domingo, 19 de maio de 2024

Ascensão de uma era digital na qual o poder intervém na psiquê

O nascimento do Phono Sapiens
Somos todos infomaníacos e não habitamos mais a terra e o céu, e sim o Google Earth e a nuvem. Exagero? 

Por Jorge Barcellos
Doutor em Educação (UFRGS)

O filosofo coreano Byung Chul Han acaba de lançar o livro No Cosas (ainda sem tradução para o português), uma análise do significado da uso das redes sociais em nosso mundo. 

Para Han, a hipercomunicação digital tem como efeito a formação de indivíduos isolados carentes de alma e de um sentimento de “nós” capaz de uma ação comum ou de seguir uma direção.

Fim da era biopolítica descrita pelo filósofo Michel Foucault, ascensão de uma era psicopolítica digital na qual o poder intervém na psiquê, os grandes conglomerados proprietários do Facebook e Google trabalham para conhecer nosso desejo e dele tirarem lucro.

Em Nada, o filósofo fala da internet como lugar da emergência desse nada das redes sociais, onde substituímos a violência do mundo por um reino de informação disfarçada de liberdade. 

Sem redes sociais, o mundo desaparece, mas ele na verdade já havia se esvaziado das coisas quando se encheu de informações porque a digitalização desmaterializa e suprime as memórias. 

Han não é o primeiro a criticar a negatividade das redes sociais. 

Antes dele, o filósofo Paul Virilio definiu que chegaria a época do acidente integral, o momento em que o mundo dos algoritmos, nossa criatura, se vingaria de seu criador. 

Para Han, nos tornamos adictos das redes sociais, viciados pelo estímulo de surpresa. Sete horas sem estímulos é como ficar cego. 

Estímulos desestabilizam, para viver você precisa de estabilidade. “Não habitamos mais a terra e o céu, mas o Google Earth e a nuvem”, escreve Han. 

Sem o “chão” das redes sociais, você enlouquece.

Somos todos infomaníacos, mas quando a informação prevalece, deixamos de usar as mãos naquilo que nos humanizava para usá-las no teclado que nos desumaniza: os computadores já cuidam de nós, superando o cuidado humano que definia a existência.

Na digitalização, você não para para descansar, vive em atenção permanente, situação cuja consequência já foi tema de outra obra de Han: nos transformamos na Sociedade do Cansaço.

A infosfera não emancipa; é uma nova escravidão. (...)basta cair o sistema para vermos como somos prisioneiros.

Resumo

Matéria completa: 
https://gauchazh.clicrbs.com.br/comportamento/noticia/2021/10/o-nascimento-do-phono-sapiens-ckugzzmhu002e019mw2m9rm7b.html

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