Li esta semana que Aécio tem tido uma boa votação entre os jovens de 18
a 25 anos de idade e fiquei espantado. A juventude é a época do
pensamento no coletivo, do idealismo, da generosidade. É a época em que
tendemos a pensar mais no mundo do que no umbigo. É a época em que o
sofrimento daquele mendigo pelo qual passamos na rua dói e sentimos o
impulso de erguê-lo, de alimentá-lo, de agasalhá-lo. É só com o passar
dos anos que começamos a tender a um foco mais individualista: pensamos
nas nossas contas bancárias antes de fazermos uma doação. Nem todos
passam por esta transformação (felizmente), mas a tendência geral é
esta.
Assim, como é possível que tantos de nossos jovens já estejam iniciando
a idade adulta com um pensamento tão conservador? O pensamento de que o
"mercado" importa mais do que as pessoas? O pensamento de que o
conteúdo do iPod é mais importante do que o conteúdo da alma (e uso
alma como metáfora)? O pensamento de que poder escolher o tipo de
iogurte é... nem sei como completar esta frase. Que tal... "minimamente
relevante"?
E aí fiquei pensando. O que pode ter acontecido pra que esse
conservadorismo aparente tivesse tomado conta da juventude? Seriam os
novos jovens mais egoístas do que os da minha época?
Claro que não. A juventude respira generosidade se tiver permissão e contexto.
É isso. Faltam permissão e contexto.
Um tiquinho de paciência e já explico.
A falta de "permissão" vem da mídia e da despolitização.
Os jovens
abaixo de 25 anos cresceram com uma mídia cujo conservadorismo já
resultou em críticas até do Reporters Without Borders (1) e que insiste
em transformar qualquer denúncia, por menor que seja e por menos provas
que tenha, em um escândalo inquestionável. Às vésperas da eleição de
1989, por exemplo, os jornais relacionaram o PT ao sequestro de Abílio
Diniz, comprometendo a vitória da esquerda, mas mais recentemente, na
última eleição presidencial, podemos encontrar um exemplo claro no caso
Erenice Guerra, próxima de Dilma, que foi massacrada pela Globo e pelos
jornais durante semanas, acusada de todo tipo de ato de corrupção
imaginável. Erenice que depois foi, vejam só, inocentada. O mesmo
ocorreu com o ex-ministro Orlando Silva. E com Luis Gushiken. E, ESTA
SEMANA, com José Eduardo Dutra, que a Folha acusou numa matéria de ter
sido "denunciado" por Paulo Costa apenas para, no dia seguinte, publicar
uma pequena errata dizendo que haviam errado e que Dutra nada tinha a
ver com o caso.
Com isso, a mídia criou uma impressão de corrupção generalizada — mas
só do lado que a interessa, já que sempre ignora qualquer denúncia
contra a direita (cartel do metrô em SP, falta de planejamento da
SABESP, mensalão tucano, compra de votos da reeleição de FHC, máfia dos
sanguessugas, etc.). Aliás, quando noticia algo, é pra aliviar a
barra: esta semana, o Jornal Nacional anunciou que a Procuradoria Geral
da República arquivou denúncias contra Aécio no caso do aeroporto em
Cláudio — mas deixou convenientemente de informar que a PGR disse
apenas que não havia indícios de ilícito em esfera FEDERAL e que, por
isso, encaminhou a denúncia pra Procuradoria Geral do Estado por ver
indícios de IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA por parte do governo de
Aécio.(2)
Assim, como a juventude pode se sentir livre para defender o projeto do
governo se este é constantemente rotulado pela mídia brasileira como
"o mais corrupto da história"? Um governo que, vejam só, criou diversos
mecanismos justamente para investigar, coibir e punir a corrupção? (3)
Com isso, só resta a opção de defender a oposição, cujos desmandos são
varridos para debaixo do tapete, embora sejam inúmeros, de vulto
infinitamente maior e, ao contrário do que ocorre com o governo Dilma,
JAMAIS investigados apropriadamente.(4)
Isto tem um nome: despolitização. A mídia atira termos como
"bolivarianismo" e "Foro de São Paulo" na cabeça do público e passa a
vê-lo reproduzi-los sem terem ideia do absurdo que dizem. Como aqueles
que afirmam, sem hesitar, que o filho de Lula se tornou multimilionário e
é dono da Friboi, duas mentiras que, de tanto serem repetidas, se
tornaram mantra de vários eleitores da oposição.
Já o segundo elemento que torna nossa juventude conservadora é o
contexto. Ou melhor: a falta de.
Quem tem menos de 25 anos cresceu num
país pós-Lula. E, assim, se acostumaram a um país com problemas
infinitamente menores do que aqueles que eu vi ao crescer. É uma
juventude que compreensivelmente quer melhorias constantes, mas à qual
falta a compreensão de que 500 anos de injustiças não são corrigidos em
apenas 12 anos. É uma juventude que nunca leu nas capas de jornal que a
fome estava matando um número trágico de crianças, que não viu
milhares de indivíduos com curso superior fazendo fila pra um concurso
de gari numa época em que o Brasil era o 2o pais do mundo em
DESEMPREGO, que não viu os juros dos bancos atingirem 79% ao ano, etc,
etc, etc. (5)
Infelizmente, estes jovens não se lembram de como o Brasil era antes da
era Lula-Dilma. Mas eu lembro. Lembro do Plano Cruzado com suas
donas-de-casa fiscais de preço; do confisco da bolsa; dos apagões de
FHC e sua dependência do FMI (6). Lembro de quando FHC obrigou o país a
racionar luz (7). Lembro da falta de oportunidades na educação pública
(8). Da falta de universidades (9) (que poderia ser pior; já que ele
cogitou acabar com as públicas) (10). Lembro da inflação (que tantos
dizem que FHC controlou, mas que na realidade subiu descontroladamente
no seu mandato).(11) Lembro da compra de votos pra reeleição (200
mil/deputado). (12) Lembro dos grampos telefônicos na era FHC.(13)
Lembro do Engavetador-Geral da União, que, ao contrário do que ocorre
hoje, não permitia que as denúncias fossem investigadas.(14) Lembro do
vexame da “festa” dos 500 anos.(15) Lembro do 1,6 BILHÃO que FHC deu ao
Marka/FonteCindam (e lembro do Cacciola).(16) Lembro do filho de FHC e
seu envolvimento com a EXPO 2000.(17) Lembro do massacre no Eldorado
dos Carajás.(18) Lembro da dengue descontrolada.(19) Lembro dos
reajustes de 580% na telefonia.(20) Lembro do PIB ridículo.(21) Lembro
dos mais de 2 BILHÕES de fraude na SUDAM de FHC.(22) Lembro de FHC
chamando aposentados de “vagabundos”.(23) E o povo brasileiro de
“caipira“.(24). Lembro de como Aécio, ao contrário do que afirmou
recentemente, votou contra o aumento real do salário mínimo.(25) Lembro
de como Aécio sabotou CPI sobre a má gestão tucana da Petrobrás em
2001, que resultou no afundamento de uma plataforma.(26) Lembro de
Armínio Fraga, que Aécio anunciou como seu ministro da Fazenda, dizendo
que o salário mínimo está alto demais.(27) Lembro de quando Armínio
era presidente do Banco Central e elevou os juros básicos de 37% para
45%.(28)
Lembro, enfim, muito bem de como era este país até 12 anos atrás. Esta é
a questão: não falo tanto de política porque gosto. Ao contrário: me
dá dor de cabeça, me faz perder leitores e me prejudica
profissionalmente.
Eu falo tanto de política porque preciso. Tenho dois filhos. Não quero
pra eles o Brasil no qual cresci. Não quero retrocesso. E é por esta
razão, por saber que tenho tantos leitores jovens, que me sinto na
obrigação de passar a eles um pouco do que vivi e testemunhei. Porque
acredito na generosidade da juventude e acredito que, quando forem
lembrados de como este país era e do que se tornou, votarão com a
consciência de que, depois de 500 anos de miséria e fome, os últimos 12
anos viram uma redução de 75% na pobreza extrema (imaginem isso!)(29),
viram o Brasil sair PELA PRIMEIRA VEZ do mapa da fome da ONU (30) e
também viram nosso país ser premiado por iniciativas públicas pela mesma
ONU (31).
E trazer estas informações para nossos jovens, em vez de apenas
bombardeá-los com factóides e denúncias que sempre parecem surgir
magicamente nas vésperas da eleição, não é ativismo político; é apenas
ser responsável como cidadão.
http://www.contextolivre.com.br/2014/10/carta-aberta-quem-tem-menos-de-25-anos.html
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