quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Esquerda e pactos

O país de papel que o PT construiu nos seus 12 anos de governo.

2002, começa uma nova era, cheia de sonhos, fruto da vitória do discurso da esperança e certeza de um Brasil melhor. Lula presidente.

Era a vitória do discurso por um Brasil mais limpo, sem bastidores, sem conchavos, mais transparente, de um Brasil menos cartorial, com maior participação coletiva.

Foram 12 anos de muito trabalho. Estradas foram abertas, portos e aeroportos modernizados, investimento na educação aumentou, vimos a abertura de várias escolas técnicas e novas universidades, o salário mínimo era aumentado em níveis reais a cada ano, tivemos as menores taxas de desemprego na história do país, milhões de pessoas saíram da pobreza.

Era o país que sonhamos. O governo realizava obras por todo o país, principalmente levando desenvolvimento para as tão maltratadas regiões nordeste e norte.

Mas, eram sonhos que alguns analistas da cena política temiam tornarem-se pesadelos. Eles alertavam para a fragilidade da realização de inúmeras obras de melhorias, sem a devida conscientização da população, sem a informação de que tais construções eram essenciais, não apenas para o país em si, mas, principalmente, para a formação de uma nação com identidade, com ética e com conscientização política.

Se criticava a falta de afirmação ideológica, da falta de participação popular nos ditames do país, do risco de se lotear o  governo. Os analistas previam uma rasteira dos inimigos sentados ao lado.

Dos acordos essenciais para formar uma base que desse governabilidade, o governo se arvorou a fazer pactos notoriamente escusos com inimigos figadais históricos.

E foi uma grande festa. Nos sentamos com Roberto Jefferson e outros reconhecidos bandidos da vida política brasileira e logo, logo, tomamos a primeira rasteira. Fomos parar nos tribunais.

Não aprendemos com a terrível lição. E, mais uma vez, procuramos bandidos mais letais ainda para nos unirmos. Assim nos aliamos à corja do Rio de Janeiro, assim chegou Geddel Vieira Lima. Nós da Bahia ficamos estarrecidos por reconhecermos ele como arquinimigo do PT e sabermos do histórico dele como contumaz traidor.

A lambuza cada vez aumentava mais, a fragilidade do governo crescia, a desconfiança pipocava.

O alerta dos ideológicos continuava, os pragmáticos justificavam. O referencial do governo na esquerda desabava. Foi percebido a total derrota e a entrega das chaves quando Levy, economista reconhecidamente pró mercado, foi nomeado para o ministro do dinheiro (Fazenda). Era o fim anunciado.

Pouco foi preciso para reunir as forças do país para derrubar Dilma.

O pior ainda estava por vir, a total desconstrução, em pouquíssimo tempo,  de tudo o que o governo do PT realizou; a destruição do castelo de areia à partir da colocação do telhado de vidro.

Não há construção que resista sem uma base forte.  E o PT abriu mão da sua base para se aliar à elite criminosa, não escolhida pelo instrumento do voto,  deu no que deu.

A perda da base ficou comprovadamente clara e cristalina em todos os episódios políticos de importância. Primeiramente na  mobilização irrisória contra a condenação, sem provas,  de Dirceu. Em seguida a vergonhosa perda do controle da manifestação de rua por melhoria dos transportes do grupo de esquerda MPL, para o famigerado MBL de cunho facista.

A mais triste constatação do naufrágio da esquerda como grupo de resistência à elite dominante se deu na derrubada de Dilma. Nada mais grave em uma democracia do que a retirada à força, sem fundamentação legal, do governante eleito. Não há motivo mas propício de reunir forças do que uma situação como essa. Não ocorreu o que era esperado, as ruas ficaram quase vazias.
A perda do debate, a fraqueza das organizações da base e a leniência das lideranças populares, se comprovaram no imobilimo da sociedade frente as perdas de direitos trabalhistas que já foram considerados sagrados.

Toda a construção virou pó,  de uma hora pra outra, em menos de dois anos de governo Temer. Desmoronaram as construções sem alicerce. Ruiram as bases que sustentam governos de esquerda. Das associações organizadas às classes do trabalhadores, passando pelos próprios partidos políticos de esquerda. Tudo esfumaçou.

Tal como ocorreu com o golpe de 64, temos que reorganizar a base e procurar recriar partidos de esquerda que faça, mais ou a vez, a população perceber que há esperança contra os demandos da elite dominante, que os sonhos podem ser refeitos. Mas a renovação não chegará escondendo os problemas debaixo do tapete como fizemos desde as alianças espúrias, fazendo de conta que nada estava acontecendo e que viviamos em um processo democrático.

Que a ideologia renasça enterrando de uma vez o pragmatismo que,
"Pragmatismo é ser prático ou seguir uma praxe estabelecida. Desta forma, ao exercer esse princípio corremos o risco da apatia, da adaptação, ou, se preferirem, do conformismo. Este conformismo está expresso quando concordamos com o que está posto, quando passamos a acreditar que não existem alternativas no jogo político, por exemplo." , para que as lições tenham proveito e acordemos para perceber que não é possível pacto honesto e de resultados concretos com o neoliberalismo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário