O Estado brasileiro age como menino inseguro, rogando aos espertos que o admirem. Distraído, vulnerável. A espionagem e a sabotagem de projetos estratégicos sempre correu leve e solta. Em 1964, qualquer repórter bem informado sabia mais sobre a conspiração em curso do que o governo; as manobras na mídia (que até tentava resistir, como não mais) eram evidentes; a as notícias falsas corriam como se fossem verdadeiras. Igualzinho agora.
Talvez por ser tão grande, o Brasil julga-se distante dos problemas do mundo. No entanto, o esgoto político dos países ricos deságua aqui, freia a industrialização, agrava a luta de classes. Importamos vícios e cultura degradada.
Tivemos uma produção musical e cênica rica, diversificada: acabou. Um ciclo de intelectuais e cientistas brilhantes – educadores, sociólogos, escritores, cientistas: o mais das vezes perseguidos e rejeitados, não deixaram tão nobres herdeiros.
Hoje, bons se calam, porque não são bestas, e competentes mudam de assunto.
Desprezamos nosso povo; na verdade, não nos amamos porque queremos ser o que não somos.
Por essa via, perdemos o espelho; para recuperá-lo, precisamos de uma ideologia nacional vigorosa, capaz de costurar nossas divisões e projetar nosso futuro, porque comunidade alguma sobrevive sem ideologia: se não se representa, não almeja, não se cuida, não fantasia a própria grandeza, dilui-se.
A fragilidade nem sempre está nos braços, costuma estar no espírito.
Nilson Lage
Tijolaço
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