Nos vemos separados do meio-ambiente, não nos consideramos uma
biosfera conectada a todas as demais. Por isto a quase totalidade dos
estudos da mudança ambiental abordam apenas seus impactos externos:
estiagem em alguns lugares com chuva torrencial em outros; frio glacial
em alguns lugares e calor mortal em outros; furacões e tornados,
terremotos e atividade vulcânica; aumento do nível do mar com
desaparecimento de nascentes e rios morrendo.
Mas o maior impacto da mudança climática será interno. Será no
funcionamento de nossos corpos que sentiremos com maior intensidade as
mudanças globais no clima. Isto já está acontecendo e sendo
diagnosticado como “doença”:
Pressão e dor na cabeça e na nuca; zumbidos e pressão no ouvido;
nariz entupido e dores no septo e na testa; náuseas e diarréias;
tonteiras e fadiga súbita; suores noturnos; todo tipo de distúrbio do
sono: sono picado, acordar de madrugada, por volta das 3:00 h e perder
completamente o sono, deitar cansado e pegar rápido no sono, mas pouco
tempo depois despertar sem nenhuma vontade de dormir; uréia e glicose
ligeiramente acima do limite; problemas renais e no ciático; dores nos
ossos longos e chatos.
Um hemograma mais simples ou uma dosagem hormonal complexa se baseiam
em faixas obtidas por estatística. O resultado fora destas faixas
indica uma tendência a se desenvolver processos patológicos. entretanto,
assim como a água ferve a 100º C apenas nas CNTP, as faixas
estatísticas utilizadas nos exames não são válidas sob novas condições
ambientais. Assim, como distinguir uma tendência à patologia, sob os
parâmetros anteriores, do que já pode ser um processo de adaptação as
novas condições climáticas? Quais seriam as faixas de “normalidade” para
as novas condições climáticas?
A mudança não será nos Parlamentos, nos Governos e nos Tribunais de
Justiça; a mudança não será detectada pelas pesquisas de popularidade;
não será na macroeconomia, tampouco nos partidos políticos tradicionais;
a mudança não será divulgada pela mídia convencional; também os grupos
de discussão na web nada terão a dizer sobre ela.
A mudança já está acontecendo. E a estamos sentindo como sintomas em
nossos corpos. A mudança será um novo jeito de viver. Porque do jeito
que temos vivido será impossível sobreviver.
Se a crise de 1929 só foi superada pela gigantesca destruição
criativa provocada pela II Guerra. A crise de 2008 já não pode ser
resolvida por uma reciclagem das forças produtivas através de conflitos
bélicos globais. Desembocaria na utilização de armas de destruição em
massa. A porta de saída tradicional do capitalismo para as crises se
fechou.
Tanto aqui como em toda parte o sistema está em colapso. O que é
agravado por uma inédita e reveladora crise climática: o capitalismo
cruzou um limite perigoso, ameaçando a sobrevivência da própria
sociedade.
A humanidade agora afeta cada aspecto da Terra em uma escala
semelhante à das grandes forças da natureza. Todos os ecossistemas do
planeta carregam as marcas da presença humana. Entramos em uma nova era
geológica: o Antropoceno.
Todos nós que hoje habitamos o planeta Terra vivemos os horrores de
uma guerra de mundos. A maioria de nós não sente e não vê, entorpecidos
por esta guerra que se apodera de nossos corpos para recolonizar nossos
corações e mentes. Somos os habitantes da barbárie. Vivemos o tempo do
fim.
De um lado estão o Homem, a Razão, a Ciência: os que se ergueram
vitoriosos com as luzes do Renascimento apenas para mergulharem o
planeta numa escala nunca antes experimentada de destruição e
desigualdade. Tudo e todos foram reduzidos ao valor de matéria-prima
pela vã pretensão de manter indefinidamente girando os moinhos satânicos
do capitalismo.
Do outro lado, na resistência contra a barbárie já instalada, há um
povo. Toda uma população que agora se levanta contra o aniquilamento
generalizado: os seres da Terra. Uma aliança entre humanos e não-humanos
pautada não por leis, contratos ou instituições, mas pela urgente
consciência da luta comum pela sobrevivência.
A maior das catástrofes contemporâneas é esta insidiosa guerra de
mundos em curso: os “Humanos” contra os seres da Terra. por isto
lutamos: por um novo modo de viver.
Uma nova mudança em breve vai acontecer. Um inexorável desaparecer,
como, na orla do mar, o desvanescer de um rosto de areia: o ocaso do
Humanismo e do Racionalismo. Os sonhos da Razão geraram monstros: o
Capitalismo, Antropoceno, o Antropozóico.
Do mesmo modo que o Heliocentrismo, o Antropocentrismo já não nos
serve mais. nunca mais. o que se faz? Precisamos todos rejuvenescer. O passado nunca mais. Pé na estrada. "like a rolling stone", "she’s leaving
home".
Com seu rosto voltado para o passado, o anjo da História é impelido
para o futuro, ao qual ele vira as costas arrasando tudo em sua cega
passagem, enquanto estarrecido contempla as ruínas que se amontoam em
direção ao céu...
Adeus ao Homem. bem vindos à intrusão de Gaia.
Por arkx , no blog de Luis Nassif
Nenhum comentário:
Postar um comentário