segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Duas visões de mundo

Há duas formas de ver o mundo.

Uma por aquilo que ele é, outra pelo que ele poderia ser.

O sistema, pela natural aversão às mudanças que ponham em risco o "status quo", por óbvio defensor do ideário do mundo por aquilo que ele é, procurou marginalizar e calar todo aquele que baseia o seu pensamento pelo mundo que poderia ser.

Essa batalha entre essas duas crenças se acirra pelos fragmentos da Guerra Fria, principalmente pela perda do equilíbrio que toda dualidade traz - o Princípio do Yin Yang -, e o surgimento da homogeniedade do pensamento e do comportamento da sociedade.

Magnificamente registrados No livro “Geração em Transe” de Luiz Carlos Maciel:

"Hoje, as manifestações juvenis de nosso passado recente, depois de domadas, assimiladas e distorcidas pelo sistema, foram substituídas por um fetiche abstrato e bastante ridículo que é o jovem tal como é definido pelas agências de publicidade, delineado pelas pesquisas de opinião, incensado pela mídia, tomado por paradigma de eficiência empresarial (o tal do Yuppie) e, o que é pior de tudo, imposto como modelo aos ainda mais jovens, ou seja, nossas crianças. Esse “jovem” é o que, no meu tempo, chamávamos de alienado e, depois, de careta. Trata – se de uma domesticação dos instintos naturais da juventude em função dos interesses do sistema."

Desta forma, a sociedade deixa de querer plasmar a história e bovinamente se conforma pelo que nos é dito - como certo, pronto e acabado - pelos canais de comunicação.

Talvez, não por acaso, Fukuyama nos disse, "o fim da história", admitindo a vitória inquestionável do modelo posto.

Mas, a abordagem da vida como ela é não se sustenta pela simples observação da característica mais elementar da matéria em forma de energia consciente; os sonhos, a esperança, a loucura sábia dos processos de evolução.

Não fosse o pensamento que enxerga a vida como ela poderia ser, ainda estaríamos acreditando que o sol gira em torno da Terra, ou que a terra era quadrada. São os loucos que Luan ir de encontro ao que nos massificando que quebram os paradigmas e suas "crenças" acabam por criar o novo; os avanços quânticos da cadeia evolutiva social, política, econômica e comportamental.

A esses corajosos que transformam o mundo e criam o novo a homenagem de Arthur Schopenhauer:

"Toda verdade passa por três estágios.
No primeiro, ela é ridicularizada.
No segundo, é rejeitada com violência.
No terceiro, é aceita como evidente por si própria."

A leitura do acirramento do sistema contra as populações que querem mudanças, confirma não só a necessidade evolutiva do seu humano como que é impossível conter tais avanços. Esta é a realidade que a história nos conta, exatamente contrária ao enunciado de Fukuyama - o mundo em transformações lentas com picos de avanços velozes - independente dos instrumentos de controle e repressão daqueles que querem conter as transformações e os avanços.

Aqui também está a diferenciação entre conservadores e progressistas.

Os conservadores estão entre os que vêem o mundo por aquilo que ele (mundo) é. Ampliando este conceito pode - se ser incluído nele os demais pragmáticos (os conservadores são essencialmente pragmáticos), no sentido de buscar os avanços por concessão dos que detém o "status quo".

É necessário se reportar desta forma pois o acirramento atual observado nas sociedades não está sendo exatamente pelo que foi concedido e sim pelo que se é pretendido.

Explico. A história demonstra que o endurecimento da direita nas várias crises que o mundo enfrentou não se deu pela real necessidade de se retirar direitos (mesmo porque eles foram concedidos em pactos) e sim como prevenção à novas necessidades de avanços e modificações que são exigidas pelas populações.

Vargas não caiu pelo que realizou, e sim pelo que a população exigia que ele realizasse e que o sistema não permitiria. São as tais forças ocultas de Jânio Quadros - falta de apoio para realizar as mudanças pretendidas pela população e bloqueada pelo parlamento.

A mesma situação ocorreu com Dilma e ocorreria com qualquer um que pretendesse não retirar direitos para que depois o sistema volte a ceder avanços para que se continue (impossível conter o evolucionismo existencial) de forma lenta os processos.

Ocorre que o mundo está repleto de exemplos que de tempos em tempos as populações exigem mudanças mais velozes. Foi assim nas Revoluções Americana e Francesa e nas rebeliões da década de 60.

É bom recordar a leitura profunda e embasado estudo, aplaudido por todas as correntes de pensamento, de Thomas Piketty, "O Capital no Século XXI", que aponta com clareza que se o sistema não ceder e redistribuir a riqueza a caos continuará com consequências imprevisíveis.

O Brasil, mais uma vez, serve de laboratório, e ocorrerá o que foi visto no último período de luta acirrada entre populações e sistema. Enquanto o mundo avançou em direitos, o Brasil, e outros periféricos, com o apoio de seus políticos, com muita dor e repressão, e muita compra de apoio, regrediu.

Mas, é bom também recorrer à história para lembrar que existiram golpes dentro do golpe, várias traições e defecções, e que o próprio governo forte e militar teve que fechar o Congresso e calar a mesma imprensa apoiadora do golpe, e com tudo, e mesmo assim, a classe média que apoiou o golpe se voltou rapidamente conta ele.

É bom lembrar que, ainda que manipulada, a classe média se encontra em grave crise existencial e carente de avanços, e que é ela que desencadeia processos violentos.

Não conseguirão conter e calar a população como fizeram com o STF.

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