quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Ricos e subdesenvolvidos

Nos debates sobre o modelo econômico que o Brasil deverá abraçar, tornou-se uma unanimidade de que a desindustrialização terá que ser atacada para que o Brasil volte a crescer. As dúvidas pairam sobre se os instrumentos para tal vão derivar do neoliberalismo ou do desenvolvimentismo.

A tentativa de alguns de apresentarem como novo a possibilidade de harmonizarem os princípios neoliberais e os desenvolvimentistas não se sustenta frente à história com os exemplos do malfadado governo de Tony Blair e a sua “terceira via” e os fracassos de todos o s governos que tentaram este mote de "terceira via".

Também é fato, que não se pode analisar com profundidade a desindustrialização de forma desconectada do modelo atual de financeirização da economia. A visão de economistas do mainstream promovidos a gurus pela mídia é a de substituir a visão a longo prazo, própria da indústria, pelo ganhar o máximo possível no mais curto espaço de tempo.

Nesse modelo atual os lucros buscados pelo capital entraram no circuito da especulação financeira, paradoxalmente seguro e altamente lucrativo. Os exemplos estão nos EUA e na Europa que mesmo com juros beirando ao negativo, ou mesmo negativo, o capital não migrou para a produção. Em países que praticam juros altíssimos, mais certo ainda que o capital não irá para a produção.

A financismo bloqueia o desenvolvimento, toma o lugar do investimento produtivo, os capitais refugiam-se na especulação ou em paraísos fiscais.

No período de FHC esse rentismo aniquilou a produção agregada, esmagou as micro, pequenas e médias empresas. No seu governo ficou demonstrado que quanto mais medidas de incentivos à "iniciativa privada" e privatizações, mais o investimento se reduziu e o endividamento cresceu.

Além dessa enorme dificuldade de se descolar do modelo econômico da "escola de Chicago", defendidas pelos que se apoderaram do governo, e mais ainda, motivação mesma do golpe que derrubou Dilma, ainda pairam as ameaças dos EUA e Inglaterra de tazerem de volta para casa as suas indústrias.

Adicional motivo de temor e desesperança  é a cultura entreguista, submissa e subserviente da nossa classe média que arrota sabedoria quando, na realidade, repetem os fundamentos de um modelo arcaico que transfere as nossas riquezas para o estrangeiro, muito bem analisado por Eduardo Galeano no seu livro "As Veias Abertas da América Latina".

Afinal, somos uns babacas, otários e subservientes. Macacos submissos da república das bananas.

Imagine o que aconteceria se um presidente do Brasil fizesse o que Trump está fazendo com o empresariado americano, ameaçando punir as empresas pátrias que continuarem a investir no estrangeiro, o que fez a Ford recuar em um projeto milionário no estrangeiro?

Ou, como ontem, anunciado pelo site Brasil 247: "A Toyota Motor informou que vai construir uma nova fábrica em Baja, no México, para fabricar carros Corolla para os EUA. SEM CHANCE! Construa a planta (industrial) nos EUA ou pague um grande imposto na fronteira", postou Trump no Twitter"

Aí, a nossa classe média com seu "conhecimento", repetiriam os mantras:

- Governo bolivariano, que não respeita o "laisser faire", que não conhece o livre mercado.

Aliás, lembram -se da limitação das remessas de lucros para o estrangeiro que fez a classe média derrubar um presidente brasileiro?

Somos malandramente otários, e por isso nunca saímos de mero exportadores de commodities (em português  mais claro, COLÔNIA) e do modelo patriarcal da Casa Grande e Senzala que nos mantém como SUBDESENVOLVIDOS.

É esse caldo cultural que nos afasta de sermos um país com indústrias e empresas nacionais fortes e nos mantém atrasados em TI e conteúdo nacional.

Em função desse modelo estamos na lanterna na distribuição de renda e na rabada nos índices de escolaridade e saúde entre todos os países do planeta, consequentemente estamos entre os líderes em criminalidade.

Por causa disso, não sabemos o que é uma nação no sentido de uma coletividade, unida pelos seus hábitos, tradições, costumes, língua.

Não temos consciência de nacionalidade.

É esta ideia de nação que legitima o poder do povo.

Sem este sentimento, golpes são elaborados por facções da sociedade como a rede Globo e o ex-presidente  da Câmara - o criminoso Eduardo Cunha, suficientes para patrocinar uma lavagem cerebral e condicionar a classe média, que como TURBA passa a defender - não os seus interesses de cidadãos - os desejos de pequenos grupos.

Sem a ideia de nação não conseguimos formar uma coletividade com a efetividade e força do que se denomina cidadania.

Sem o ideal de nação e sem o exercício de cidadania, que não conhecemos,  não é possível gerar uma universalização dos direitos.

Esses são os motivos de sermos um país atrasado, injusto, reacionário e dividido, embora estejamos, desde os governos militares, algo em torno de 40 anos, entre as dez maiores economias do mundo, ainda que caindo para 13° no final do governo de FHC. Quando derrubaram Dilma, eramos a 9° maior economia do mundo. Ou seja, somos ricos e ainda assim subdesenvolvidos.

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