terça-feira, 3 de março de 2015

Imediatismo e medo

Comentário ao post de Nassif: http://jornalggn.com.br/noticia/aguardando-o-senhor-crise 

por Assis Ribeiro

Ocorre que estamos em crise há alguns anos e o "estadista extraordinário" não surgiu para "recompor e unificar o país".

O imediatismo, o medo, a vulnerabilidade, a aparência, e a fragmentação da sociedade líquida abordada por Zygmunt Bauman não permitem que se faça um estudo honesto dos motivos da crise no Brasil e pelo mundo.

Não se pode analisar com seriedade a desindustrialização de forma desconectada do modelo atual de financeirização da economia. A visão de economistas do mainstream promovidos a gurus pela mídia é a de substituir a visão a longo prazo, própria da indústria, pelo ganhar o máximo possível no mais curto espaço de tempo. Uma perfeita adaptação ao pensamento de Bauman em suas constatações sobre os dramas e incertezas da sociedade moderna.

Nesse modelo atual os lucros buscados pelo capital entraram no circuito da especulação financeira, paradoxalmente seguro e altamente lucrativo. Os exemplos são onde na Europa e nos EUA com juros beirando ao negativo, ou mesmo negativo, o capital não migrou para a produção. Em países com o Brasil de juros altíssimos, mais certo ainda que o capital não irá para a produção.

No Brasil a situação é ainda mais cruel pelas propagandas da mídia e de seus gurus econômicos que massificam a ideia de tirar os instrumentos de gestão do Estado para equilibrar as finanças públicas na tentativa de impor critérios que conduzem à recessão ou estagnação econômica, nas pressões sobre o aumento dos juros que leva à necessidade crescente de mais percentagem do PIB para pagar a dívida pública.

A finanismo bloqueia o desenvolvimento, toma o lugar do investimento produtivo, os capitais refugiam-se na especulação ou em paraísos fiscais. No período de FHC esse rentismo aniquilou a procura agregada, esmagou as micro, pequenas e médias empresas. No seu governo ficou demonstrado que quanto mais medidas de incentivos à "iniciativa privada" e privatizações houve, mais o investimento se reduziu e o endividamento cresceu.

O fato é que o mundo está mais inseguro e insatisfeito. As violências física, social e psicológica surgem em todos os países,  vimos aumentar a xenofobia, intolerância, atentados (inclusive praticado por estudantes e fora de grupos extremistas) e por aí vai. Países que emergiram e que ainda não oferecem um serviço mínimo de transporte, educação e saúde. As doenças sociais e as fobias estão atingindo cada vez mais os jovens.

A sensação de não pertencimento é clara neste mundo que magistralmente Bauman definiu de "liquido", a sensação de vazio pode ser observada sobretudo nos jovens, e talvez seja o efeito colateral do individualismo defendido pelo modelo que escolhemos e que parece que está nos levando à solidão, ao não pertencimento, ao vazio, situações que favorecem ao chamamento para atos contrários ao Status quo mesmo alguns dos jovens fazendo parte dele.


É deste sentimento inicialmente difuso de frustração e descontentamento que surgem os vários movimentos rebeldes.

A sensação de exclusão é enorme, e claro, atinge principalmente aos mais jovens.

O medo amplificado de forma proposital, com as máximas de "guerra ao terrorismo", que veio substituir a "guerra fria", ou "o nada presta" são utilizadas como formas de controle e está trazendo, mais uma vez, e com amplitude bem maior, o desprazer, o descontentamento, nas relações cotidianas interpessoais e políticas.

Não só os movimentos se alastram.  Os índices de suicídio aumentam, os atentados individuais da mesma forma. 

A intolerância parece superar a tentativa de entendimento.

Portanto, o que tem ocorrido não deve ser analisado de forma limitada, setorizada, ou partidarizada.

Década de 60, crise juvenil provocada pelo moralismo

A crise atual, provocada pelo Economicismo.

A principal consequência disso é que os movimentos que mostram no mundo são vazios, sem liderança, sem direção. Nós estamos sempre contra alguma coisa, mas nunca a favor nada.

Inúmeros post, comentários, nos anos que frequento o blog, afirmam que:

1) não há lideranças no mundo;
2) abordam o vazio do mundo;
3) as tentativas de soluções para os problemas desde 2008 apontam a falta de direção da nossa própria política.

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