Podemos viver com consciência e recuperarmos um maravilhoso
poder a que os seres humanos renunciaram faz muito tempo: a fé.
A fé é uma forma que emana de nossa integridade. É a
expressão do que realmente somos. A fé é o poder de nossa criação, porque a
usamos para criar e transformar nossa história de vida.
Distintas tradições deram nomes diferentes a esse poder. Os
Toltecas o chamam de propósito, mas prefiro chamá-lo de fé. Vamos tentar
entender por que a fé tem tanta importância. Quando falamos sobre fé ou propósito,
também estamos falando sobre o poder das palavras.
A palavra é magia pura. É um poder vindo diretamente de
Deus, e a força que dirige esse poder é a fé.
Podemos afirmar que em nossa realidade virtual tudo é criado
com a palavras, porque usamos a palavra para a criação de nossa história.
Os seres humanos têm uma prodigiosa imaginação. Começando
pela palavra construímos uma língua. Com um a língua tentamos derivar um
sentido de tudo o que experimentamos. No começo concordamos com o som e o
significado de cada palavra. Depois, pela mera recordação do som das palavras
podemos nos comunicar com outros sonhadores acerca da nossa realidade virtual.
Atribuímos nomes à tudo o que percebemos; escolhemos palavras como símbolos, e
esses símbolos têm o poder de reproduzir um sonho em nossa mente. Por exemplo,
a simples menção da palavra cavalo, podemos reproduzir uma imagem completa em
nossa mete. É assim que funcionam os símbolos. Porém, eles podem ainda ser mais
poderosos que isso. Antes a simples enunciado de três palavras - “O Poderoso
Chefão” - pode surgir em nossa mente um filme inteiro.
A palavra, como símbolo, tem a magia e o poder criativo,
porque pode reproduzir em nossa imaginação uma imagem, um conceito ou uma
situação completa. A palavra cria imagens de objetos. A palavra cria conceitos
complexos. A palavra evoca sentimentos.
A palavra cria cada crença que armazenamos em nossa mente. A fé é importantíssima, pois constitui a
força que dá vida a cada palavra, a cada conceito que armazenamos na mente.
Podemos afirmar que a vida se manifesta por meio da fé, e
que a fé é mensageira da vida. A vida prossegue por intermédio de nossa fé, que
então dá vida a tudo com que nossa comprometemos em acreditar.
Quando concordamos com determinado conceito, nós o aceitamos
sem qualquer hesitação, e ele se torna uma parte de nós. Se não concordamos com
um conceito, nossa fé não está nele, e não o mantemos em nossa memória. Cada
conceito só fica vivo porque depositamos nele a nossa fé, só porque acreditamos
no conceito. A fé é a força que mantém integrados todos esses símbolos, e dá
sentido e direção ao sonho.
Você pode imaginar que cada crença, cada conceito, cada
opinião é como um tijolo, e então nossa fé representa o cimento que mantém
colados os tijolos. O recurso que usamos para começar a juntar os tijolos e
mantê-los aglutinados é nossa atenção.
Como seres humanos podemos perceber milhões de coisas
simultaneamente, mas com nossa atenção temos o poder de descriminar e nos
concentrar somente naquilo que queremos perceber.
A atenção é
também a parte de nossa mente que usamos para transferir informação de uma
pessoa a outra.
Ao atrair a atenção de alguém, criamos um canal de
comunicação, através do qual podemos enviar e receber informação. É assim que
ensinamos e aprendemos. Conforme citado, nossos pais nos atraem a atenção e nos
ensinam o significado das palavras; nós concordamos e aprendemos uma língua.
Por intermédio da língua, da palavra, começamos a construir o edifício do
conhecimento.
No conjunto, todas as nossas crenças formam uma estrutura
que nos informa o que acreditamos ser.
A essa fórmula assumida por nossa mente os Toltecas chamam
de forma humana. A forma humana não
é a forma de nosso corpo físico. Ela é a estrutura de nossa Árvore do Conhecimento pessoal.
Ela é tudo o que acreditamos sobre a condição humana; a estrutura de toda a nossa história. A estrutura
tem quase a solidez do nosso corpo físico, porque nossa fé lhe dá rigidez.
Você chama a si mesmo de ser humano, e é isso que o
transforma em ser humano. Sua fé está investida em sua história –
principalmente no personagem principal dela – e nisso consiste o problema
central. A parte mais poderosa de você, sua fé, está investida no mentiroso que
vive em sua mente. Por meio de sua fé você dá vida a todas essas mentiras.
Daí resulta o seu modo de viver a vida. O resto é simples
questão de ação – reação.
Cada hábito constitui uma estrutura dentro da qual
interpreta o papel de seu personagem principal.
Somos poderosos por causa da nossa fé.
Temos capacidade de acreditar com fervor, porém, onde está
investida a nossa fé? Por que temos a sensação de que quase nos falta fé? E não
é verdade que a tenhamos tão pouca.
Nossa fé é forte e poderosa, porém ela não está livre. Ela
está investida em todo o conhecimento que trazemos em nossa mente. Ela está
presa à estrutura da Árvore do Conhecimento.
A estrutura realmente controla o sonho de nossas vidas,
porque a fé que temos vive naquela estrutura. Nossa fé não está na voz da nossa
história, tampouco em nossa mente racional.
Só por dizermos “vou vencer” isso não quer dizer que a fé vá
obedecer às palavras.
Não, pode haver uma outra crença que seja mais forte e mais
profunda, e que fique insistindo “Você não vai vencer”.
É por isso que você não consegue mudar a si mesmo só pelo
desejo de mudar. Não, você precisa realmente desafiar aquilo que acredita ser,
principalmente as crenças que limitam a expressão de sua vida.
Você precisa desafiar todas as crenças que emprega para se
julgar, para se rejeitar, para se diminuir.
Logo, é possível, sim, mudar aquilo em que acreditamos,
recriar o sonho de nossa vida; mas primeiro precisamos libertar a nossa fé.
E só há uma maneira de fazê-lo, que é por intermédio da
verdade.
Nada menos que a verdade poderá libertar a fé que está presa
na estrutura de nossas mentiras.
Entretanto, com nossa fé investida nas mentiras, já não
conseguimos enxergar a verdade. As mentiras tornam cega nossa fé, o poder e
nossa criação.
A fé cega é um conceito poderoso.
Quando nossa fé é cega, já não seguimos a verdade. Foi isso que aconteceu quando comemos ao
fruto da árvore do Conhecimento.
E nossa fé nas mentiras é a morte, porque perdemos o nosso
poder de criação, que é a nossa conexão com a vida ou com Deus.
Caímos na ilusão de que estamos separados da vida, e isso
leva à autodestruição e à morte.
Se sua fé é cega ela não conduz você a parte alguma.
Se você acreditar que a vida está contra você, e ensinar que
a vida está contra você, ambos estarão cegos porque você não enxerga a verdade.
A fé cega é uma fé sem consciência, mas quando sua fé tem
consciência, a história é outra.
Quando sua fé tem consciência você nunca usa o poder da fé
contra si, o que significa que você é impecável com sua palavra.
Quando isso acontece sua vida melhora em todos os sentidos.
Por que? Por que a impecabilidade de sua palavra vai diretamente para o
personagem principal de sua história.
A forma de você mudar aquilo em que você acredita sobre si
mesmo é remover sua fé das mentiras e terá que enfrentar o tirano que você
criou.
Essa é a chave para mudar a sua história, é a missão dos
seus sonhos e ninguém poderá cumpri-la, exceto você. Você vai precisar
enfrentar a sua própria história, e aquilo que enfrentará, naturalmente, é o
personagem principal de sua história.
Comece por olhar o personagem principal como se fosse outra
pessoa, e não você. Toda a história de sua vida é como um livro a seu respeito.
Tome distancia da história e tenha consciência de sua própria criação.
Reveja a história de sua vida sem fazer nenhum julgamento,
para não ter qualquer relação emocional. Veja sua própria história desde os
tempos de criança – todo o crescimento que vivenciou, todas as relações que
teve.
Faça um mero inventário e perceba as imagens. Imagine que
tudo o que você tem são os pulmões para respirar, os olhos para ver a beleza,
os ouvidos para ouvir os sons da natureza.
Só se trata de amor. Encare sua história de vida com seu
amor, e você vivenciará a mais incrível missão com que sonhou.
A fé cega – como dita - está nos levando a nos portar como
fanáticos, a impor nossas crenças aos outros sem respeitar aquilo em que
acreditam.
Podemos respeitar o que cada um de nós acredita e saber que
cada um de nós está sonhando seu próprio sonho, o qual nada tem a ver com os
demais. A nós bastará ter essa consciência, e estaremos dando um grande passo
para a cura da mente.
A questão é aprender como reunir toda a fé de que precisa
para se libertar da estrutura de suas mentiras. É nesse sentido que os seres
humanos realizam rituais: para reunir mais fé. Quando você diz orações, ou
canta, ou dança, ou toca tambores, você está reunindo poder e fé.
Quando você concentra
a atenção em seu ritual, abre um canal para sua fé.
Ela segue o ritual e graças à atenção depositada por você
naquele canal é possível recuperá-la. O ritual pode ajudar você a reunir fé que
provém da natureza e construir fé com os demais como uma comunidade humana. E
se você acreditar sem reservas naquilo que deseja realizar com a prece ou um
ritual, multiplicará o propósito visado. Quando reza, você comunga com o
espírito divino. A oração cria uma ponte que parte de você para dentro do
espirito divino, colocando de lado o personagem principal de sua história. Esta
é a chave porque o personagem principal de sua história é a única coisa que se
interpõe entre você e o espirito divino.
Orações e rituais ajudam a silenciar os julgamentos e a
calar todas as vozes que ficam falando em sua mente, a lhe dizer que não é
possível certa coisa.
Quando você liberta sua fé de mentiras, o resultado é que
liberta a sua vontade.
E quando sua vontade está livre, você pode finalmente fazer
uma escolha.
A voz da mente lhe dá a ilusão de que você pode fazer
escolhas, de que tem livre- arbítrio. Ora, você realmente acredita que seja
escolha se sua consciência lhe magoar, lhe fazer sofrer, lhe rejeitar ou abusar
de você? Como você pode afirmar que tem livre-arbítrio quando opta por magoar
as pessoas amadas, quando faz julgamentos sobre o parceiro e os filhos, e os
deixa infelizes com isso? Imagine só que você de fato tivesse livre – arbítrio,
o poder de fazer suas próprias escolhas. Você realmente escolheria sabotar a
sua felicidade ou o seu próprio amor? Você escolheria se julgar, se condenar,
viver sua vida com vergonha e culpa? Escolheria acreditar que você é mal. Que
não é bonito, que não merece ser feliz, nem ter saúde, nem prosperidade porque
não o merece? Escolheria brigar constantemente com as pessoas mais amadas? Se
você tivesse livre arbítrio, escolheria o contrário.
Acho que é evidente que
nossa vontade não é livre. Quando você coloca sua fé na verdade e não nas
mentiras, suas escolhas são outras.
Quando você tem livre-arbítrio suas escolhas partem de sua
integridade, e não do programa, aquele mentiroso em sua cabeça. Agora que você
acredita no que quiser acreditar, e que tem o poder de acreditar no que quiser,
acontece uma coisa muito interessante. O que você deseja é amar. Você não quer
outra coisa senão amar, porque sabe que fora do amor não existe verdade.
Quando você tem livre arbítrio, opta pela felicidade e pelo
amor, pela paz e pela harmonia. Opta por brincar, por gozar a vida.
Se no momento presente você está optando pelo drama, é
porque não tem escolha - e isso se converteu num hábito. É porque você foi
programado para ser daquela forma, e nem sequer sabe que tem uma opção
distinta. Alguma coisa em sua mente está escolhendo e é a voz do
mentiroso. Mas o príncipe das mentiras
que controla a voz do conhecimento reprime nosso bom senso.
O bom senso é sabedoria, e a sabedoria é diferente de
conhecimento.
Quando já não age contra si se transformou em sábio. É sábio
quem vive em harmonia consigo, com sua própria família, com toda a Criação.
Reserve um momento para prestar atenção aos seus
sentimentos, para avaliar todas as possibilidades trazidas à sua vida se sua fé
deixar de lado a cegueira. Se das mentiras você resgatar a sua fé, obterá o fim
do sofrimento, o fim dos seus julgamentos. Já não viverá com a culpa, a
vergonha, a raiva, o ciúme. Já não precisará se provar bastante bom diante de
ninguém, inclusive de si próprio.
Você aceitará o que você é, seja lá o que for, ainda que não
saiba o que é. E já não se preocupará em saber, coisa que não terá importância-
e isso é sabedoria.
Você deve viver a sua vida sem tentar controlar todo mundo e
sua integridade não permite que ninguém lhe controle. Você já não julga outras
pessoas, nem precisa se queixar do que elas fazem, porque você sabe que não
pode controlar as ações dos demais. Imagine que você optou por perdoar quem lhe
machucou nesta vida, porque já não deseja colocar no coração todo aquele veneno
emocional. E só por perdoar a todos, inclusive a si, você cura a sua mente,
cura seu coração e já não sofre dor emocional. Imagine que você recupera o
poder de fazer suas próprias escolhas, porque já não acredita no contador de histórias.
Você goza a sua vida com plenitude, paz interior, amor. Se você deixar de
acreditar em mentiras imagine como tratará seu parceiro, os seus filhos; o que
ensinará à nova geração. Imagine a mudança na humanidade inteira, resultante de
um fator tão simples: não acreditar e mentiras.
Texto extraído do livro “A voz do Conhecimento – o Livro da
Filosofia Tolteca”, de Don Miguel Ruiz e Janet Mills
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