Antonin
Artaud era louco (?), e a sua loucura foi objeto de culto nos anos 70. Ele dizia:
“Sinto repulsa pela vida, porque percebo que
vivemos num mundo onde nada é poupado e onde qualquer pessoa pode ser
ridicularizada e acusada de delirante, dependendo do estado de espírito do
momento e do inconsciente do acusador. Minha história é de uma iniquidade sem
nome e um crime que eles não querem permitir que vocês vejam. Sofro de uma terrível doença do espírito. Meu
pensamento me abandona em todos os níveis (...)”,
A loucura
de Arnaud lançava luz sobre nossas trevas, e seu nome era a invocação mais
pungente nos anos 70 quando tratávamos de pensar o que era loucura, palavra que
estava em todas as bocas, trazida pela contracultura. Ser “louco” era o desejo
de quem bordejava pelas margens, mas,
loucura é doença. Ou não?
Questionava Antonin
Artaud:
“E o que é
um autêntico louco?”, perguntava Artaud, para responder em seguida: “É um homem
que preferiu ficar louco, no sentido socialmente aceito, em vez de trair uma
determinada ideia superior de honra humana. Foi assim que a sociedade mandou
estrangular nos seus hospícios todos aqueles de quem ela queria se ver livre ou
de quem ela desejava se defender, porque
esses loucos se recusavam a ser cúmplices de enormes sujeiras. Porque o louco é
também um homem que a sociedade não quer ouvir e que ela quer impedir que enuncie verdades insuportáveis. Mas,
nesse caso, o internamento não é
sua única arma da sociedade, e a coligação dos homens tem outros meios para vencer
as vontades que ela deseja esmagar. Além dos pequenos feitiços dos bruxos menores
de aldeia, existem grandes sessões de enfeitiçamento global, das quais
participa toda a consciência amedrontada. Assim, por ocasião de uma guerra, de uma revolução, ou
de algum período de inquietação social ainda latente, a consciência coletiva é
interrogada e se interroga e emite seu julgamento”
- A loucura
foi então adotada por aqueles que queriam romper com a lógica racionalizante da
direita e da esquerda, mas “ao reduzir a racionalidade à racionalização
autoritária, a contracultura colocava a negação da racionalidade enquanto tal
como única possibilidade de questionamento da sociedade vigente; daí a adoção
da “loucura” até mesmo por aqueles irremediavelmente inscritos no mundo dos
“normais”, como Luiz Carlos Maciel. Ele que era um filósofo existencialista,
guru prafentex do Pasquim, jornalista
porta-voz da contracultura, escritor, homem de teatro, cinema e televisão, foi
repentinamente alvejado por um ardente desejo de perder a cabeça e sair da
norma:
“Quando
começou o underground, a minha
curiosidade era jornalística, mas depois o envolvimento pessoal foi cada vez
maior e se decidiu realmente com a nossa dos jornalistas do Pasquim) prisão, em
1970. Porque, quando saímos dela, eu já não era mais o jornalista interessado
na contracultura. Eu era um cara disposto a ir fundo. As minhas últimas
ilusões, vamos dizer assim, se desvaneceram na época da prisão. Você fica lá
com muito tempo, pensando muito, sem nada para fazer. Fica lendo, pensando e
tal. (...) ) que valem as coisas? O que significam aas coisas? Pra que você
viveu? O que está querendo da vida? E dessas perguntas todas que me fiz, como
resposta a elas, cheguei à conclusão de que devia virar hippie, era o mínimo
que eu podia fazer. Não havia mais sentido em nenhuma outra coisa. Não havia
lógica em continuar participando dessa sociedade como um dos seus membros
normais” Luiz Carlos Maciel, Negócio Seguinte (Rio de Janeiro: Codeci, 1981),
p. 81.
Nenhum comentário:
Postar um comentário