sábado, 12 de agosto de 2017

Aprender a ver

Precisamente frente à vida desnuda, que acabou se tornando radicalmente transitória, reagimos com hiperatividade, com histeria. Também o aceleramento de hoje tem muito a ver com a carência do ser. A sociedade do trabalho e a sociedade do desempenho não são uma sociedade livre.

A vida contemplativa pressupõe uma pedagogia específica do ver. No Crepúsculo dos Ídolos, Nietzsche formula três tarefas, em vista das quais a gente precisa de educadores. Devemos aprender a ler, devemos aprender a pensar, devemos aprender a falar e a escrever. A meta desse aprendizado seria, segundo Nietzsche, a "cultura distinta".

Aprender a ver significa "habituar o olho ao descanso, à paciência, ao deixar-aproximar-se-de-si, isto é, capacitar o olho é uma atenção profunda e contemplativa, a um olhar demorado e lento.

Esse aprender-se-a-ver seria a "primeira pré-escolarização para o caráter do espírito". Temos de aprender a "não reagir imediatamente a um estímulo, mas tomar o controle dos instintos inibitório, limitativos".

Se tivéssemos apenas a potência de pensar algo, o pensamento estaria disperso numa quantidade infinita de objetos. Seria impossível haver reflexão. Na meditação Zen, por exemplo, tenta-se alcançar a negatividade pura do não, para o vazio, libertando-se de tudo que aflui e se impõe. É um processo extremamente ativo, e algo bem distinto que passividade. É um exercício para alcançar em si um ponto de situação, de ser centro.

Trecho extraído do livro "Sociedade do Cansaço", de Byung-Chul Han

Nenhum comentário:

Postar um comentário