domingo, 10 de julho de 2016

Crise e depuração

Por Assis Ribeiro

O que está acontecendo é positivo.

Se a história do Brasil, com seus golpes, seus padrões escondidos de injustiça social, segregação disfarçada ao ponto de reconhecido personagem gravar em publicação que no Brasil não há racismo, não foram devidamente postos a limpo, agora com a ampliação da informação pela era da internet chegou a hora de nossas precariedades na justiça, na política e no social virem à tona.

Chegamos ao abismo, exatamente como chama atenção a conclusão do texto de Nassif - "o velho morreu e o novo ainda não se fez."

É o Buraco Negro sideral, onde todos os detritos são sugados para um mesmo limbo, e no empuxo não sobra nem o que de bom foi feito.

Isto se chama o período de depuração, que é o interregno compreendido entre o que "morreu e o novo que ainda não se fez", a lacuna de tempo necessária para que brotem as mudanças.

Para que o novo surja em forma de mudanças é imprescindível que tudo de ruim seja posto às claras. E isto é algo muito dolorido para todos.

É necessária a depuração e total atenção, pois os detentores do Status Quo são especialistas em repaginar o velho, fazendo crer que é o novo. São dominadores dos sofismas e dos eufemismos que fazem a nossa classe média defensora de injustiças que trazem insegurança para ela própria e concebida para resguardar os direitos de privilégios da classe alta.

Nenhuma das propostas para se sair do abismo se configura em apresentar o novo, tais propostas apenas visam, desculpem a crueza da afirmação, evitar o Buraco Negro. Acredito que já estejamos nele, então devemos nos precaver do que virá da explosão, criando fatos novos e não a repaginação que sempre nos foi dada.

Absolutamente virá o novo, em espaço de tempo mais curto, aproveitando a atual crise, se o sentido do golpe não ficar definitivamente claro para o conjunto da sociedade.

A divisão entre os que definem o impeachment atual como golpe e os que acreditam tratar-se de um instrumento de retirada do mandato mesmo que por orientação política. Se confundiu, propositadamente o "voto de confiança" do parlamentarismo e de alguns países presidencialista, mas que não é amparado pela Constituição brasileira.

O jeitinho brasileiro, prefiro chamá-lo de o joguinho do faz-de-conta, sempre utilizado para esconder as mazelas apontadas no início do texto, não será mais suficiente para o fazer crer que o novo fluirá.

Não se há como parar o processo de depuração. O castelo cai carta por carta, ou como Nassif prefere no seus brilhantes comentários com base no jogo de xadrez- as peças caindo ou saindo do tabuleiro, uma a uma. De empresários à políticos de todos os naipes, cavalos, torres e bispos, todos caem.

Delegados, Procuradores e juízes de altos tribunais sendo rigorosamente questionados pelos seus métodos antidemocráticos, ainda que com resultados práticos efetivos, práticas catastróficas em democracias. A mídia de A à Z questionada em sua formatação.

Os que querem efetivamente o novo, e não a repaginação, devem se deslocar de toda a concepção mainstream, das correntes convencionais que apontam soluções de problemas já experimentados e que foram inócuos, como parlamentarismo, renúncia com plebiscito, convocação de novas eleições, tudo o que possa dar um ar de exclusão da noção de golpe.

Apontar de forma clara o golpe, nos seus sentidos de quebra da legalidade Constitucional e da normalidade jurídica, fui equilíbrio institucional, e tudo em nome da insatisfação de um grupo que não aceita os resultados das urnas, e muito menos as práticas de transformação da sociedade nas políticas que prentendem quebrar o padrão retrógrado da "casa grande e senzala"que.
Esse padrão é o verdadeiro motivo do nosso atraso em todas as esferas:

econômica, no modelo de produção voltada para a exportação de commodities;

social, trazendo, e fazendo perdurar, todas as injustiças da Casa Grande contra a Senzala para as cidades;

política, fazendo com que nossos poderes, - judicial, executivo e legislativo, se tornem cartoriais;

padrão que também torna as nossas Policias como forças de guerra que vê a população como sua inimiga;

e até mesmo envenenando o Ministério Público, concebido pela Constituição de 1998 como órgão de defesa da sociedade e zeladora dos direitos das minorias, que passa a ser uma instituição temida pela população e não como parceira, orientadora e formuladora de avanços sócio-democráticos;

formatação que leva a mídia convencional a ser defensora de interesses privados e não mais uma matriz informadora, formadora de conhecimento, e fonte auxiliar de transformações da sociedade.

Depuração maior na há, e não é mais possível conter o movimento. Melhor que assim seja, para que os rebentos não nasçam defeituosos.

Comentário ao artigo do jornalista Luis Nassif em:
http://jornalggn.com.br/noticia/xadrez-do-pos-impeachment-e-da-morte-do-velho#comment-956134

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