terça-feira, 6 de março de 2018

As pessoas perderam o caminho de casa

Tem ocorrido algo profundo e que a mídia tem dado pouca importância.

Falo da infelicidade das pessoas, perdidas na selva das cidades , falo da desconstrução da política e da desorganização dos Estados e das democracias.

A imprensa sempre teve um papel ambíguo na sua relação com a política, como aborda o recente filme de "The Post" que fala das relações dos jornais "New York Times" e do "The Washington Post" não só nas suas funções de informação e fiscalização como também nas suas relações intestinas, e nem tão republicana assim, com o poder.

Hollywood tem nos brindado com filmes de intenso conteúdo sobre a busca da imprensa pelo poder político. Além do excelente "The Post", outro que merece ser citado é o "Cidadão Kane" considerado pelos especialistas como um dos melhores filmes de todos os tempos.

A desconstrução da política pela mídia.

A imprensa, como a história demonstra, sempre esteve atrelada ao poder. Mas, é a partir do último grande movimento mundial de reforma do paradigma político que a mídia, se aproveitando dos vácuos que o próprio modelo provocava, começa o processo de desconstrução da política (representativa).

Esse movimento mundial de reforma da estrutura dos governos começa com o fim da União das Republicas Socialistas Soviéticas e com o desgaste de governos da chamada social democracia.

Para o sucesso do novo modelo, que restringe a participação popular e que desmonta a seguridade social, era necessário desqualificar e dar como superado o modelo anterior de forte participação coletiva e ativismo da política representativa.

Para implantar a mudança era preciso quebrar a estrutura de sustentação dos governos anteriores. Para tanto o Estado deveria ser desmontado ao limite de sua desativação, com a diminuição dos tributos, a privatização das empresas estatais e pela repressão aos sindicatos e quaisquer outras formas de organizações coletivas.

Surgia o "estado mínimo", de baixíssima participação popular, onde o próprio Estado promovia o desmonte das organizações sociais e trabalhistas.

Feria -se de morte as democracias. As populações, sem organizações, perderam o seu poder de determinar as diretrizes dos seus países. As populações fragilizadas já não mais exerciam o controle dos seus representantes.

Era a própria destruição da base de qualquer sistema democrático, cujas constituições definem, logo nos seus primeiros artigos, o princípio de que: "todo poder emana do povo e em seu nome é exercido de forma direta ou indireta através dos seus representantes eleitos".

Sem a força de união das populações, todo o sistema representativo fica fragilizado.

É nesse vácuo que a mídia se aproveita para, desta vez, ir além da suas funções de informação e fiscalização e se firmar como o próprio definidor das diretrizes dos países.

Dessa forma, a mídia americana trabalhou, na últimas eleições, em favor da "dama da guerra" Hilary Clinton e promove ataques diários ao governo Trump. No Brasil, no seu último pleito, a mídia blindou Aécio Neves enquanto atacava Dilma. Dilma eleita, os ataques continuaram até a sua deposição. Temer ao realizar um governo que atende aos interesses diretos e indiretos da mídia recebe um tratamento favorável - sem um bombardeamento sistemático e diário das denúncias de crimes praticados por ele, priorizando a cobertura apenas dos acertos do seu governo -  que se mantém sem riscos de impeachment, apesar das graves denúncias contra si e muitos dos seus ministros. Mesmo sendo detentor de índices recordes de desaprovação a imagem que a mídia passa é a de que Temer realiza um governo que agrada a população.

A desmobilização das organizações populares e a criminalização dos partidos políticos provocou o esvaziamento do sistema da representação política. A população reage a esse novo modelo - que lhe tira o poder conferido pela lei maior dos países democráticos, a sua Constituição - de forma descontrolada.

Sem o poder sendo originado da população, por delegação, todo o sistema fica prejudicado. As instituições se tornam confusas, cada uma delas disputando o poder "soberano" usurpado da população.

É o fim das democracias, como definidas nos livros e nas Constituições das democracias.

As populações, não se sentindo representadas, reagem contra o sistema escolhendo "outsiders" que se elegem de forma independente, tanto do sistema quanto das populações. Um atalho para o aumento da desorganização e desordem.

Desorganização e desordem do poder geram conflitos internos, como observados em quase todos os países. Em seguida, para dissimular a incapacidade de  solucionar as crises internas, os países partem para os conflitos externos.

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