A sociedade civil organizada foi desarticulada nas décadas de 70 e
80, em seu lugar surgiram grupamentos corparativos, cada um se
mobilizando em torno de seus interesses específicos.
Essa é a sociedade que Bauman definiu de "liquido", é individualista,
amorfa e vazia. Não há mais interesses coletivos sendo defendidos, é a
vida do cada um por si.
Esse isolamento favoreceu que grupos mais fortes tomassem a rédea dos
debates do país. Assim, segmentos como a bancada ruralista e a
evangélica se tornaram mais fortes do que partidos. Da mesma forma a
imprensa que detém a informação e o rentismo detentor do capital se
tornaram os verdadeiros mandantes dos destinos do país.
Muito se fala que na última década o Congresso Nacional aprovou Leis e
o STF decidiu favoravelmente em temas progressistas e citam o
casamento gay, as células tronco, a demarcação de terras indígenas, mas
vejo, da mesma forma como ocorreu a nossa abolição da escravatura que só
aconteceu pela pressão da maior economia da época, a Inglaterra, que
tais temas foram pautados por pressões internacionais para os quais a
mídia e o rentismo nacionais não tiveram forças suficientes para impedir
tais avanços.
Na área do executivo a Carta aos Brasileiros, de Lula, foi
emblemática no sentido de deixar claro que a vitória de Lula nas urnas
só seria permitida pelas adequações expressas na carta. Movimentos do
governo fora dos interesses da mídia e do rentismo só alcançaram sucesso
em 2008 pela condição do mundo e do país se encontrarem em abismo econômico sem que o sistema tivesse conseguido apresentar propostas que
representassem avanços. Ainda assim, naquele período, o presidente Lula
foi obrigado a demitir o presidente do Banco do Brasil que se recusava a
seguir a orientação anticíclica do governo. As pressões foram enormes e
a mídia massificou que o BB iria falir, que o governo se tornava
interventor, e outras baboseiras mais.
No período Dilma, quando o Banco Central ousou diminuir os juros
contra o queriam a mídia e o mercado as pressões foram insuportáveis e o
BC teve que voltar atrás.
Concluindo, os interesses das corporações fortes como a bancada
ruralista, a dos evangélicos, o rentismo e a mídia, conseguem se
articular em prol dos seus interesses,e a total deficiência de
representatividade e de articulação de outros grupos para agirem em
conjunto, deixam as instituições democráticas ora limitadas para
controlar o equilíbrio para o qual foram concebidas, ora decidindo de
forma corporativa dentro dos seus interesses mais específicos e menos
nacionalistas.
A imprensa passa a ser a detentora da verdade nesse mundo líquido,
amorfo, individualista e segmentado, e acrescido que pelas regras
atuais, ela atua sem qualquer instrumento que delimite
responsabilidades, se tornando mais forte do que as instituições de
poder delegados da população, ao mesmo tempo em que nossos congressistas
se sentem pelo próprio apoio da mídia, seres isolados, descomprometidos
com as promessas feitas aos eleitores e atendendo a interesses
individualizados, daí as pressões para que não sejam aprovados a
regulamentação da mídia, a ideia de ampliar as formas deliberativas
inserindo a população na participação social nos debates sobre o destino
do país, o bloqueio de que a população participe ativamente e de forma
direta da reforma política, e a dificuldade de se avançar na reforma
tributária.
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