Criamos uma sociedade de pessoas privadas de estímulo criativo levando vidas sem significado. Um sistema assim vai produzir surtos de solidão, angústia, sufocamento e ansiedade. E uma população enfraquecida, adoentada e desesperada não se importará em ser controlada, vigiada, dividida. Nesse cenário, obedecer vai ser sempre mais fácil do que entender. Solidariedade e colaboração nos fizeram evoluir; competição e destruição nos alienam de nós mesmos e do planeta.
Mas seguir retrucando e criando memes de cada absurdo que sai da boca das autoridades não está levando a gente a lugar algum —a não ser para hospitais e divãs. Como então sair dessa lama?
Conversando com um poeta que chamo de irmão, obtive a resposta: festa. Precisamos de melodia, de poesia, de encontros por conspirações positivas. É o que o ultradireitismo não tolera. Que apesar das rajadas de metralhadoras sigamos escutando a música. Que apesar das epidemias de ansiedade e de melancolia sigamos celebrando. Que mesmo sufocados em desespero sigamos cantando. Que sejamos capazes de fazer amor, de trepar e de beijar em meio a ruínas.
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Hora de organizar a raiva, agasalhar a tristeza e festejar a coragem daqueles que todos os dias saem de suas casas para estudar ou trabalhar com helicópteros militares disparando rajadas a esmo. Festejar a paciência dos professores que superam a falta de salário e continuam ensinando. Festejar os quilombos, as aldeias, as comunidades e a sensatez de quem escolheu o lado do silenciado, do excluído, do injustiçado. Hora de aumentar o som, abraçar quem está ao lado e deixar o amor transbordar. Resistir é dar as mãos; e a revolução é manter-se são.
Folha de São Paulo.
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