Comentário ao post "O xadrez da Carta aos Brasileiros de Dilma"
O novo no Brasil passa pelo velho, testado e aprovado, modelo da social democracia.
O novo no Brasil passa pelo velho, testado e aprovado, modelo da social democracia.
Muito se debate sobre o que pode advir para que o Brasil avance.
Uns apostam na ruptura, outros em um pacto.
Formulações de projetos, não são achados, nem passes de
mágica. Para vislumbrar o que seria o "princípio" há que se perguntar
o que nos falta, as carências e vazios; e imprescindível perscrutar a história
na busca do que democracias mais avançadas realizaram para alavancar os seus
desenvolvimentos.
Há, de logo, algumas constatações que afloram de forma clara
e que não fazem parte, pelo menos como condição princípua, do debate, e que
diferenciam o Brasil das democracias referenciais:
Injustiça social, desequilíbrio abissal entre classes, - o
estudado modelo "casa grande e senzala", desprezado na formulação de
planejamentos, e que impede a realização de pactos sérios e profundos. Podemos
apontar o indicador e citar a falta das reformas de base, ou reformas
estruturantes, as reconhecidas como imprescindíveis desde antes da ditadura, as
reformas fiscal e tributária, a reforma política e todas aquelas que modifiquem
a estrutura colonialista e coronelista da nossa sociedade.
Fica claro até para qualquer amador que nossa economia não
evoluiu de sua base no setor primário, de fornecedores de commodities, desde o
Brasil colônia.
Fica claro o conhecimento de que continuamos sendo uma
sociedade de divisão classista injusta e predatória, mesmo estando entre as dez
maiores economias do mundo há mais de 50 anos. O bolo cresceu e não foi
repartido como prometeram os da "casa grande" para pacificar toda a
população.
Fica claro para qualquer principiante em história que os
maiores avanços econômicos se deram concomitantemente com avanços democráticos
de inclusão social e redistribuição de riqueza. Foi assim na Revolução
Francesa, no "new dial" americano, na social democracia européia, e
até na política pós guerra no Japão e na Alemanha.
Outro fator que não se pode esconder é que o único pacto
feito no Brasil com vistas ao aprimoramento democrático foi o que resultou na
Constituição de 1988, onde foram traçadas linhas mestras para a inclusão
social, respeito as minorias com a ampliação de direitos, e raízes para com o
federalismo diminuir as diferenças regionais. Estas últimas, de logo,
demostraram - se inócuas com os coronéis do nordeste preferindo manter as
condições cruéis de desequilíbrios que facilitavam o domínio por meio da
chibata e promessas vãs. Quanto aos avanços sociais, esses se limitaram mais
aos aspectos conceituais de reconhecimento de direitos do que propriamente na
inclusão prática com melhorias salarias, escola pública de qualidade e demais
políticas sociais.
O lulismo, ouso discordar da academia, foi menos um pacto e
mais como uma permissibilidade da "casa grande" de ser fazer, de
forma tímida, limitada e de dependência, a inclusão, resguardando o aumento da
riqueza da elite . O próprio Lula afirmava que "os banqueiros nunca
ganharam tão dinheiro como em meu governo", e pela constatação da forma
com que está sendo desmontado, com imensa facilidade, os avanços.
Não é preciso grande esforço mental para se perceber que um
pacto não será possível. Primeiro, pela leitura histórica de que as democracias
avançadas citadas só se desenvolverem com as rupturas apontadas. Segundo, pela
constatação de que a direita, a Casa Grande, no momento atual, se encontra com
uma força tão intensa, poucas vezes vista, como fica demonstrado pela sordidez
do nosso parlamento, pela prepotência do Judiciário, pelo arrogante Ministério
Público, violência das polícias, pelo pensamento hegemônico redistribuído pela
mídia. Terceiro, por nenhum dos nossos líderes, desde a nossa formação, ter
conseguido realizar avanços via pactos, quem tentou foi deposto,
"suicidado", renunciado, ameaçado por impeachment ou por CPI's, ou
ainda amordaçados e amarrados pelo congresso.
Por outro lado, temos uma população, incluindo os grupos que
foram às ruas pedindo a derubada de Dilma, e a exemplo do que ocorre pelo
mundo, em grave crise existêncial. Sem saber exatamente o que querem, negam a
política sem perceber que estão fazendo política. Criam o caos das deficiências
e trazem o risco de trocarem por algo ainda pior.
Pelo mundo democrático, a elite soube, em momentos de graves
crises, ceder, pactuar, e fazer a avançar os direitos, trazendo mobilidade
social e redistribuição econômica.
Esses avanços ocorreram quando a classe média se descolou
como babadora de ovos da elite, ee passaram a reconhecer que as migalhas concedida pelos
"senhores" aos capatazes, aos Capitães do Mato, e negadas aos mais
pobres, eram insuficientes para trazer um sentido mínimo de paz e harmonia,
quando então se uniram aos pobres e conseguiram os recomeços da história.
Então, a "carta" de Dilma terá que ser direcionada
com foco preciso, a classe pobre e a classe média, chamando, finamente, a nossa
Revolução. Teria alcançado, a nossa classe média, a maturidade para entender o
quanto ela é sacrificada para garantir a riqueza da nossa"casa
grande"?
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