quinta-feira, 30 de outubro de 2014

A sociedade brasileira está isolada

A sociedade civil organizada foi desarticulada nas décadas de 70 e 80, em seu lugar surgiram grupamentos corparativos, cada um se mobilizando em torno de seus interesses específicos.
Essa é a sociedade que Bauman definiu de "liquido", é individualista, amorfa e vazia. Não há mais interesses coletivos sendo defendidos, é a vida do cada um por si.

Esse isolamento favoreceu que grupos mais fortes tomassem a rédea dos debates do país. Assim, segmentos como a bancada ruralista e a evangélica se tornaram mais fortes do que partidos. Da mesma forma a imprensa que detém a informação e o rentismo detentor do capital se tornaram os verdadeiros mandantes dos destinos do país.

Muito se fala que na última década o Congresso Nacional aprovou Leis e o STF decidiu favoravelmente em temas progressistas e citam  o casamento gay, as células tronco, a demarcação de terras indígenas, mas vejo, da mesma forma como ocorreu a nossa abolição da escravatura que só aconteceu pela pressão da maior economia da época, a Inglaterra, que tais temas foram pautados por pressões internacionais para os quais a mídia e o rentismo nacionais não tiveram forças suficientes para impedir tais avanços.

Na área do executivo a Carta aos Brasileiros, de Lula, foi emblemática no sentido de deixar claro que a vitória de Lula nas urnas só seria permitida pelas adequações expressas na carta. Movimentos do governo fora dos interesses da mídia e do rentismo só alcançaram sucesso em 2008 pela condição do mundo e do país se encontrarem em abismo econômico sem que o sistema tivesse conseguido apresentar propostas que representassem avanços. Ainda assim, naquele período, o presidente Lula foi obrigado a demitir o presidente do Banco do Brasil que se recusava a seguir a orientação anticíclica do governo. As pressões foram enormes e a mídia massificou que o BB iria falir, que o governo se tornava interventor, e outras baboseiras mais.

No período Dilma, quando o Banco Central ousou diminuir os juros contra o queriam a mídia e o mercado as pressões foram insuportáveis e o BC teve que voltar atrás.

Concluindo, os interesses das corporações fortes como a bancada ruralista, a dos evangélicos, o rentismo e a mídia, conseguem se articular em prol dos seus interesses,e a total deficiência de representatividade e de articulação de outros grupos para agirem em conjunto, deixam as instituições democráticas ora limitadas para controlar o equilíbrio para o qual foram concebidas, ora decidindo de forma corporativa dentro dos seus interesses mais específicos e menos nacionalistas.

A imprensa passa a ser a detentora da verdade nesse mundo líquido, amorfo, individualista e segmentado, e acrescido que pelas regras atuais, ela atua sem qualquer instrumento que delimite responsabilidades, se tornando mais forte do que as instituições de poder delegados da população, ao mesmo tempo em que nossos congressistas se sentem pelo próprio apoio da mídia, seres isolados, descomprometidos com  as promessas feitas aos eleitores e atendendo a interesses individualizados,  daí as pressões para que não sejam aprovados a regulamentação da mídia, a ideia de ampliar as formas deliberativas inserindo a população na participação social nos debates sobre o destino do país, o bloqueio de que a população participe ativamente e de forma direta da reforma política, e a dificuldade de se avançar na reforma tributária.

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