A instabilidade mundial é fruto da globalização e do liberalismo. Começa
com as grandes invasões, que os livros de história preferiram chamar de
grandes descobertas, e com a revolução industrial (mesmo com raízes
anteriores). As promessas de um mundo melhor, mais justo, equilibrado e
democrático não foram alcançadas pelo modelo e as populações começam a
se rebelar.
No Brasil
Desde que fomos invadidos pelos portugueses nossas riquezas são
remetidas para o exterior, como brilhantemente expõe o escritor Eduardo
Galeano no belíssimo livro "As Veias Abertas da América Latina".
Para suprir necessidade, cada vez maior, de se extrair com trabalho
árduo as nossas riquezas naturais e frustradas as tentativas de submeter
os nossos índios,importamos um enorme leva de escravos.
Assim, se solidifica a famosa "casa grande e senzala", criando uma
pequena e poderosíssima elite e uma enorme população de escravos, uma
estratificação sólida e que de certa forma se mantém até os dias atuais,
dificultando avanços democráticos.
Com a revolução industrial, continuamos a remeter ao estrangeiro nossas
matérias primas sem valor agregado para que alimentasse a indústria de
outros países enquanto as matérias processadas retornavam com valores
muito mais caros.
A indústria estrangeira precisando de consumidores e trabalhadores em
suas fábricas forçam a libertação dos escravos para que se tornem
consumidores e trabalhadores nas fábricas. Com o aumento da produção e
necessidade maior de consumidores a Inglaterra força o Brasil a libertar
os seus escravos, enfim, fomos os últimos a fazê-lo.
Com a saturação dos polos industriais e o desenvolvimento de tecnologias
que tornaram as fábricas obsoletas, inicia-se mais fortemente a chamada
globalização, onde as indústrias exportavam as suas já vencidas
máquinas para os países periféricos.
Fábricas chegam ao Brasil com seus maquinários ultrapassados, e entre os
principais objetivos estava a necessidade constante de importação de
peças, na realidade recebíamos montadoras, e os lucros remetidos para as
matrizes, dificultando o desenvolvimento de uma tecnologia nacional.
Tentativas de quebrar o modelo
Continuamos com uma elite arcaica que visa o lucro pessoal e que pouco
se importa com o desenvolvimento do Brasil, já que o nosso imenso
território, as excelentes condições geográficas, proporcionam altos
lucros com poucos esforços na procura de avanços tecnológicos.
Enquanto a nossa indústria continua afundada, nos vangloriamos do nosso
PIB ser sustentado pelo agronegócio e a indústria de automóvel. Não é
possível sermos um pais de grande frota de automóveis sem uma empresa
nacional e continuar exportando commodities.
Algumas formas de se modificar esta dependência internacional e o
"status quo" da nossa elite foram tentadas, mas terminaram esbarrando no
poder que as nossas elites tem, sempre atuando em parceria com a
estrangeira, como os parágrafos acima remetem.
Não se mudará esta condição sem reformas estruturais.
A tentativa mais ousada se deu com a tentativa de se implementar as
famosas reformas de base por Goulart, que por propor mudanças radicais
na estrutura que sempre beneficiou a elite, brasileira e suas parceiras
estrangeiras, e isso em plena guerra fria, não poderia ter consequência
diferente da do que ocorreu.
As que mais assustaram os detentores do "status quo":
1) Restringir a remessa de lucros do capital estrangeiro, com o provável
objetivo de obrigar que os grupos nacionais e estrangeiros
reinvestissem o lucro por aqui.
2) Reforma agrária, provavelmente visando diminuir os grandes
latifúndios, origem da nossa "casa grande e senzala", e para mim motivo
principal da baixa industrialização do país pelos motivos expostos nos
parágrafos anteriores.
Esses dois pontos são debatidos até hoje, a reforma agrária internamente
pois somos um dos poucos países democráticos que não a implementamos de
maneira mais efetiva.
A restrição de remessas de lucros, e similares, ganha foro
internacional na atualidade pela forma extremamente volátil do capital
que se transfere a qualquer momento de um lugar para outro, provocando
dificuldades, inclusive em países "players". O próprio debate sobre
protecionismo tão em moda pós quebradeira de 2008, e a dificuldade de
crescimento das economias provavelmente trará uma reorganização do
setor.
Outras propostas por Goulart foram implementadas desde os governos
militares, como, por exemplo, o direito de votos para os analfabetos, a
igualdade de direitos dos trabalhadores rurais com o urbano.
Nos governos militares, o Brasil teve altos índices de crescimento do
PIB, mas, de forma continuada à dependência externa, aumentou mais ainda
o nosso endividamento, trazendo empresas estrangeiras, capital externo,
ao invés de se incentivar a criação de tecnologias e parque industrial
próprio. A convergência dos governos militares aos princípios da
globalização e do liberalismo desmonta as nossas escolas públicas, e a
forma desordenada de crescimento faz aumentar a desigualdade social.
Com dívidas paralisantes e altíssima inflação herdada, nada fizeram os
governos Sarney e Collor/Itamar, no entanto, neste último, começou-se a
corrigir o problema da inflação que corroía o salário do trabalhador e a
produção já que o dinheiro migrava fortemente para a especulação, com a
elaboração do plano real que veio a ser implantado no governo seguinte,
a era FHC.
Com a inflação controlada, restava os altíssimos índices de
endividamento que levou o Brasil a "quebrar" três vezes e o caminho
encontrado foi a venda de lucrativas empresas públicas, em processos até
hoje questionados, a famosa privatização do Brasil.
Essas ações, atendendo à determinação da globalização e do liberalismo,
principalmente representados pelo FMI e Banco Mundial, terminaram por
aumentar mais ainda a nossa dependência ao capital externo, que remetem
os seus lucros para as matrizes, imobilizando o nosso desenvolvimento
tecnológico.
Sem desenvolvimento a condição "casa grande e senzala" permanece em nossa sociedade.
Os governos Lula/Dilma são eleitos pela promessa de se quebrar a
condição da "casa grande e senzala", com propostas de aumento real de
salário mínimo, criar empregos, implementar o fome zero, romper com o
neoliberalismo que além de concentrar riqueza, provoca a continuidade da
dependência ao capital externo e remessas de lucros para fora do país.
Alguns avanços são conseguidos, tendo o Brasil batido recordes de
emprego, vem realizando o aumento real do salário mínimo, mas, ao mesmo
tempo, e nas palavras do próprio Lula; "nunca os banqueiros ganharam
tanto dinheiro como no meu governo", remete à ideia de que a "casa
grande e senzala" permanece intacta, com sua concentração de riqueza,
manutenção da elite que com seu conservadorismo é avesso à inovação, e
aqui está incluída a tecnológica.
As dificuldades de o governo trazer o empresariado nacional para o jogo
produtivo também é algo preocupante, abrindo a possibilidade que o
capital estrangeiro mais uma vez entre no país, agora em outras áreas
estratégicas e de necessidade urgente de investimentos para o avanço da
produção como os portos, aeroportos e estradas.
A nossa dependência e submissão ao capital externo parece se
solidificar ainda mais, e realizar as reformas estruturais para trazer a
nossa independência se torna algo cada vez mais difícil.
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