As condições políticas e econômicas do Brasil indicam uma grave crise de poder. Desde os movimentos das ruas em 2013 foi possível diagnosticar que as pessoas já não se sentem mais representadas pelos seus políticos, que agem em total desalinho com o que pensa e quer a população.
Toda crise política é resultante da incapacidade dos detentores do poder de resolver os problemas que, ao menos supostamente, deveriam solucionar.
Confirma -se essa turbulência pela altíssima rejeição à todas as instituições, indicadas nas várias pesquisas de opinião realizadas nos últimos 6 anos.
As mudanças políticas ocorrem quando há uma intensa rejeição ao modelo, e à essa rejeição se alia um "querer" de um determinado grupo, no sentido de aproveitar dinamicamente a situação de crise, em direção à mudança.
A possibilidade de sucesso dos movimentos depende, entre outros fatores, da firmeza de propósitos daqueles que se empenham em realizar as transformações pretendidas por determinado grupamento.
Os movimentos de 2013 ocorreram exatamente dentro deste quadro.
Se em um primeiro momento, aqueles movimentos estariam ideologicamente mais ligados às esquerdas, algo ocorreu para que houvesse a migração para se tornar manifestações de direita.
E o divisor de águas foi a firmeza de propósito de um dos lados e a leniência do outro.
A esquerda estava fragmentada por posições destoantes do governo em relação a vários pontos da plataforma prometida, sobretudo pela nomeação do neoliberal Joaquim Levy para o principal ministério da área da economia.
Foi a direita que com firmeza de propósitos (de usurpar o poder não conseguido através das urnas) conseguiu aglutinar todas as posições contrárias ao governo, unindo, no mesmo propósito, a extrema-direita e a extrema-esquerda.
Incoerente, o governo procurava manter o controle em ações de reacomodação do poder, procurando abanar ainda mais o centro, esquecendo que foi este mesmo centro quem articulou todos os movimentos de desgaste do governo ao mesmo tempo em que cimentava a união dos envolvidos no golpe.
A vitória da direita foi avassaladora.
Avassaladora não exatamente por que tomou o poder, mas, principalmente, por ter conseguido provocar a desarticulação por completo das esquerdas.
"O povo unido jamais será vencido" - mote que uniu vários segmentos da sociedade para exigir as "diretas já" - foi esquecido pela desunião das esquerdas.
A "onda vermelha" - movimento de união para pôr fim ao período do PSDB no comando do país - se transformou em maremoto de vaidades.
A esquerda marcha iludida, quando eleitores do maior partido do segmento afirmam que não votarão em qualquer outro candidato que não seja do partido. Assim é visto nos blogs referenciais, onde Marina Silva e Ciro Gomes são vistos candidatos da direita, enquanto Boulos e Manoela são tidos como traidores.
A direita marcha unida. Há um ponto real de união que é o antipetismo.
Esse ponto de aglutinação é bastante claro quando observamos que todas as ações da Justiça, juízes e Mistério Público, parecem coordenadas do sentido único de impedir que o PT volte ao poder. As ações de vários juízes e das várias instâncias no julgamento de Lula são unísonas; o mesmo som e tom condenatório.
Outra fonte de poder e de disseminação de pensamento é a grande mídia. Aqui também há uma hegemonia no sentido de marginalizar os partidos de esquerda. Quando o nome de Jaques Wagner foi lembrado como possível substituto de Lula, caso fosse impedido de se candidatar, imediatamente jornais soltaram a notícia do envolvimento do PT da Bahia com o assassinato de um dos delatores da "lava-jato".
Nunca neste país, exceto talvez no período que precede o golpe de 1964, houve uma onda reacionária tão grande contra a esquerda.
Essa onda avassaladora se apoia sobretudo na indução que a mídia provoca usando a justiça para fazer ver que Lula "não pode ser candidato. Se for candidato, não pode vencer as eleições. Se vencer as eleições, não pode tomar posse. Se tomar posse terá que ser afastado a qualquer preço", parafraseando o que disse um dos políticos organizadores do golpe de 64 contra a candidatura de João Goulart.
Esse movimento criou uma massa antipetista de grande capilaridade.
A história não fui suficiente para a esquerda perceber que sem união não há qualquer chance contra aqueles que manipulam a informação e manobram o poder.
E o medo, nos últimos rounds (desde 2013), parece ter vencido a esperança. Outrora, o medo venceu com as bandeiras da segurança e do comunismo, usando os instrumentos da mídia, da justiça e do congresso. Neste round, o medo está usando as bandeiras da segurança e do mercado (de igual fundamentalismo que o mote anticomunismo), usando dos mesmos instrumentos de 1964; a mídia, a justiça e o congresso.
De qualquer forma, o quadriênio que começa em 2019 será devastador para a população brasileira.
Se o vencedor das próximas eleições for do grupo que pretende manter a "doutrina do mercado", terá ainda algumas tarefas a cumprir, como privatizar as Universidades Públicas, transferir para o mercado o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e a Embrapa e fazer aprovar uma lei que transfira o controle da Embraer para a Boeing Company.
Se o vencedor da eleições presidenciais de 2018 for do grupo que pretende fazer desenvolver a economia brasileira e promover a distribuição e renda, terá que ter uma força hercúlea apenas para desarmar a armadilha pró-mercado criada por Temer/Meireles. Terá que possuir a perseverança de um maratonista para reconstruir o Estado completamente desmontado pela dupla Temer/Meireles. Terá que ser um exímio esgrimista para se desviar dos golpes que serão desferidos pelo Ministério Público e juízes, neste período em que eles mesmos declaram ser o "momento da judicialização" como proclamou o ministro Barroso, do STF. Terá que ser um articulador melhor do que Péricles para fazer os parlamentares aprovarem as leis necessárias que beneficiem a muitos, sem precisar corrompê-los.
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