sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Antonin Artaud

Antonin Artaud era louco (?), e a sua loucura foi objeto de culto nos anos 70. Ele dizia:

“Sinto repulsa pela vida, porque percebo que vivemos num mundo onde nada é poupado e onde qualquer pessoa pode ser ridicularizada e acusada de delirante, dependendo do estado de espírito do momento e do inconsciente do acusador. Minha história é de uma iniquidade sem nome e um crime que eles não querem permitir que vocês vejam.  Sofro de uma terrível doença do espírito. Meu pensamento me abandona em todos os níveis (...)”,

A loucura de Arnaud lançava luz sobre nossas trevas, e seu nome era a invocação mais pungente nos anos 70 quando tratávamos de pensar o que era loucura, palavra que estava em todas as bocas, trazida pela contracultura. Ser “louco” era o desejo de quem bordejava pelas margens, mas, loucura é doença. Ou não?

Questionava Antonin Artaud:
 
“E o que é um autêntico louco?”, perguntava Artaud, para responder em seguida: “É um homem que preferiu ficar louco, no sentido socialmente aceito, em vez de trair uma determinada ideia superior de honra humana. Foi assim que a sociedade mandou estrangular nos seus hospícios todos aqueles de quem ela queria se ver livre ou de quem ela desejava se defender,  porque esses loucos se recusavam a ser cúmplices de enormes sujeiras. Porque o louco é também um homem que a sociedade não quer ouvir e que ela quer  impedir que enuncie verdades insuportáveis. Mas, nesse caso, o internamento não é sua única arma da sociedade, e a coligação dos homens tem outros meios para vencer as vontades que ela deseja esmagar. Além dos pequenos feitiços dos bruxos menores de aldeia, existem grandes sessões de enfeitiçamento global, das quais participa toda a consciência amedrontada. Assim, por  ocasião de uma guerra, de uma revolução, ou de algum período de inquietação social ainda latente, a consciência coletiva é interrogada e se interroga e emite seu julgamento”

- A loucura foi então adotada por aqueles que queriam romper com a lógica racionalizante da direita e da esquerda, mas “ao reduzir a racionalidade à racionalização autoritária, a contracultura colocava a negação da racionalidade enquanto tal como única possibilidade de questionamento da sociedade vigente; daí a adoção da “loucura” até mesmo por aqueles irremediavelmente inscritos no mundo dos “normais”, como Luiz Carlos Maciel. Ele que era um filósofo existencialista, guru prafentex do Pasquim, jornalista porta-voz da contracultura, escritor, homem de teatro, cinema e televisão, foi repentinamente alvejado por um ardente desejo de perder a cabeça e sair da norma:

“Quando começou o underground, a minha curiosidade era jornalística, mas depois o envolvimento pessoal foi cada vez maior e se decidiu realmente com a nossa dos jornalistas do Pasquim) prisão, em 1970. Porque, quando saímos dela, eu já não era mais o jornalista interessado na contracultura. Eu era um cara disposto a ir fundo. As minhas últimas ilusões, vamos dizer assim, se desvaneceram na época da prisão. Você fica lá com muito tempo, pensando muito, sem nada para fazer. Fica lendo, pensando e tal. (...) ) que valem as coisas? O que significam aas coisas? Pra que você viveu? O que está querendo da vida? E dessas perguntas todas que me fiz, como resposta a elas, cheguei à conclusão de que devia virar hippie, era o mínimo que eu podia fazer. Não havia mais sentido em nenhuma outra coisa. Não havia lógica em continuar participando dessa sociedade como um dos seus membros normais” Luiz Carlos Maciel, Negócio Seguinte (Rio de Janeiro: Codeci, 1981), p. 81.

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