O mundo em crise de modelo e o debate restrito à economia.
O desprezo pela história, pela filosofia, e por toda a área
que esteja fora do pragmático modelo, levou o mundo a não entender o que está
ocorrendo, portanto, incapaz de oferecer soluções.
Após os avanços democráticos conseguidos pelos movimentos da
década de sessenta, o sistema se armou para deter novas conquistas e reduzir as
que foram alcançadas.
Para isso domesticou os instintos transformadores criando
padrões exclusivistas, definitivos do bom, justo, perfeito e acabado,
condicionando as populações a serem defensoras dos interesses do sistema, e não
questionadoras do que nos é posto.
O mundo se encontra em outra fase de passos retroativos,
então, igual à catapulta que é puxada para trás para ser impulsionada para a frente,
o salto virá, o novo aparecerá.
Independem do sistema dominante os avanços obtidos pelas
sociedades. O que difere é a forma como eles são alcançados.
- O modelo cede para que direitos sejam incorporados de forma menos traumática, vide os exemplos dos avanços trazidos pela Revolução Industrial e os frutos obtidos pelos movimentos da década de sessenta.
- O modelo não cede e as mudanças são arrancadas à força, como na Revolução Francesa, americana, e em outras guerras intestinas ou mundiais.
O saudoso pensador Milton Santos já nos alertava sobre a
chegada de um tempo novo:
“... A gestação do novo, na história, dá-se frequentemente,
de modo quase imperceptível para os contemporâneos, já que suas sementes
começam a se impor quando ainda o velho é quantitativamente dominante. É
exatamente por isso que a “qualidade” do novo pode passar despercebida... A
história se caracteriza como uma sucessão ininterrupta de épocas. Essa idéia de
movimento e mudança é inerente à evolução da humanidade. É dessa forma que os
períodos nascem, amadurecem e morrem...”
Líderes e grandes riscos da falta deles
Nos conflitos do passado estiveram presentes grandes líderes
que puderem compreender a insatisfação das populações e apresentar caminhos
alternativos para solucionar os atritos. Pela liderança, têm a força
aglutinadora que mantêm as populações organizadas, diminuindo os riscos de
formação de turbas.
Esses caminhos alternativos são exatamente o novo, que
Nassif preconiza, e que teima em não vir.
Não nasce o novo se o velho é tido como justo e perfeito. Ou
como os mais condicionados afirmam: "é o fim história", "não há
alternativas ao modelo", " a solução está no crescimento das
economias".
Nos tempos atuais estamos completamente órfãos.
E não se trata apenas da falta de líderes políticos. Há
escassez na academia, na música, na literatura, nos sindicatos, em todos os
segmentos da sociedade.
A falta deles cria o risco da formação de multidão em
movimento desordenado e com potencial violento.
Formou-se uma hegemonia que foi muito além de ditar os pensamentos
a serem seguidos.
Na falta de lideranças, preconiza Milton Santos:
“Estamos convencidos de que a mudança histórica em perspectiva provirá de um movimento de baixo
para cima, tendo como atores principais os
países subdesenvolvidos e não os países ricos; os deserdados e os pobres e não os opulentos e outras classes
obesas; que o indivíduo liberado partícipe das novas massas e não o homem
acorrentado; o pensamento livre e não o discurso único."
A destruição do pensamento
Todos os que pensam fora do parâmetro são ridicularizados,
rotulados de Poliana, sonhadores, irrealistas, e mesmo a volta de adjetivos criminalizantes
como subversivos, baderneiros, extremistas e comunistas.
A mídia atua como força auxiliar banindo dos seus quadros
comentaristas que não tenham opiniões “aceitáveis” e repetindo exaustivamente o
ideal hegemônico, condicionando o pensamento e fabricando robôs repetidores.
Acaba-se a reflexão e surge uma legião de seguidores.
Como Wolin escreveu, “bloqueia, elimina o que quer que
proponha qualificação, ambiguidade ou diálogo, qualquer coisa que enfraqueça ou
complique a sua criação, a sua completa
capacidade de influenciar”.
Por isso a falta de líderes, os que se apresentam em
determinados períodos da história para apontarem os descontentamentos e
apresentarem as soluções, que sempre vão no sentido de caminhos alternativos.
Esses caminhos alternativos são o novo que Nassif busca, e
teima em não vir.
Ai está a grande vitória do modelo, a destruição do pensamento.
Não nasce o novo se o velho é tido como justo e perfeito,
por isso muitos repetem as afirmações: “é o fim história”, “não há alternativas
ao modelo”, “ a solução está no crescimento das economias".
Ai está a grande vitória do modelo que se esgarça e teima em
não ceder; a destruição do pensamento.
A crise continua que se alastra
O mais grave não é propriamente a crise econômica e
politica.
Se fosse assim os Estados não precisariam se armar até os
dentes, o sistema não criaria leis draconianas, as policias não estariam agindo
com estrema violência; o mundo não estaria repleto de instrumentos de
repressão.
Se fosse econômica governos de esquerda igualmente aos
governos de direita não estariam fracassados.
Se fosse politica a substituição dos governantes por grupos
contrários resolveria o problema. Os países têm trocado seus governantes em
eleições democráticas e as crises continuam.
A crise é existencial, por mudanças de valores, como os
acontecimentos da década de sessenta que mesmo os países em franco crescimento
econômico, ainda assim pipocaram os descontentamentos e explodiram as
discórdias.
Da meritocracia à fisiocracia. Ressurge o Brucutu alienado
O sistema perde o controle. O submodelo da meritocracia que
manteve nos sonhos de alcançar o sucesso pelos estudos um certo ordenamento,
perdeu força. Se o conforto e equilíbrio
prometido pelo modelo não foi entregue, outros referenciais são buscados.
Os nossos jovens parecem mais preocupados em adquirir
músculos do que o conhecimento. Os movimentos culturais comprovam a afirmação.
Na música, letras e ritmos que remetem ao poder cru e violento expressado
principalmente nas batalhas entre sexos opostos. Surge a ânsia da
“pegada”. Nas TVs programas que defendem
a violência do estado contra a violência da sociedade. Os joguinhos, violência
de alta complexidade. Câmeras de vigilância por todos os cantos nos lembrando
sempre a iminência da violência.
Trata-se de um hedonismo exagerado próprio da insatisfação
que gera frustração, do medo que gera prepotência, da insegurança que gera a
agressividade. Está ai formado os jovens das academias, os “pegadores”.
São os coxinhas, grossos em cima, de pernas finas, e sem
nada na cabeça. Seus ídolos já não são
os referenciais da literatura, das artes e do conhecimento como tiveram os
jovens de outrora. Preferem idolatrar os lutadores de UFC e ter como heróis
tipos como Bolsonaro. São avessos à leitura e querem tudo imediato, pronto e acabado.
Não é à toa que a intolerância e a violência têm aumentado
assustadoramente. Não é sem explicação que na política pessoas do perfil de
Bolsonaro e Donald Trump estejam em alta.
A falência de um modelo
Um modelo se esgota quando não consegue mais fornecer
explicações, caminhos e normas gerais que orientem a sociedade.
As regras adotadas não conseguem mais resolver os problemas.
A cada novo conflito vão surgindo outros de maior complexidade, até o limite da
explosão.
Não sendo mais capazes de apresentar soluções, os paradigmas
vigentes começam a revelar-se como a própria fonte dos problemas.
O modelo atual agoniza
O modelo que fragmentou o todo para que pudéssemos
entendê-lo não foi suficiente. E nem poderia sê-lo, pois “o todo é maior do que
a simples soma de suas partes”, como dizia, desde tempos remotos, Aristóteles.
Esse é o principio adotado pelo Holismo que pretende
apresentar o que seria o novo.
Sua base é a confrontação ao modelo atual. Opõe-se ao método
cartesiano, na medida em que este afirma que a análise das partes é suficiente
para compreender o todo. Sendo, portanto, um método não-reducionista. O Holismo
defende que o todo possui características que não podem ser adequadamente
compreendidas pela simples análise das partes, mas apenas por uma análise
sistêmica de toda a estrutura, já que as partes formam um organismo com
características e configurações próprias.
Estes princípios se opõem assim como
individualidade/coletividade, exclusão/inclusão, egoísmo/solidariedade,
concentração/divisão, dispersão/união, separação/aglutinação,
materialidade/espiritualidade; ou seja, os princípios básicos e elementais da
formação de qualquer paradigma e seus submodelos econômico, social e politico.
O novo modelo
Os submodelos exauridos de individualidade, exclusão,
egoísmo, dispersão, separação,
materialidade, explicam a corrida para o
novo, muitas vezes apresentado, pelo reducionismo de que o problema está na
economia, na forma de “Sustentabilidade”
e “economia verde”, ou na redistribuição
de riqueza, substratos dos princípios
Holísticos da solidariedade, coletividade, inclusão, aglutinação,
espiritualidade.
O novo virá através de um movimento de caráter ético e
humanista que questiona a atual sociedade de consumo e desperdício, formadora
das desigualdades sociais e que impulsiona o domínio de países sobre outros povos
e a exploração de homens sobre outros seres, propondo um novo paradigma
(modelo) de vida.
O atual modelo alimenta-se do seu próprio crescimento
incessante, causando prejuízos e insatisfações, trazendo vários problemas com o
seu modelo de competitividade, favorecendo o individualismo e egoísmo, gerando
a exclusão social e o desemprego.
Os padrões atuais de produção e consumo estão causando
devastação ambiental, esgotamento dos recursos e injustiças sociais.
A noção de desenvolvimento sustentável busca o crescimento
com cuidado ambiental que proteja a capacidade regenerativa da Terra, e que
traga o equilíbrio econômico entre pessoas e povos dos direitos humanos e do
bem-estar comunitário, para que finalmente floresça a segurança interna e
externa para os povos.
O novo obrigatoriamente valorizará as sinergias comunitárias
e globais de cooperação e ajuda mútua, criando novas oportunidades para
construir um mundo mais democrático e humano.
Mais uma vez, nos chamava a atenção a genialidade de Milton
Santos:
“A primazia do homem supõe que ele estará colocado no centro
das preocupações do mundo... Dessa forma, estarão assegurados o império da
compaixão nas relações interpessoais e o estímulo a solidariedade social, a ser
exercida pelos indivíduos, entre o indivíduo e a sociedade e vice-versa e entre
a sociedade e o Estado, reduzindo as fraturas sociais, impondo uma nova ética,
e, destarte, assentando bases sólidas para uma nova sociedade, uma nova
economia, um novo espaço geográfico.”
A natureza e as populações estão saturadas. O novo urge.
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