A Oxfam Internacional lançou hoje um relatório sobre a desigualdade
econômica. Segundo a ONG, 70% da população mundial vive em países onde a
desigualdade cresceu nos últimos 30 anos. A Organização afirma que
apenas o patrimônio líquido dos bilionários da Índia é suficiente para
eliminar duas vezes a pobreza absoluta do país. Os dados não param aí:
as 85 pessoas mais ricas do mundo possuem fortuna igual à da metade mais
pobre da população mundial. E no último ano eles ainda ficaram 14% mais
ricos.
Desigualdade está 'fora de controle' e pode levar a 'retrocesso', diz Oxfam
Por Fabio Murakawa
Do Valor Econômico
A desigualdade econômica no mundo está "fora de controle" e "pode
levar a um retrocesso de décadas na luta contra a pobreza", segundo
relatório da Oxfam Internacional que será divulgado hoje.
O estudo "Equilibre o Jogo: é hora de acabar com a desigualdade
extrema" abre uma campanha de cinco anos da entidade "para pressionar
líderes mundiais a transformar a retórica em prática e garantir
condições mais justas às pessoas mais pobres".
Nele, a Oxfam cita uma série de dados. Segundo a ONG, sete em cada
dez pessoas no mundo vivem em países onde o abismo entre ricos e pobres
cresceu nos últimos 30 anos. Outro exemplo: patrimônio líquido dos
bilionários na Índia é suficiente para eliminar duas vezes a pobreza
absoluta do país.
Ainda de acordo com a ONG, com base em relatório anual da revista
"Forbes", as 85 pessoas mais ricas do mundo detêm uma fortuna igual à
soma das posses de metade da população mais pobre do planeta. No período
de um ano, entre março de 2013 e março deste ano, a riqueza desses
bilionários ficou 14% maior. Isso representa um aumento anual de US$ 244
bilhões - ou US$ 668 milhões por dia.
A Oxfam diz que o ritmo de alta da desigualdade vem se acentuando
após a crise econômica global. Nos últimos quatro anos, a riqueza somada
dos bilionários subiu 124%, atingindo US$ 5,4 trilhões - o que
corresponde a duas vezes o PIB (Produto Interno Bruto) da França em
2012.
Segundo a Oxfam, o "fundamentalismo de mercado" e o que chama de
"captura política pelas elites" são os principais fatores a contribuir
para o aumento da concentração de riqueza no mundo.
"A desregulamentação econômica conseguiu promover crescimento, mas
seus benefícios foram aproveitados por muito poucos e não chegaram aos
mais pobres", disse ao Valor Simon Ticehurst, diretor da Oxfam
Internacional no Brasil. "Além disso, há uma capacidade desproporcional
dos mais ricos em influenciar políticas públicas."
Todo esse poder de decisão concentrado na camada mais rica da
população, pelo raciocínio da Oxfam, dificulta a adoção de políticas
públicas que propiciem a redução da desigualdade, como uma tributação
progressiva sobre a riqueza (em vez da taxação do consumo, por exemplo) e
leis que combatam a evasão fiscal.
Em 2013, a Oxfam estimou que o mundo perdeu cerca de US$ 156 bilhões
em receitas fiscais por causa da alocação de ativos de pessoas ricas em
paraísos fiscais. "Quando os mais ricos desfrutam de baixos impostos e
podem se aproveitar de brechas fiscais, e quando os mais ricos podem
esconder seu dinheiro em paraísos fiscais no exterior, gigantescos
buracos são abertos nos orçamentos nacionais, que devem ser preenchido
pelo resto de nós, redistribuindo renda ao contrário", diz o documento.
Pelos cálculos da Oxfam, 23 milhões de vidas poderiam ter sido salvas
nos 49 países mais pobres do mundo se tivesse sido criado um imposto de
"apenas" 1,5% sobre as fortunas dos bilionários do mundo, caso esse
dinheiro fosse investido em assistência médica.
A entidade faz ainda uma relação direta entre a desigualdade e
fenômenos como o aumento da violência. Usa, como exemplo, a América
Latina, "região mais desigual e insegura do planeta". A América Latina,
diz a ONG, reúne 41 das 50 cidades mais violentas do mundo e foi palco
de 1 milhão de assassinatos entre 2000 e 2010.
Ticehurst, além disso, elogia o Brasil como "um dos poucos países do
mundo onde houve redução da desigualdade nas últimas décadas. "É o único
país dos Brics, um dos poucos do G-20 onde isso aconteceu", afirma. Ele
pondera, no entanto, que apesar da "redução significativa", o país
ainda está entre os 12 mais desiguais do mundo e os quatro mais
desiguais da América Latina.
Segundo ele, os 10% mais ricos do Brasil concentram 42,9% da riqueza
do país. A fatia dos 40% mais pobres, por sua vez, é de 10%.
Para ele, o modelo usado pelo Brasil para a redução de desigualdade
deu certo, mas "não será suficiente para continuar a reduzir a
desigualdade no país".
"A fase mais fácil já passou. A mais difícil inclui uma reforma
fiscal que leve a um modelo de tributação mais progressivo", afirma.
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