quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Educação para cidadania: o papel da escola

Educação, Violência e Bioética sob a Ótica do Estudante Secundário Brasileiro

A educação deve apresentar características fundamentais que possam contribuir para o desenvolvimento do ser humano como um todo reafirmando seu papel nas transformações pelas quais vêm passando as sociedades contemporâneas e assumindo um compromisso cada vez maior com a formação para a cidadania. Esta educação construtiva deve levar ao desenvolvimento integral do ser humano, o respeito às diferenças e a preocupação com o bem estar coletivo entre outros.

Para Klein está entre as finalidades fundamentais da educação o preparo dos alunos para serem cidadãos ativos, críticos e membros solidários para uma sociedade democrática. Para isso, tornam-se necessários recursos e experiências de ensino e aprendizagem inovadores com formas de avaliação e metodologias que promovam a construção dos conhecimentos, habilidades, atitudes e valores importantes para o exercício da cidadania.

Dentro do espaço das escolas é possível constatar como os alunos repetem padrões de comportamento estabelecidos pela própria sociedade. Assim, numa sociedade capitalista em desenvolvimento como o Brasil, é fácil verificar o reflexo da diferença social, do preconceito racial e sexual e da intolerância dentro da própria escola. São estas e outras realidades as responsáveis, direta e indiretamente, por gerar a violência no cotidiano dos adolescentes seja dentro ou fora do ambiente escolar. Essa violência que se instala no cotidiano dos jovens e das escolas sucumbe diante de valores de mercado que atribuem importância à apropriação de riquezas materiais como forma de valorização da pessoa humana. Neste contexto, o jovem é afastado de si mesmo e do ambiente onde foi gerado e esse deslocamento diminui sua capacidade de interlocução e consequentemente de reflexão sobre a vida. Torna-se então difícil a inserção de valores como a responsabilidade e a compreensão do outro, uma vez que não existe a identificação do outro, comprometendo a prática da cidadania.

É pressupondo a educação como base para a formação de valores e formação de pessoas capazes de intervir como cidadãos, que o ensino da bioética pode contribuir para promover mudanças desde o nível individual até o coletivo. Garrafa e Porto sugerem o modelo de bioética de intervenção como meio de reflexão e conscientização para tratar temas tais como o esgotamento dos recursos naturais, desigualdade social, direitos humanos, poder e injustiça. Segundo Klein, “... o ensino da bioética pode e deve ser desenvolvido de modo a propiciar ao aluno a reflexão sobre um mundo que está sendo construído, que é dinâmico e que permite sua participação e atuação como sujeito na medida em que se desenvolve”.

A proposta deste trabalho é introduzir a bioética de intervenção como ferramenta reflexiva interdisciplinar em discussões a cerca da violência no cotidiano do aluno de ensino médio de escolas públicas. Foram formados grupos de reflexão de acordo com temas e situações reais com o intuito de verificar o que o jovem estudante pensa sobre violência. Como resultado espera-se que mudanças possam ser realizadas através da tomada de consciência de cada realidade.

Educação para cidadania: o papel da escola

A palavra educação vem do verbo latino educere que quer dizer abrir o caminho, puxar para fora, deixar sair, em significado mais profundo, conduzir para o alto o potencial inato do ser humano, instigar e propiciar o desenvolvimento de novas habilidades. Durkheim define educação como o desenvolvimento do indivíduo nas atitudes e capacidades que lhes são exigidas “não só pela sociedade em conjunto, mas também pelo meio especial a que em particular está determinado”. Ainda neste contexto, a educação tem a função de contribuir para uma reforma constante do papel do indivíduo nas transformações pelas quais passou as sociedades contemporâneas.

A educação, assim como a cultura também sofre influências cada vez maiores de fatores socioeconômicos e políticos. É nesta conjuntura participativa que sobressai o papel da educação como elemento transformador do desenvolvimento para o compromisso social. O desenvolvimento e a educação não podem ser vistos como iniciativas isoladas, mas sim como uma cadeia de ações que se complementam. "De fato, se o homem deve ser sujeito de sua educação igualmente deve ser agente e beneficiário do desenvolvimento". Neste contexto surge a chamada “educação para o desenvolvimento” (ED), resolução aprovada em assembleia geral da UNESCO em 1974.

Nesta perspectiva transformadora, a escola que antes se limitava a refletir e/ou discutir temas estritamente ligados às disciplinas curriculares como matemática, português, geografia, história, etc., vê-se agora obrigada a abrir-se para temas cada vez mais afeitos aos interesses da comunidade. Candau ressalta a importância de que "uma escola deve ser um espaço onde se formam crianças e jovens para serem construtores ativos da sociedade na qual vivem e exercem sua cidadania". O papel mais reconhecido da Educação para a Cidadania é o de auxiliar o indivíduo a buscar esclarecimento como forma de combater e minorar conflitos decorrentes de preconceitos raciais, fundamentalismos político-religiosos e práticas de exclusão social. Para Adela Cortina, é cidadão “aquele que em uma comunidade política não goza somente de seus direitos civis (liberdade individual) como insistem os tradicionais liberais, nem somente de seus direitos políticos (participação política) como insistem os republicanos, mas também que goza de seus direitos sociais (trabalho, educação, saúde, moradia)”.

Neste contexto, a escola representa o ambiente ideal para a prática da educação cidadã devendo, portanto, oferecer não apenas espaço físico e organizacional, mas também relacional, de cooperação e resolução de novos conflitos. A educação escolar não tem a pretensão de ser um modulador cívico, mas precisa incorporar em suas competências, o exercício da solidariedade e tolerância buscando o conhecimento e informação na compreensão da realidade para promover cidadãos participativos.

É fato que há uma preocupação da maioria dos países em fazer com que a escola desempenhe papel mais ativo no desenvolvimento dos valores morais de seus alunos. Esta tendência está claramente manifestada nas conclusões da 1ª Conferência Leste-Oeste de Educação Moral realizada em 1987 no Japão, onde oradores de 15 países, depois de descreverem e discutirem os problemas morais mais comumente ocorridos em cada nação chegaram à conclusão de que as causas mais comuns dos desajustes sociais seriam: a crise na família, o impacto negativo da televisão nas crianças, o aumento do egocentrismo, do materialismo e da delinquência nos jovens.

Existem ainda, importantes razões para que a escola eduque para valores éticos:

(1) a transmissão de valores é uma tarefa da sociedade;
(2) as grandes questões com que se confrontam as pessoas e a espécie humana são as morais;
(3) a democracia é um regime político no qual as pessoas devem exercer, através da participação autônoma, um papel determinante na construção de valores éticos. Portanto, a escola deve ser sensível à permanente reconstrução de normas de convivência.

Matéria completa:
Do site âmbito Jurídico
Por Luciana Grange, Lázara Campos Caramori, Tânia Aparecida da Silva Klein, Ogle Beatriz Bacchi de Souza, Olivia Marcia Nagy Arantes, Jose Eduardo de Siqueira

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