Por Cássio Moreira - No Brasil Debate
O trabalhismo, enquanto ideologia política, está fortemente ameaçado
pela onda conservadora propagada pelos meios de comunicação, que nesse
primeiro momento centram forças contra Lula, Dilma e o PT. Mas caso o
PDT e Ciro Gomes atinjam um protagonismo nacional, as baterias serão
centradas contra eles. Pois o inimigo real das forças neoliberais é o
pensamento trabalhista. Portanto, a questão a ser debatida é a
manutenção, e o aprofundamento, desse projeto no longo prazo.
O trabalhismo é a única alternativa viável de esquerda dentro do
capitalismo. O golpe de 1964, em sua vigência, teve como objetivo varrer
o pensamento e os líderes trabalhistas. Embora, em virtude do contexto
internacional, o pretexto foi o combate ao comunismo.
O que presenciamos hoje é a desconstrução de uma imagem de forma tão
hábil e sistêmica como é a que se tem feita contra a presidenta Dilma
Rousseff. Os meios de comunicação têm construído essa imagem de
incompetência e corrupção, quando na verdade temos uma presidenta das
mais corretas das últimas décadas.
Faz 8 trimestres que a taxa de investimento cai no país. Por “coincidência”, desde as manifestações de junho de 2013.
Como todos sabem, uma das variáveis fundamentais para a expansão do
investimento são as expectativas. O terrorismo midiático começou desde
que o governo Dilma iniciou a baixa da taxa de juros, por meio do que
restou dos bancos públicos, e o PT defendeu em seu congresso a
regulamentação da mídia (no início do primeiro governo Dilma).
Essa “campanha orquestrada” pela grande mídia fez com que as
expectativas passassem a ser pessimistas, o que foi agravado nesse
contexto de crise internacional. Depois vieram as eleições completamente
polarizadas e, assim, o Brasil entrou num ciclo vicioso até hoje.
A estratégia de ridicularizar a presidenta para colocar nela o
atestado de incompetente, em conjunto com a manipulação da mídia
atrelando exclusivamente o PT à corrupção, enfraqueceu politicamente o
governo trabalhista e barrou o projeto social-desenvolvimentista. A
presidenta seria reeleita em primeiro turno em maio de 2013. Após a
canalização das manifestações de junho daquele ano, ela quase não se
reelegeu e está com uma popularidade baixíssima.
A única forma de convencer as pessoas, especialmente a imensa massa
de trabalhadores, a derrotar um projeto que as beneficia é
ridicularizando-o. Em 2014, dois projetos nitidamente antagônicos
marcaram as eleições de outubro. De um lado, o projeto social-democrata
(trabalhista), encabeçado pelo PT, focado no crescimento econômico com
distribuição de renda por meio de programas de transferência de renda e
numa significativa melhora no salário mínimo.
De outro lado, o projeto neoliberal, que usa o argumento da
meritocracia (sem igualdade de oportunidades) para fortalecer uma
ideologia liberal de livre mercado sem intervenção do estado.
Felizmente, o projeto escolhido foi o que tem diminuído
consideravelmente o maior de todos os problemas brasileiros que é a
nossa IMENSA desigualdade socioeconômica.
Entretanto, o país mostra sua face despolitizada nas redes sociais,
que, juntamente com o cartel da mídia, ajuda a alimentar a desinformação
e a ignorância. Embora o projeto neoliberal tenha saído derrotado das
urnas, ele está cada vez mais fortalecido. Um projeto que vê na força do
livre mercado a solução egoísta para problemas que requerem cada vez
mais solidariedade.
Para esse ideário neoliberal cooptar o voto da maioria dos
cidadãos-contribuintes-eleitores, em sua grande maioria formada por
trabalhadores, seria necessário desconstruir o outro projeto e impedir
de qualquer forma que esse elegesse o presidente da República e uma
maioria progressista no Congresso. Isso seria muito perigoso (assim como
foi em 1964, com o presidente João Goulart) para a classe dominante do
país.
O primeiro a ser convencido é a classe que mais é influenciada pelos
meios de comunicação: a classe média, principalmente a emergente, que
foi cooptada pelo discurso da meritocracia e não pelas condições que
esses governos criaram para que essas pessoas ascendessem de classe.
O neoliberalismo anda junto, enquanto discurso, com uma espécie de
Darwinismo social. O egoísmo crescente da sociedade estimula o discurso
de que os mais fortes sobrevivem e a solidariedade e a responsabilidade
coletiva perdem força frente a um individualismo exacerbado.
Conforme Paulo Metri, nos “últimos tempos, tem pessoas,
principalmente da classe média, que odeiam com toda alma o PT. Não
conseguem pensar com isenção sobre qualquer questão em que este partido
esteja envolvido. Reagem emocionalmente, inclusive sem a possibilidade
de existir um diálogo construtivo com elas. Não ouvem argumento algum se
ele ressaltar um aspecto positivo do PT. Esta reação emocional é, em
grande parte, de responsabilidade da mídia tradicional, que é parte
integrante do capital. Os transbordantes de ódio nem entendem que são
manipulados”.
A pergunta que fica é: como convencer as pessoas, em grande maioria
as menos privilegiadas materialmente, a escolherem o projeto neoliberal
(que as prejudica) em detrimento do trabalhista que as beneficia?
A resposta é simples: por meio da repulsa a um projeto e não pela aceitação de outro.
Crédito da foto da página inicial: Mídia Bahia
Cássio Moreira
É economista, doutor em Economia do Desenvolvimento (UFRGS) e professor do IFRS – Câmpus Porto Alegre
http://brasildebate.com.br/a-estrategia-de-desconstrucao-do-governo-trabalhista-de-dilma/
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