Por Rodrigo C Moreira
Comentário ao post "http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/a-crise-das-elites-em-tempos-de-mudanca?page=2"
Meu caro, eu lhe digo que seu tempo já passou, mas, como sói ocorrer
com as pessoas mais velhas no nosso país, você acha que é melhor que os
mais novos e que eles "não estão preparados".
O comentário do Nassif é perfeito e reflete a dificuldade que nossa
cultura tem de fazer a passagem de gerações, deixando que os mais jovens
assumam posições de destaque e os mais velhos, enfim, saiam de cena.
Minha geração, como bem disse o Nassif, pensa o país o tempo todo,
mas não corre para pedir a benção de vocês. Nossa hora vai chegar, e
quando vocês menos esperarem, vamos assumir o espaço que nos cabe.
Infelizmente, no entanto, isso não deverá ocorrer pelas vias
tradicionais, pois, como também disse o Nassif, a mídia, os partidos e,
em certa medida, as empresas mais tradicionais, não nos dão espaço - ou,
quando dão, é um espaço tutelado, onde a gerontocracia quer se
perpetuar e nos faz concessões ridículas, presumindo que devemos estar
ali apenas para fazer figuração.
Nosso espaço é "alternativo". Vamos ascender (estamos ascendendo)
através da internet e o empreendedorismo. Somos nós nas start-ups e na
internet. É nestes espaços que verbalizamos nossa vontade de mudança.
Vocês podem fazer chacota disso ou menosprezar estes instrumentos por
que não envolvem cara pintada ou coquetel molotov na PM. Mas são os
espaços que temos, que conquistamos. É lá, nas nossas novas empresas e
na internet, que somos livres para nos expressar e fazer as coisas do
nosso jeito sem ter que pedir benção a um sujeito de cabelo branco cujos
"30 anos de experiência" são suficientes para reduzir nossas opiniões a
mera pirraça.
Serão espertos os mais velhos e mais sábios que identificarem esta
tendência. Estamos loucos por espaço. Estamos loucos por mudança - e
mudanças maiúsculas.
Por exemplo: não temos saco para burocracia. Não temos espaço para
perda de tempo. Queremos cidades funcionais e cosmopolitas. Queremos
mais arte, mais comércio, mais dinheiro, mais liberdade. Somos
capitalistas, mas não queremos um capitalismo predatório. Não gostamos
de hierarquia sem legitimidade - ou seja, para que o sigamos, você tem
que mostrar que é bom, senão a gente simplesmente te ignora. Gostamos de
ter opinião, de debater, de criticar e discordar - e depois sair para
um chopp, sem o menor problema.
Minha geração é difícil de entender por que ela é completamente
diferente das anteriores. Nascemos na democracia, sem guerra fria, sem
muro de Berlim. Para nós, essa dicotomia "preto x branco" não tem muito
sentido. Vivemos com a internet. Para nós, o tempo é meio que "um só".
Queremos relaxar no trabalho e, eventualmente, trabalhar fora do
expediente. Queremos participar, construir, empreender - por isso, somos
empreendedores. Não conhecemos tanto a crise e a dificuldade, é
verdade, mas por isso talvez sejamos mais ambiciosos. Para nós,
"sobreviver" realmente nao é suficiente. A gente realmente nao quer só
comida - mas participação, diversão, arte. Somos mais cosmopolitas - ao
menos na classe média (e agora, com o CSF, até os menos abastados),
falamos inglês com mais facilidade, temos amigos estrangeiros,
conhecemos outras realidades. Queremos interação e integração. Não
precisamos de intermediários para quase nada: queremos notícia, vamos
atrás, fazemos nossa própria apuração. Não precisamos do Wiliam Bonner e
nem do Mino Carta. Queremos acesso a eles, mas acreditamos neles se
quisermos.
E por aí vai.
Até agora ninguém captou nossa vontade e tendência por uma razão
simples: ninguém nos conhece. E acredito que ninguém nos conheça por que
nós nao estamos nos partidos, na cúpulas das empresas e nas redações.
Ou, se estamos, vamos lá fazer figuração - e é importante ressaltar
isso: nao gostamos de perder tempo. Se é para ir a uma reunião de
partido ou o que quer que seja para puxar o saco de um velho e ficar
repolicando o que ele diz, é melhor não ir. E, como nestes espaços a
divergência é um pecado, a gente acaba nao tendo espaço.
Nas empresas ocorrer processo semelhante: para não levar um
"passa-moleque" ou ter o emprego ameaçado, preferimos ficar na nossa,
cumprir nosso dever e ganhar nosso dinheiro e nos expressar fora daquele
espaço, seja abrindo uma empresa, seja se manifestando num blog ou na
internet.
Acredito, neste sentido, que o cenário irá mudar na medida em que as
instituições se darem conta de que devem fazer uma passagem de geração -
e uma passagem de verdade, não uma passagem tutelada. Deixem que
façamos o nosso tempo. Que acertemos e erremos.
Se vocês não deixarem... bom, nós vamos fazer de um jeito ou de outro. Daí a questão é: fazer com vocês ou "apesar de vocês".
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