É muito fácil perceber o que ocorre na economia e na
política e as tendências do país simplesmente observando o entorno em que se vive. Como
dizia Hermes Trismegisto ; "Aquilo
que está em cima é como aquilo que está embaixo".
Basta ir às ruas,
aos shoppings, as festas e observar o cotidiano das pessoas para se ter uma
exata noção do que está ocorrendo.
Se nas décadas de
sessenta e setenta era possível se observar um forte caldo de diversidade nas
vestimentas, nos cortes de cabelo, nas várias formas musicais e comportamentais
que fizeram com que o país avançasse, o mesmo não pode ser dito dos dias atuais.
A classe média
juvenil teve esse papel transformador da sociedade. Foi a partir dela que o
mundo guinou em seus avanços. Ela era a detentora da utopia como característica
de mover segmentos da população que estavam insatisfeitos e não
comprometidos com a ordem existente.
Ocorre que a classe média se sujeitou às sofisticadas
tecnologias de controle, intimidação e manipulação, implantadas pelos meios de
comunicação. Foi exatamente para esse segmento que os jornais, as novelas e
toda a programação televisiva foram direcionados.
O filósofo político Sheldon Wolin no início da década
passada já tinha constatado e advertido: “Nosso
sistema de comunicação de massas bloqueia, elimina o que quer que proponha
qualificação, ambiguidade ou diálogo, qualquer coisa que enfraqueça ou
complique a sua criação, a sua completa capacidade de influenciar”.
Há um trecho
interessante do livro “Geração em Transe” de Luiz Carlos Maciel, escrito em
1998, que diz: “Hoje, as manifestações juvenis de nosso passado
recente, depois de domadas, assimiladas e distorcidas pelo sistema, foram
substituídas por um fetiche abstrato e bastante ridículo que é o jovem tal como
é definido pelas agências de publicidade, delineado pelas pesquisas de opinião,
incensado pela mídia, tomado por paradigma de eficiência empresarial (o tal do
Yuppie) e, o que é pior de tudo, imposto como modelo aos ainda mais jovens, ou
seja, nossas crianças. Esse “jovem” é o que, no meu tempo, chamávamos de
alienado e, depois, de careta. Trata – se de uma domesticação dos instintos
naturais da juventude em função dos interesses do sistema”.
Nesses tempos atuais é suficiente transitar nos shoppings e observar que
essa geração juvenil da classe média tem uma forma de vestir única, com as
adolescentes usando shorts jeans curto, cabelos esticados que se prolongam
continuamente. Basta ir às festas e constatar que o ritmo é um só e as letras
pouco se diferenciam umas das outras, sem falar nas coreografias treinadas e
repetidas continuamente.
Essa é a sociedade do pensamento único, cujo conceito não pode ficar
restrito à economia onde se segue os princípios da “cartilha” ou da “lição de
casa”, nem na política com discursos e realizações que pouco diferem entre a
esquerda e a direita.
Portanto, não se pode esperar que sejam esses movimentos de ruas, como o
de junho de 2013, que farão mudar alguma coisa.
Talvez quem melhor tenha compreendido essa situação de imobilismo e
conservadorismo da classe média tenha sido Milton Santos que cantou a bola: “Os atores que vão mudar a história são os
atores de baixo. Vão agir de baixo para cima. Os pobres em cada país, os países
pobres dentro dos diversos continentes, os continentes pobres em face dos
continentes ricos. De tal forma, não teremos uma revolução sincronizada: haverá
explosões aqui e ali em momentos diferentes, mas que serão impossíveis de
conter”.
Nesses dizeres Milton Santos
antecipou o que viria a acontecer com as organizações sociais e sindicais que
perderam seus poderes de mobilização coletiva ampla e solidária como na década
de sessenta e setenta onde, por exemplo, um movimento da classe trabalhadora
recebia apoio se solidariedade da classe estudantil, aumentando o poder de pressão sobre os
grupos dominantes, e a consequente constatação da perda de relação com o poder
estabelecido.
Essa falta de organização social parece ter sido a maior
vitória da ditadura nas suas ações de desmobilização e quebra das organizações
populares e do neoliberalismo quando Fukuyama repetiu a máxima “É o fim da
história” como fim dos processos históricos caracterizados como processos de
mudança.
O que Fukuyama pretendeu dizer foi que o capitalismo liberal
e a democracia burguesa atingiria o ápice da evolução e que esse era o único
caminho e solução final da humanidade. Contudo, esta ideologia não foi capaz de
antecipar que essa acomodação nos levaria a um dos maiores períodos de
estagnação da história e que a necessidade de se plasmar a história é uma das
características principais da condição humana e da própria democracia na sua
busca por melhorias.
No entanto, os instrumentos de controle dos militares, do
neoliberalismo e da mídia, apontados acima, se conseguiram fazer adormecer a
classe média, esqueceram que parte importante dos processos evolutivos, a
classe pobre, estaria acordando do longo pesadelo que lhe foi imposto, como
antecipou o geógrafo Milton Santos.
Excelente retrato da realidade atual!
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