Constituição chamada de “Cidadã” pelos seus ditames que
obrigam aos governos implementarem mecanismos para a formação de uma sociedade
livre, justa e solidária, sem grandes desigualdades sociais e regionais. Faz de
conta que os golpistas, como afirmam, querem resgatar a dignidade do povo
brasileiro.
Não é estranha para os observadores da cena nacional que a
instabilidade politica é uma constante. Os altos desequilíbrios das forças
sociais, institucionais, politicas e regionais fazem com que os sistemas de
pesos e contrapesos não funcionem. Um dos pesos que compõe a nossa sociedade sempre
se sobrepõe - mesmo que o povo escolha, pelo voto, representantes com um
ideário contrário - utilizando-se de todos os meios possíveis, das chantagens
aos golpes de Estado.
Forças com altos desequilíbrios entre si impedem a formação
de uma sociedade equânime e justa. Há uma desestrutura organizacional crônica
de origem que não permite que o Brasil construa a sua normalidade. Sempre que os princípios fundamentais das
democracias - aqueles em que o Estado age para realizar a sua tarefa de superar
as desigualdades sociais e regionais - houve resistências e golpes.
Há um desprezo destruidor deste lado da balança por tudo o
que possa trazer um mínimo de equilíbrio nas relações, nas funções do Estado e
nas ações de inclusão e justiça. Não é à toa que os maiores ataques aos governos
Lula e Dilma se deram contra os programas de equilíbrio da sociedade como os de
inclusão no Bolsa Família, nas Cotas Universitárias, nos programas de proteção
como o Mais Médicos, e na educação com as criticas à criação de campus e UF’s
em cidades do interior.
Deste desprezo, se originam o rasgar de várias Constituições
Federais, as chantagens irresistíveis que suicidam Presidentes e provoca a
renúncia de outro impelido “por forças ocultas”, e outros golpes que paralisam o
país ou provocam derrubada de presidentes.
O golpe de 2016. A
Constituição rasgada. O que se pretende com o golpe.
A guerra é pela Constituição. A atual, denominada “Cidadã, limita
o poder, organiza o Estado e define direitos e garantias fundamentais, para
formarmos uma sociedade digna.
Querem derrubar o governo para impedir a aplicação dos
princípios estabelecidos na nossa Constituição Federal de 1988, que vinham
sendo implantados pelos governos do PT.
Logo nos seus primeiros artigos a nossa Lei Maior estabelece
as ordens que deveriam nortear as ações dos nossos governos ao estabelecer:
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada
pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal,
constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
II - a cidadania
III - a dignidade da pessoa humana;
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de
representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.
Qualquer estudo aponta que é obrigação do Estado Nacional
desenvolver políticas que tragam a dignidade ao seu povo e que se forme a
cidadania. Isto nunca ocorreu na sociedade brasileira, e basta recorrer à
história para se entender o que aconteceu com os nossos governos e dirigentes que
tentaram realizar o que determina os princípios das democracias.
“Todo poder emana do povo”, não no Brasil que se derrubam
governos eleitos, onde a participação direta da população nas decisões do País não
é respeitada de forma universal pela dependência de autorização do congresso.
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da
República Federativa do Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades
sociais e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo,
cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
Este enunciado é uma inovação da Constituição de 1988, onde
a Constituinte viu a necessidade de assegurar a concretização da democracia
econômica, social e cultural, além de efetivar o princípio da dignidade da
pessoa humana e que os golpistas querem engavetar.
O artigo seguinte, que obriga aos nossos governos seguirem,
dá os parâmetros seguidos pelos governos do PT e que os grupos contrários
querem desfazer. O artigo impõe:
Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se
nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios:
I - independência nacional;
II - prevalência dos direitos humanos;
III - autodeterminação dos povos;
IV - não-intervenção;
V - igualdade entre os Estados;
VI - defesa da paz;
VII - solução pacífica dos conflitos;
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;
IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;
X - concessão de asilo político.
Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração
econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à
formação de uma comunidade latino-americana de nações.
Como se vê não são apenas questões internas que motivaram o
golpe contra Dilma. Não se trata apenas da resistência às questões de inclusão,
de bloquear a busca de formação de uma cidadania e dos gastos com a educação e
saúde do povo brasileiro. O artigo acima enuncia obrigações estabelecidas pela
Constituição de 1988 e seguidas pelo PT que desagrada ao parceiro histórico
interventor e aproveitador da nossa riqueza. Os golpistas são contra o que estabelece
o parágrafo único deste artigo. Querem seguir o ditame norte-americano que não
deseja a formação de uma integração latino americana. Não querem a UNASUL, MERCOSUL,
e nenhuma outra que se mantenha equidistante e independente dos amigos do
norte. Querem rasgar a Constituição Federal.
Conclusão
Se os golpistas querem derrubar o governo pelos motivos
internos e externos apontados acima, também há riscos nas outras formas de
golpe sugeridos e que merecem atenção e criticas.
O parlamentarismo que alguns apontam como alternativa não
irá estabilizar os desequilíbrios causadores dos golpes. Ao contrário, pela
liberdade maior na destituição do mandatário irá recriar no país a troca constante
de lideres em poucos meses de exercício do poder, como aconteceu inclusive com
lideranças de imensa capilaridade e aceitação, como foi com Tancredo Neves cujo
governo não durou nem 10 meses. Ainda, é bom lembrar, nos dois plebiscitos que
houve no País para averiguar se o povo queria ou não o parlamentarismo o
resultado foram duas vitórias acachapantes contra este sistema de governo.
Outra cautela deve ser tomada quando se propõe a convocação
de uma Constituinte. O momento de acirramento da lateralidade, o desequilíbrio
de forças ea instabilidade politica podem encerrar princípios democráticos
estabelecidos na Constituição Cidadã e que foram conseguidos pelo momento seguinte
de uma longa ditadura que causou dor, restrição de direitos e vários dos
desequilíbrios até hoje não resolvidos.
A sociedade brasileira precisa para a sua saúde, manter os
avanços conseguidos desde a redemocratização e respeitar a Constituição de 1988,
concebida como instrumento de força transformadora da sociedade e por isso
chamada Cidadã, para impedir que as forças retrógradas implantem uma nova
constituição nos moldes liberais atuais que limite a ação do Estado somente à
defesa da ordem e segurança públicas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário