Há duas formas de ver o mundo.
Uma por aquilo que ele é, outra pelo que ele poderia ser.
O sistema, pela natural aversão às mudanças que ponham em risco o "status quo", por óbvio defensor do ideário do mundo por aquilo que ele é, procurou marginalizar e calar todo aquele que baseia o seu pensamento pelo mundo que poderia ser.
Essa batalha entre essas duas crenças se acirra pelos fragmentos da Guerra Fria, principalmente pela perda do equilíbrio que toda dualidade traz - o Princípio do Yin Yang -, e o surgimento da homogeniedade do pensamento e do comportamento da sociedade.
Magnificamente registrados No livro “Geração em Transe” de Luiz Carlos Maciel:
"Hoje, as manifestações juvenis de nosso passado recente, depois de domadas, assimiladas e distorcidas pelo sistema, foram substituídas por um fetiche abstrato e bastante ridículo que é o jovem tal como é definido pelas agências de publicidade, delineado pelas pesquisas de opinião, incensado pela mídia, tomado por paradigma de eficiência empresarial (o tal do Yuppie) e, o que é pior de tudo, imposto como modelo aos ainda mais jovens, ou seja, nossas crianças. Esse “jovem” é o que, no meu tempo, chamávamos de alienado e, depois, de careta. Trata – se de uma domesticação dos instintos naturais da juventude em função dos interesses do sistema."
Desta forma, a sociedade deixa de querer plasmar a história e bovinamente se conforma pelo que nos é dito - como certo, pronto e acabado - pelos canais de comunicação.
Talvez, não por acaso, Fukuyama nos disse, "o fim da história", admitindo a vitória inquestionável do modelo posto.
Mas, a abordagem da vida como ela é não se sustenta pela simples observação da característica mais elementar da matéria em forma de energia consciente; os sonhos, a esperança, a loucura sábia dos processos de evolução.
Não fosse o pensamento que enxerga a vida como ela poderia ser, ainda estaríamos acreditando que o sol gira em torno da Terra, ou que a terra era quadrada. São os loucos que Luan ir de encontro ao que nos massificando que quebram os paradigmas e suas "crenças" acabam por criar o novo; os avanços quânticos da cadeia evolutiva social, política, econômica e comportamental.
A esses corajosos que transformam o mundo e criam o novo a homenagem de Arthur Schopenhauer:
"Toda verdade passa por três estágios.
No primeiro, ela é ridicularizada.
No segundo, é rejeitada com violência.
No terceiro, é aceita como evidente por si própria."
A leitura do acirramento do sistema contra as populações que querem mudanças, confirma não só a necessidade evolutiva do seu humano como que é impossível conter tais avanços. Esta é a realidade que a história nos conta, exatamente contrária ao enunciado de Fukuyama - o mundo em transformações lentas com picos de avanços velozes - independente dos instrumentos de controle e repressão daqueles que querem conter as transformações e os avanços.
Aqui também está a diferenciação entre conservadores e progressistas.
Os conservadores estão entre os que vêem o mundo por aquilo que ele (mundo) é. Ampliando este conceito pode - se ser incluído nele os demais pragmáticos (os conservadores são essencialmente pragmáticos), no sentido de buscar os avanços por concessão dos que detém o "status quo".
É necessário se reportar desta forma pois o acirramento atual observado nas sociedades não está sendo exatamente pelo que foi concedido e sim pelo que se é pretendido.
Explico. A história demonstra que o endurecimento da direita nas várias crises que o mundo enfrentou não se deu pela real necessidade de se retirar direitos (mesmo porque eles foram concedidos em pactos) e sim como prevenção à novas necessidades de avanços e modificações que são exigidas pelas populações.
Vargas não caiu pelo que realizou, e sim pelo que a população exigia que ele realizasse e que o sistema não permitiria. São as tais forças ocultas de Jânio Quadros - falta de apoio para realizar as mudanças pretendidas pela população e bloqueada pelo parlamento.
A mesma situação ocorreu com Dilma e ocorreria com qualquer um que pretendesse não retirar direitos para que depois o sistema volte a ceder avanços para que se continue (impossível conter o evolucionismo existencial) de forma lenta os processos.
Ocorre que o mundo está repleto de exemplos que de tempos em tempos as populações exigem mudanças mais velozes. Foi assim nas Revoluções Americana e Francesa e nas rebeliões da década de 60.
É bom recordar a leitura profunda e embasado estudo, aplaudido por todas as correntes de pensamento, de Thomas Piketty, "O Capital no Século XXI", que aponta com clareza que se o sistema não ceder e redistribuir a riqueza a caos continuará com consequências imprevisíveis.
O Brasil, mais uma vez, serve de laboratório, e ocorrerá o que foi visto no último período de luta acirrada entre populações e sistema. Enquanto o mundo avançou em direitos, o Brasil, e outros periféricos, com o apoio de seus políticos, com muita dor e repressão, e muita compra de apoio, regrediu.
Mas, é bom também recorrer à história para lembrar que existiram golpes dentro do golpe, várias traições e defecções, e que o próprio governo forte e militar teve que fechar o Congresso e calar a mesma imprensa apoiadora do golpe, e com tudo, e mesmo assim, a classe média que apoiou o golpe se voltou rapidamente conta ele.
É bom lembrar que, ainda que manipulada, a classe média se encontra em grave crise existencial e carente de avanços, e que é ela que desencadeia processos violentos.
Não conseguirão conter e calar a população como fizeram com o STF.
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