativos da sociedade na qual
vivem e exercem sua cidadania". O papel mais reconhecido da Educação para
a Cidadania é o de auxiliar o indivíduo a buscar esclarecimento como forma de
combater e minorar conflitos decorrentes de preconceitos raciais, fundamentalismos
político-religiosos e práticas de exclusão social. Para Adela Cortina, é
cidadão “aquele que em uma comunidade política não goza somente de seus
direitos civis (liberdade individual) como insistem os tradicionais liberais,
nem somente de seus direitos políticos (participação política) como insistem os
republicanos, mas também que goza de seus direitos sociais (trabalho, educação,
saúde, moradia)”.
Neste
contexto, a escola representa o ambiente ideal para a prática da educação
cidadã devendo, portanto, oferecer não apenas espaço físico e organizacional,
mas também relacional, de cooperação e resolução de novos conflitos. A educação
escolar não tem a pretensão de ser um modulador cívico, mas precisa incorporar
em suas competências, o exercício da solidariedade e tolerância buscando o
conhecimento e informação na compreensão da realidade para promover cidadãos
participativos.
É fato que
há uma preocupação da maioria dos países em fazer com que a escola desempenhe
papel mais ativo no desenvolvimento dos valores morais de seus alunos. Esta
tendência está claramente manifestada nas conclusões da 1ª Conferência
Leste-Oeste de Educação Moral realizada em 1987 no Japão, onde oradores de 15
países, depois de descreverem e discutirem os problemas morais mais comumente
ocorridos em cada nação chegaram à conclusão de que as causas mais comuns dos
desajustes sociais seriam: a crise na família, o impacto negativo da televisão
nas crianças, o aumento do egocentrismo, do materialismo e da delinquência nos
jovens.
Existem
ainda, importantes razões para que a escola eduque para valores éticos:
(1) a
transmissão de valores é uma tarefa da sociedade;
(2) as
grandes questões com que se confrontam as pessoas e a espécie humana são as
morais;
(3) a
democracia é um regime político no qual as pessoas devem exercer, através da
participação autônoma, um papel determinante na construção de valores éticos.
Portanto, a escola deve ser sensível à permanente reconstrução de normas de
convivência.
Matéria completa:
Do site âmbito Jurídico
Por Luciana
Grange, Lázara Campos Caramori, Tânia Aparecida da Silva Klein, Ogle Beatriz
Bacchi de Souza, Olivia Marcia Nagy Arantes, Jose Eduardo de Siqueira
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