Conta uma conhecida fábula, ao ser salvo de um incêndio o escorpião
picou o sapo que o carregava nas costas até a outra margem do rio. O
sapo atordoado só teve tempo de perguntar por que o escorpião o atacara
ao que o escorpião respondeu: é o meu instinto.
Não há nada de novo na atuação da Rede Globo nessas eleições. A
fórmula repete a atuação que o grupo de comunicações teve em 54, 64, 85,
89, 2002, 2006, 2010 e 2012. A tentação autoritária de manipular a
informação, em prol dos interesses dos conglomerados da comunicação, até
hoje sempre falou mais alto do que qualquer código de ética.
Já faz parte de uma espécie de Padrão Globo de desestabilização da
democracia, com o qual o Brasil convive há mais de 60 anos. Entre os
meios para tal efeito, o Jornal Nacional pode ser comparado ao instinto
incontrolável do escorpião.
Para compreender melhor esta analogia, apresento uma linha do tempo
com os fatos marcantes que demonstram a participação nada imparcial da
Rede Globo nas decisões políticas do país desde a década de 50.
Década de 50
Em 1954, o jovem Roberto Marinho, então proprietário da Rádio e do
Jornal O Globo se soma a Assis Chateaubriand, proprietário da TV Tupi e
da Rede de Diários Associados, a Carlos Lacerda e a segmentos golpistas
das Forças Armadas para derrubarem Getúlio Vargas do Poder. Durante 30
dias atacaram incessantemente Vargas, afirmando que o Brasil estava
enterrado num mar de lama, até conseguirem o golpe militar que levou
Getúlio ao suicídio(1).
Década de 60 – 70
Em 1964, as Organizações Globo lideraram uma campanha pela derrubada
do governo de João Goulart, eleito democraticamente, afirmando que o
país estava à beira do Comunismo. Em diversos editoriais, Marinho
conclamava o golpe e fez um dos mais famosos artigos no dia 01 de abril,
comemorando a derrubada do Regime Democrático.(2)
Documentos secretos do Governo americano, recentemente publicados,
mostram que ao longo de todo o regime, Marinho foi o principal
articulador da continuidade e do endurecimento do regime, atuando
diretamente com o embaixador dos EUA, inclusive contra o Ditador Castelo
Branco.(3)
Década de 80
Todo esse apoio fez Marinho ser reconhecido como o “mais fiel e
constante aliado” pelos dirigentes da Ditadura. Ao final de 20 anos de
Ditadura a fortuna da família Marinho ultrapassava os R$ 52 bilhões,
angariando dezenas de concessões de rádio e TV em todo o país.(4)
Em 1984, a Rede Globo foi a última emissora nacional a noticiar os
Comícios das Diretas Já. A primeira veiculação ocorreu em 25 de janeiro,
quando milhares de pessoas estavam na Praça da Sé, mas o Comício foi
noticiado como parte das comemorações dos 430 anos da cidade de São
Paulo, epor determinação de Marinho, como já relatou o então
vice-presidente do Grupo, Boni. (5)
Em 1989, a Rede Globo envidou fortes esforços para eleger Fernando
Collor de Mello (dono da TV Gazeta de Alagoas, retransmissora da Globo)
especialmente através da manipulação de trechos do último debate entre
Collor e Lula, no Jornal Nacional.
Anos 2000
Em 2006, o jornalista encarregado de cobrir as eleições, Luiz Carlos
Azenha, denunciou que a ordem era não falar de assuntos de economia,
pois estes ajudavam a Lula. Na edição da véspera do primeiro turno, o
Jornal Nacional mostrou durante 14 minutos ininterruptos fotos do
dinheiro que teria sido usado para comprar um suposto dossiê contra José
Serra. Outro jornalista, Rodrigo Vianna, relatou que a direção da
emissora barrou reportagens e investigações que envolvessem o PSDB e
José Serra. (6)
Em 2010, a emissora lançou sua campanha de aniversário de 45 anos,
destacando o número e com um jingle que tinha por refrão “todos queremos
mais”, casualmente parecido com o slogan de José Serra, “O Brasil pode
mais”. Mas o fato mais notório da cobertura foram as edições do JN que
divulgaram que Serra fora “agredido por militantes petistas, passado mal
e levado a um hospital”, o que depois foi comprovado ser uma farsa
montada após o candidato ser atingido por uma bolinha de papel.
Nas eleições de 2012, em todas as edições do Jornal Nacional durante o
2 turno, a cobertura do julgamento do mensalão teve mais de dez minutos
de duração, começando sempre imediatamente após o horário eleitoral.
A mesma receita
Ao longo dos últimos 40 anos, o Jornal Nacional sempre foi o canal
por onde a Rede Globo operou suas manipulações da informação. O mais
famoso telejornal brasileiro teve um reconhecimento público do mais
atroz Ditador brasileiro, Médici, que afirmou em entrevista: “Sinto-me
feliz todas as noites quando ligo a televisão para assistir ao jornal.
Enquanto as notícias dão conta de greves, agitações, atentados e
conflitos em várias partes do mundo, o Brasil marcha em paz, rumo ao
desenvolvimento. É como se eu tomasse um tranquilizante após um dia de
trabalho”.
Além desses feitos, a emissora nunca dispensou atenção sequer
assemelhada a casos como a compra de votos na aprovação da Emenda da
reeleição de FHC, as diversas denúncias de corrupção bilionária nas
privatizações (estimado em R$ 100 bi) o caso Banestado e Ilhas Cayman
(R$ 42 bi), dos vampiros da saúde (R$2,4 bi), dos anões do orçamento (R$
800mi), do Tremsalão tucano (R$ 570 mi), da Sudan (R$ 214 mi), nem do
Mensalão tucano de MG, todos ligados a políticos ou governos do PSDB.
No auge das manifestações do ano passado, quando milhares de jovens
protestavam em frente a Rede Globo, em São Paulo, contra suas formas de
cobertura (o que obviamente nunca foi noticiado), a emissora fez um
editorial pedindo desculpas pelo apoio que havia dado ao Regime Militar.
Parecia um compromisso de que dali em diante, as novas gerações que
controlam a empresa não sucumbiriam mais à tentação de manipular a
informação para influenciar a política brasileira.
Mas desculpas à parte, a incapacidade da Rede Globo em realizar
coberturas eleitorais de forma imparcial parece estar encravada em seu
DNA. Ao invés de assumir publicamente uma posição em prol de determinada
candidatura, como é comum nas grandes redes de comunicação dos EUA e da
Europa, a Organização disfarça uma pretensa neutralidade e coloca em
curso sua obsessão por influenciar as eleições.
Por isso, quando sentar para assistir o Jornal Nacional, saiba que o instinto do escorpião é incontrolável.
Alberto Kopittke
http://www.sul21.com.br/jornal/globo-o-escorpiao-da-democracia-brasileira-por-alberto-kopittke/
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