Por Juliana Sada do, Centro de Referências em Educação Integral
“Para educar uma criança, é preciso uma aldeia inteira.” O dito africano, já conhecido de muitos educadores, revela que o desenvolvimento integral de
um indivíduo não é tarefa simples. São necessários diferentes lugares,
momentos e pessoas para educar uma criança, adolescente ou adulto – já
que a educação é um processo que acontece ao longo de toda a vida.
Se estas ideias já vêm sendo debatidas há bastante tempo e são
conhecidas de muitos, ainda persistem dificuldades para colocá-las em
prática. O desafio se torna ainda maior com as demandas trazidas pelo Plano Nacional de Educação (PNE), que determina, em sua 6ª meta, o aumento de vagas e escolas em tempo integral e, para isso, aponta a para a educação integral com diversificação do currículo e
a ampliação dos espaços e agentes educativos, conectando a escola a uma
ampla rede de proteção e efetivação dos direitos e oportunidades
educativas para os estudantes.
Ao mesmo tempo em que inúmeros municípios e estados estão começando a
construir seus programas, políticas e concepções de educação integral,
outros muitos já possuem alguma experiência. Desde que foi lançado em
2007, o programa Mais Educação,
do governo federal, impulsionou programas de educação integral em
municípios e estados de todo o país. Em 2013, a iniciativa chegava a
4.836 municípios, dos cerca de 5.500 que o Brasil tem. E mesmo as
experiências mais antigas seguem se reformulando e buscando se
consolidar como política de Estado.
Para debater os desafios da educação integral em 2015, o Centro de Referências em Educação Integral conversou com especialistas e gestores públicos para saber quais os nós para que essa agenda avance no país.
1. Conheça sua realidade
Para aquelas escolas, municípios e estados que estão começando a se
planejar, o principal elemento para a construção de um programa de
educação integral é conhecer a comunidade, para detectar tanto suas necessidades quanto o que ela tem para oferecer. “Para começar é importante fazer um diagnóstico inicial
da rede, perceber suas potências, ver o que já há e averiguar quais
condições precisam ser criadas para a educação integral”, explica a
especialista em Educação da Fundação Itaú Social,
Tatiana Bello Djrdjrjan. “Há um terreno muito fértil de cultura e
vocação locais para fazer a interface com a aprendizagem dos
estudantes.”
2. Construção coletiva
Um programa de educação integral não pode vir de cima para baixo. Para a assessora de Relações Institucionais da Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais,
Neuza Macedo, o principal desafio é a construção coletiva “por meio de
reuniões e assembleias com as famílias, a comunidade, enfim, todas as
pessoas e instituições que integram o território escolar”. A opinião é
partilhada por Tatiana, “as experiências mais bem sucedidas e que
conseguem se estruturar como uma política de estado são aquelas em que o
projeto é mais coletivo”.
3. Ser protagonista da política
Como muitos municípios e estados começaram suas políticas de educação
integral a partir do Mais Educação, as especialistas apontam que é
necessário que eles se tornem mais autores das propostas . “O Mais
Educação serviu e serve como um grande indutor de políticas públicas de
educação integral, mas precisamos repensar um pouco a estrutura do
programa para estruturar nos municípios e estados as capacidades
técnicas e administrativas para que eles possam projetar suas próprias
iniciativas”, defende Tatiana.
Já Neuza destaca que os gestores municipais e estaduais tomem para si
a tarefa de estabelecer uma política de educação integral. “Ela deve
ser construída a várias mãos, na perspectiva da intersetorialidade, sem
nunca perder o foco, a centralidade do programa, que é o estudante.”
4. O papel e lugar dos professores
Ao trazer um novo paradigma às escolas, a educação integral demanda que se repense a atuação dos professores.
Assim, é necessário realizar formações e capacitações constantes e
também estruturar uma carreira que seja compatível com as demandas da
educação integral.
Para Neuza, a jornada de dedicação exclusiva é um dos pontos centrais
já que permite o acompanhamento próximo da trajetória escolar dos
estudantes. “Esse tempo junto, de maneira mais informal, favorece a
criação de um vínculo maior que pode contribuir com o desenvolvimento
emocional e afetivo, que são também dimensões da formação humana”,
argumenta.
5. Saberes integrados
Com a ampliação do tempo e diversificação das atividades, é comum que
as escolas dividam a jornada entre os conteúdos tradicionais e as
oficinas culturais e esportivas, separando os conhecimentos. “Há que se
construir um currículo mais articulado, em que as experiências dialoguem
e componham uma aprendizagem”, aponta Tatiana. “É preciso pensar
currículo um que busque integrar os conteúdos do horário dito regular
com outros próprios de cada território. O saber escolar não pode estar
dissociado da vida dos estudantes”, complementa Neuza.
Alberto Carabajal, Secretário de Educação de Novo Hamburgo (RS). Conheça do programa de educação integral do município.
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