A essência do
nosso ser é o ato de perceber, e a mágica
do nosso ser é a consciência. A
percepção e a consciência são uma unidade única, funcional e inextricável, mas,
uma unidade de dois domínios. O primeiro era a atenção do tonal, isto é, a capacidade das pessoas comuns
perceberem e situarem sua consciência no mundo comum da vida cotidiana. O
segundo domínio é a capacidade de situar a consciência no mundo não comum, de
dar ordem ao mundo não comum.
O homem tem dois tipos de consciência. A
consciência do lado direito e a do lado esquerdo. Lado direito o estado de consciência normal, tudo o
que o intelecto pode conceber, onde a primeira atenção prevalece; o lado
esquerdo o estado de consciência
expandido, um reinado de aspectos indescritíveis, estados de elevada
conscientização, o ponto da segunda atenção; o “vidente”. Vidente, aquele que
vê, que focaliza sua atenção em determinado tempo e espaço e com isso tem a
visão. Ver é uma condição peculiar do saber, de saber alguma coisa sem
resquício de dúvida. Esse é o homem de conhecimento. A melhor maneira de
adquirir o conhecimento é aprender a
utilizar a consciência do lado esquerdo; a consciência expandida, ou
consciência intensificada. Ter uma conscientização do lado esquerdo não
significa que a pessoa se libere imediatamente de sua loucura – significa
apenas uma extrema capacidade de perceber, uma facilidade maior de compreender
e aprender, e, acima de tudo, uma maior capacidade de esquecer. A razão da
existência é enriquecer a consciência, isso não é uma questão de fé ou de
dedução.
A fim de elucidar a segunda atenção é preciso saber qual a ideia de vontade. Vontade pode ser
descrita como o controle máximo de luminosidade do corpo como um campo de
energia, ou como um nível de eficiência, ou um estado de ser que surge
abruptamente na vida diária de um guerreiro a um dado momento. Ela é
experimentada com uma força que irradia da parte média do corpo, depois de um
instante do mais absoluto silêncio, ou instante de pleno terror, ou de tristeza
profunda; mas não depois de um instante de alegria, pois a alegria é muito
envolvente para permitir ao guerreiro a concentração
necessária para usar a luminosidade do corpo e leva-lo ao silêncio. A
tristeza é tão poderosa quanto o terror. Ambos podem trazer o instante de silêncio. Esse negror,
esse silêncio, dá surgimento à intenção
de dirigir a segunda atenção, de comandá-la, para que ela produza coisas. É
por isso que é chamada vontade. A
intenção e o efeito são vontade; estão interligados. Não sentimos nossa vontade
porque achamos que ela deveria ser uma coisa que fizéssemos ou sentíssemos,
como ficar com raiva, por exemplo. Vontade é muito quieta, imperceptível.
Vontade pertence ao outro eu. Vontade é
um controle tão perfeito da segunda atenção que é chamada de outro eu.
O prazer em qualquer situação associado ao conhecimento
representa o verdadeiro poder, a concentração inteligente de energia para que
seja liberada apenas nos momentos desejados. (impecabilidade).
O resíduo da consciência, a segunda atenção, era levado à
ação, ou erra aproveitado através de exercícios
do não fazer. Achávamos que o não fazer o essencial do sonho era um estado de quietude mental, era parar o “diálogo interno”, ou o não fazer de falar. A fim de me ensinar como
manejá-lo ele costumava me fazer andar quilômetros com os olhos fixos e fora de
foco a um nível logo ao fim da linha do horizonte, permitindo assim que eu
tivesse uma visão periférica. Seu método era eficiente por dois motivos:
permitia-me parar meu diálogo interno, e
treinava minha atenção. Forçando-me a concentrar-me na minha visão
periférica e de me concentrar por longo tempo em uma única atividade. O melhor
método de buscar um sonho era me concentrar na área próxima à ponta do esterno,
na boca do estômago. Falou que a atenção que um homem necessita para sonhar
deriva-se daquela área, mas que a energia a fim de se mover e procurar no sonho
origina-se da área a uns três a seis centímetros abaixo do umbigo. Ele chamava
a essa energia de “vontade” ou poder de
selecionar, de acumular. Numa mulher tanto a atenção quanto a energia para
o sonho originam-se do ventre. Qualquer coisa pode servir para um não fazer
para ajudar o sonho, desde que force a atenção a permanecer fixa. Pode ser, por
exemplo, olhar as folhas e pedras e formar o seu próprio espírito de não fazer.
Outro assunto altamente significativo era a hora de sonhar.
Tarde da noite ou bem cedo de manhã são as melhores horas. Já que a pessoa tem
que sonhar dentro de um meio social, deve procurar as condições melhores de
solidão e ausência de interferência. A interferência se refere à ligação com a
atenção das pessoas e não com a presença física delas. Não adianta retirar-se do mundo e
esconder-se, pois mesmo estando sozinho num lugar deserto, pode prevalecer a
interferência dos homens, pois a fixação da sua primeira atenção não pode ser
cortada. Temporariamente e apenas localmente, nas horas em que a maioria das
pessoas está dormindo, pode-se desviar parte desta fixação por um curto tempo.
É nessas horas que a primeira atenção está adormecida. A primeira atenção, a
atenção que faz o mundo, nunca pode ser completamente dominada; pode ser apenas
desligada por um instante e recolocada pela segunda atenção, desde que o corpo
tenha armazenado bastante dela. Sonhar é, naturalmente, um modo de armazenar a
segunda atenção.
Cada vez que você olha para alguma coisa em seus sonhos essa
coisa muda de forma. O truque é aprender a organizar-se para sonhar. Obviamente
não é só olhar para as coisas, mas manter a visão delas. Sonhar é real quando a
gente conseguiu focalizar tudo.
Quando conversamos com alguma planta, animal ou rios é um
ser mágico que está lhe dizendo algo e que seu corpo foi capaz de entender,
como fazem os feiticeiros. É dessa forma que a gente se esgueira entre os
mundos; o mundo comum e o mundo mágico. São mundos que podem agir sobre você.
Essa é a arte de sonhar.
Sonhar mexer a cabeça devagar de um lado para outro. Os
sonhadores usando a sua atenção e focalizando-a sobre os fatos e acontecimentos
de seus sonhos normais, transformam esses sonhos em “sonhar”. A técnica é
encontrar as mãos nos sonhos e depois prestar atenção, encontrar objetos, em
busca de coisas especificas. Daí o grande salto para o “sonhar”. Contemplar as
folhas secas e procurar as nossas mãos. Primeiro contemplamos as plantinhas até
observarmos a luz delas. Cada sonhador tem um tipo de planta especial para
contemplar. Aquietar os pensamentos. Se desligar do nosso diálogo interno.
Os homens não conquistam suas vitórias batendo com a cabeça
de encontro dos muros e sim conquistando os muros. Os sonhadores, são ainda
melhores, conseguem saltar por cima dos muros; não os destroem. O que é preciso
é que cada um tome ciência de seu ambiente no mundo da vida cotidiana.
Corpo sonhador, o brilho da consciência; uma sensação, uma
onda de energia que nos transporta e nos transforma. O caminho é encontrarmos a
vontade de forma continuada e disciplinada para alcançarmos o ponto de intenção
inflexível que nos leve ao silêncio interior, e o silencio interior é a força
necessária para alcançarmos a liberdade e realizarmos nossos sonhos. É preciso
manter sistematicamente essa posição, agarrando com tenacidade os nossos sonhos
e desejos. Com o tempo aprendemos a manter o controle deliberado e a força
interior sai enriquecida. O que precisamos é de sobriedade, e só nos mesmos
podemos consegui-la. Sem ela nos mantemos na posição caótica dos sonhos comuns
e realizações padronizadas.
Como o não fazer de dormir, o sonho dá aos praticantes a
utilização daquelas porções de suas vidas gastas no cochilo. É como se os
sonhadores não mais dormissem. Mesmo assim não há mal nisso. Os sonhadores não
sentem falta do sono, mas o efeito de sonhar parece ser o aumento do tempo
através do uso de um pretenso corpo extra, o corpo sonhador. O corpo sonhador é
às vezes chamado de “o sósia” ou “o outro”, porque é uma réplica perfeita do
corpo do sonhador. É basicamente a energia de um ser luminoso, um
esbranquiçado, uma emanação fantasmagórica, que é projetada pela fixação da
segunda atenção numa imagem tridimensional do corpo. O corpo sonhador não é um
fantasma; é tão real quanto qualquer coisa que lidamos no mundo. A segunda
atenção é inevitavelmente levada a focalizar sobre o nosso ser total como um
campo de energia, e que transforma essa energia em qualquer coisa apropriada. A
coisa mais fácil é, naturalmente, a imagem do corpo físico com o qual já
estamos perfeitamente familiarizados em nossa vida diária, através do uso da
nossa primeira atenção. O que canaliza a energia do nosso ser total a produzir
qualquer coisa que esteja dentro dos limites é conhecido como “vontade”. A
nível dos seres luminosos os parâmetros são tão amplos que é bobagem
estabelecer limites; desta forma a energia de um ser luminoso pode ser
transformada, através da vontade, em qualquer coisa.
Um dia, a fim de aliviar nosso sofrimento por um tempo,
sugeri que imergíssemos em sonho. Ao verbalizar minha sugestão, tornei-me
ciente de que a melancolia que me perseguia há dias poderia ser drasticamente
mudada se eu quisesse mudar. Compreendi
claramente então que o problema com La Gorda e comigo próprio era que tínhamos
inconscientemente focalizado o medo e a desconfiança, como se eles fossem as
únicas opções possíveis para nós, enquanto todo o tempo tínhamos tido, sem
saber conscientemente, a alternativa de centrar deliberadamente nossa atenção
no oposto, o mistério, a maravilha que nos tinha acontecido. Dei-me conta de
que eu poderia ter dois sentimentos diferentes dentro de mim. Ou podia entrar
na cena do sonho e sentir que estava recuperando um sentimento perdido há
muito, ou podia presenciar a cena com um estado de espírito usual de minha
vida. Quando me afundei na cena do sonho me senti seguro e protegido; quando a
presenciei com meu estado de espírito usual me senti perdido, inseguro, angustiado.
Não que eu a tivesse perdoado pelo seu comportamento
censurável para comigo, mas era como se nunca tivesse havido traição alguma.
Não havia nenhum rancor aberto ou oculto em mim por La Gorda ou por ninguém
quanto àquilo. O que eu sentia não era uma indiferença negativa ou negligência
ao agir; nem uma solidão desesperada ou nem ao menos o desejo de estar sozinho.
Era um sentimento estranho de afastamento; uma capacidade de imergir dentro de
mim mesmo por um momento e não ter pensamentos de espécie alguma. As atitudes
das pessoas não mais me afetavam, pois eu não tinha mais nenhuma expectativa.
Uma estranha paz tinha se tornado a força mestra da minha vida. Eu sentia que
de alguma forma tinha adotado um dos conceitos da vida de um guerreiro –
desprendimento.
Mas é possível também se sonhar juntos. É perfeitamente
possível para um grupo de pessoas ativar as mesmas energias, o mesmo sonho, é
como dividir a mesma visão com outros buscadores de conhecimento e sonhos
realizáveis. A nossa condição humana pode nos levar a fixar o brilho da
consciência. Temos a capacidade de nos juntarmos no conhecimento do lado
direito, aquele que nos é imposto pelas regras, costumes e condicionamentos,
como também somos capazes de buscarmos o conhecimento do lado esquerdo e realizarmos
sonhos juntos.
Outro caminho, e
inverso, é desligar todas as tomadas do pensamento o que lhe dará uma
sensação de tranquilidade e bem estar. Deixar que o vento lamba delicadamente
todo o seu corpo e focar nessa sensação, ou permitir que a água banhe carinhosamente
o seu corpo. Para ajudar, deve se escolher um objeto ou algo que lhe traga
prazer e focar a sua total atenção nas sensações ou nos objetivos pretendidos.
Todo guerreiro tem um lugar de predileção para focar a sua atenção e
concentração e não há meio de se escapar do fazer desse mundo. O que se deve
fazer é transformar seu mundo em um terreno de caçada. Como caçador, um
guerreiro sabe que o mundo foi feito para ser usado. Portanto, usa cada
pedacinho dele. Um guerreiro é como um pirata que não tem dúvidas em pegar e
usar o que quiser, só que o guerreiro não se importa, nem se sente insultado,
quando é utilizado e apanhado ele mesmo.
Parar o diálogo interno, entrar no estado de silêncio
interior é o caminho para acharmos o profundo amor. Para tanto temos que
aprender a exercer a vontade. A vontade séria e profunda que estabeleça uma
real, clara e verdadeira intenção, uma nova ordem. A vontade é diretamente
ligada a três pontos: sentir, sonhar e ver; só depois desses pontos é que deve
vir a razão. Esta, propriamente, é um centro menor do que a vontade; só está
ligada a falar, a criar ruídos. O diálogo interno para do mesmo modo que
começa: por um ato de vontade. Quando aprendemos a conversar com nós mesmos,
aprendemos a manipular a vontade de forma que focalize a intenção com
profundidade para que realizarmos os nossos sonhos, ou desejos. Desde quando
crianças somos “educados” a repetir diálogos infinitos que ficam internalizados
e com isso somos aprisionados e levados ao um estado de grande agitação.
Ficamos impregnados de ideias que muitas vezes não são as nossas. A busca do
conhecimento é aprendermos a quebrar esse ponto de aprisionamento para
alcançarmos a tão procurada liberdade. Muitas crianças, antes desse
aprisionamento de ideias, têm a capacidade de veem. Quando elas têm a capacidade de verem são
imediatamente consideradas esquisitas e todos os esforços são feitos para
corrigi-la, para fazê-las consolidar no aprisionamento de ideias e noções
preestabelecidas, corrompendo a liberdade de expressarmos e experimentarmos
qualquer coisa que fuja do que os mais velhos considerem como aceitáveis. Somos
ensinados desde pequenos a perder a fluidez infantil e condicionados a
acompanhar as garras da racionalidade; obrigados a seguir uma ordem preestabelecida,
enterrando definitivamente o que seria a liberdade procurada. Por isso o
experimento dos frutos da árvore do conhecimento foi considerado pecaminoso.
Para pararmos o diálogo interno, a que fomos condicionados, é preciso uma
tremenda disciplina para fazer retornar a consciência do lado esquerdo para
readquirimos o estado de consciência expandido que nos foi tirado pela forma de
ensinamento condicionada, racional e repetidora. Estarmos sozinhos sem a ajuda
de ninguém é um passo importante pois todos nós temos certas ideias que devem
ser quebradas para que sejamos livres. Entra nesse estado é estar livre de
suposições racionais e medos racionais. Para baixar a intensidade e quantidade
de ruídos no pensamento é necessário suspender todo e qualquer julgamento. Isso
se chama parar o mundo. Focar a atenção no umbigo e mentalmente massagear essa
região fará com que você substitua pensamentos ruins e outros ruídos e fará
você sentir uma estranha sobriedade.
Parar o mundo é uma técnica em virtude do qual, quando temos medo,
assombro, poder e a sensação da morte, o mundo como o conhecemos é levado a
desmoronar.
Quando a gente não tem mais nada a perder torna-se corajosa.
Só somos tímidos quando ainda temos alguma coisa a se agarrar. Portanto, todo
caso fatal, tem poder.
Comtemplar é fazer um zoom após parar o diálogo interno.
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