quarta-feira, 18 de maio de 2016

O PT, o último partido, agoniza.

Os partidos políticos têm perdido a sua representatividade. A "união voluntária de cidadãos com afinidades ideológicas e políticas, organizada e com disciplina, visando a disputa do poder político", está sendo substituída pelos “clubes eleitorais”, sem ideologias, sem princípios e sem estrutura de tipo piramidal com a base sólida e orientadora dos planos e projetos políticos, econômicos e sociais, siglas sem identidade.

Se os partidos políticos serviram como instrumento principal para pessoas e grupos entrarem no sistema político para expor suas reivindicações, necessidades e sonhos,  formadores das decisões políticas, nos dias atuais é visível o esvaziamento da importância da base formadora de opiniões e decisões, ficando a nítida sensação de que os partidos não mais representam essa função pela dependência aos patrocinadores nas caríssimas eleições e medo dos trituradores platinados.

Deste modo, quanto maior o nível de participação dos cidadãos mais controle sobre as delegações, favorecendo a solidez das estruturas políticas. Em outras palavras, a possibilidade dos partidos serem instrumento de democracia está dependente do controle direto e da participação das massas.

Não se podem negar essas verdades quando observadas as manifestações desde a de junho de 2013, até as que foram a favor e contra o golpe contra o governo Dilma. Ficou estampado o afastamento das populações dos políticos e partidos,  da expulsão de Alckmin e de Aécio Neve, das vaias a Marta Suplicy, nas manifestações pró - impeachment, até o desaparecimento dos políticos e dirigentes partidários de todos os movimentos de ruas.

Sequer tais movimentos permitem a participação de carreiristas na organização e articulação das manifestações. Gerou-se a confusão de nomenclatura quando se lhes foi denominado de “apolíticos” no lugar de apartidários. Tudo tem ocorrido não a partir dos partidos políticos e sim das redes de comunicação.

Esse afastamento dos partidos políticos da população foi antevisto por Orwell e Huxley, nos seus distópicos livros, “1984” publicado em 1949 e “Admirável Mundo Novo” de 1932, respectivamente, onde apontaram nossa decadência em direção ao totalitarismo corporativo.

Zygmunt Bauman, um dos maiores estudiosos dos fenômenos da atualidade, explica o desordenamento da politica e suas preocupações com as redes. Segue as considerações do pensador, entrevistado por Alessandro Gilioli, no L’espresso | Tradução: Antonio Martins:

...citando Gramsci: “se o velho morre e o novo não nasce, neste interregno ocorrem os fenômenos mórbidos mais diversos”.

Redes sociais criaram redomas de pensamento único. Democracia é devastada por poderes globais. Há saídas, mas vivemos a “hora mórbida”.

Portanto, segundo o senhor, não há uma relação entre a difusão da internet e os protestos anti-sistema?

Sim, há, mas a internet não é a causa, é só um veículo. As causas dos partidos anti-sistema relacionam-se, na verdade, com a crise de confiança na democracia.

Artigo completo em:

Em reflexões para o blog de Nassif, com base em leituras da obra de Bauman, concluo sobre os movimentos de rua:

A sensação de não pertencimento é clara neste mundo que magistralmente Bauman definiu de "liquido", a sensação de vazio pode ser observada sobretudo nos jovens, e talvez seja o efeito colateral do individualismo defendido pelo modelo que escolhemos e que parece que está nos levando à solidão, ao não pertencimento, ao vazio, situações que favorecem ao chamamento para atos contrários ao Status quo mesmo alguns dos jovens fazendo parte dele.

É deste sentimento inicialmente difuso de frustração e descontentamento que surgem os vários movimentos rebeldes.

A sensação de exclusão é enorme, e claro, atinge principalmente aos mais jovens.

Alguns artigos relativos à Bauman em meu blog:

Mas, é o grande pensador brasileiro, o geógrafo Milton Santos que aponta não só as causas dos nossos problemas mas de onde surgirão os caminhos para o novo, na política, nas formas da representação popular e no destino do nosso País, diz o mestre:

A imprensa como instrumento de propaganda a serviço de grupos específicos

A globalização perversa é baseada em fábulas como a da comunicação global, do espaço e tempo contraídos, da desterritorialização e da morte do Estado. São fábulas porque a informação é centralizada e manipulada no interesse das grandes empresas. A diminuição de espaço e tempo pregada só acontece para poucos. A globalização perversa precisa dos territórios e dos governos internos para se manter a morte do Estado, por sua vez, só aproveita às poucas empresas hegemônicas.

Todas essas fábulas são inculcadas nos cidadãos antes mesmo de qualquer ação.

Nascem daí a violência estrutural e a perversidade sistêmica, onde a competitividade e a potência (falta de solidariedade ou prevalência sobre os outros) puras, unidas à ideologia neoliberal, fazem parecer normais as exclusões sociais. Fala-se muito em violência da sociedade de nosso tempo, mas esquece-se que as violências que mais percebemos são apenas derivadas. A violência estrutural resulta da presença, em estado puro, da competitividade, da potência e do dinheiro. A essência da perversidade é a competitividade, uma guerra em que tudo vale para conquistar melhores espaços no mercado.

A gestão do “novo”

A gestação do novo, na história, dá-se frequentemente, de modo quase imperceptível para os contemporâneos, já que suas sementes começam a se impor quando ainda o velho é quantitativamente dominante. É exatamente por isso que a “qualidade” do novo pode passar despercebida... A história se caracteriza como uma sucessão ininterrupta de épocas. Essa ideia de movimento e mudança é inerente à evolução da humanidade. É dessa forma que os períodos nascem, amadurecem e morrem.

Uma outra globalização supõe uma mudança radical das condições atuais, de modo que a centralidade de todas as ações seja localizada no homem: a precedência do homem. Sem dúvida, essa desejada mudança apenas ocorrerá no fim do processo, durante o qual o reajustamentos sucessivos se imporão. Nas presentes circunstâncias a centralidade é ocupada pelo dinheiro, em suas formas mais agressivas, um dinheiro em estado puro sustentado por uma informação ideológica, com a qual encontram simbiose.

Os atores que vão mudar a história são os atores de baixo. Vão agir de baixo para cima. Os pobres em cada país, os países pobres dentro dos diversos continente, os continentes pobres em face dos continentes ricos. De tal forma, não teremos uma revolução sincronizada: haverá explosões aqui e ali em momentos diferentes, mas que serão impossíveis de conter.

Matéria completa no link:

Outros resumos do pensamento de Milton Santos:
http://assisprocura.blogspot.com.br/2014/08/a-atualidade-do-pensamento-de-milton.html#uds-search-results

Conclusão

Assustador a situação da representatividade, mas  a descrença  da população tem mais a ver com as siglas partidárias do que com o sistema político como um todo. Se os partidos olham mais para o seu projeto de poder do que para um projeto de sociedade, essa é falha mais dos partidos do que do sistema partidário.

Qualquer democracia representativa exige a ação coletiva, que acontece através dos partidos, e na omissão destes, por qualquer outra forma que venha a se apresentar.

O novo não sairá dos manifestantes da classe média que foram às ruas, condicionados pela TV Globo, para fazer a catarse com os gritos insanos de apolíticos, com a raiva criada e direcionada para o único grupamento que preenchia os requisitos para ser chamado de partido político.

O novo sairá de novas composições inclusivas que unam “os atores de baixo”, como diz Milton Santos, com os da classe média já conscientes de que um Brasil novo e melhor se impõe independentemente da vontade daqueles que detêm o Status Quo e têm a mente orientada ao ódio e ao segregacionismo.

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