sexta-feira, 19 de abril de 2013

Pai do Real defende ambiente e prega fim da desigualdade

Os artigos reunidos de André Lara Resende rejeitam um atalho muito usado para se formar opinião: o atalho dos estereótipos.

Em vez de refletir de forma independente, observa-se quem está dos dois lados e decide-se com quem se tem mais identificação. "A reflexão é substituída por um processo de empatia", afirma.

Lara Resende prefere correr o risco de pensar por conta própria. Não é um caminho fácil. "Sem alinhamento automático, corremos o risco de criar perplexidade e até mesmo de provocar irritação."

Economista tucano e um dos formuladores do Plano Real, o filho do escritor Otto Lara Resende não se escora no currículo para hipotecar suas fichas intelectuais a um dos lados.

Foge da "armadilha dogmática" sem se incomodar de pagar o preço de parecer contraditório.
O que não aceita são os rótulos de esquerda e direita, que considera ultrapassados.

Divide os campos ideológicos entre progressistas e conservadores e se sente confortável com a etiqueta de "conservador ilustrado".

Não se trata de eufemismo para elitista empedernido. O conservador, na definição do autor, é o cético que desconfia das propostas idealistas totalizantes, aí incluída a defesa do Estado mínimo feita pela direita radical.

Esse conservador também não acredita em utopias. "Seu objetivo é mais modesto: minimizar o sofrimento e melhorar a qualidade de vida."

É dessa perspectiva que ele defende o combate à desigualdade social, como algo mais prioritário do que o próprio crescimento econômico, e cobra respeito à exploração física do planeta, que já está próxima do limite do tolerável.

O fato de as duas ideias dificilmente penetrarem na agenda da maioria dos governos só torna mais relevante a intervenção de Lara Resende.

Da mesma maneira, o fato de tais propostas não partirem de um ambientalista extremado ou de um intelectual do campo progressista --de quem se esperaria essas opiniões-- tende a matizar o debate.

Os dois pontos estão interconectados. O crescimento econômico depende da manutenção de um modelo consumista que ameaça os recursos naturais.

Mas o que realmente conta, diz o autor, é a qualidade de vida, que não tem a ver, necessariamente, com expansão ou consumo.

Lara Resende cita uma pesquisa que mostra que, a partir de um determinado nível de renda, "a redução das desigualdades contribui mais para o bem-estar que o crescimento".

E como reduzir a disparidade dos padrões de vida? Ele não tem a resposta.

"O intelectual, ao contrário do político, do catequizador e do dogmático, não tem respostas." Só diz como isso não deve ser feito: com aumento da intermediação do Estado e restrições às liberdades individuais.

Lara Resende também aborda temas da conjuntura. Sobre a crise mundial, acha que será prolongada pela opção de se ter evitado a depressão. Trocou-se "um fim horroroso por um horror sem fim".
Sobre os juros altos no Brasil, diz que decorrem da estabilização inacabada, já que as reformas modernizadoras foram abandonadas.

OSCAR PILAGALLO, jornalista, é autor de "História da Imprensa Paulista" (Três Estrelas) e "A Aventura do Dinheiro" (Publifolha).

http://www1.folha.uol.com.br/mercado/1261970-pai-do-real-defende-ambiente-e-prega-fim-da-desigualdade.shtml

Nenhum comentário:

Postar um comentário