terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Os desafios da educação integral para 2015

Por Juliana Sada do, Centro de Referências em Educação Integral

“Para educar uma criança, é preciso uma aldeia inteira.” O dito africano, já conhecido de muitos educadores, revela que o desenvolvimento integral de um indivíduo não é tarefa simples. São necessários diferentes lugares, momentos e pessoas para educar uma criança, adolescente ou adulto – já que a educação é um processo que acontece ao longo de toda a vida.

Se estas ideias já vêm sendo debatidas há bastante tempo e são conhecidas de muitos, ainda persistem dificuldades para colocá-las em prática. O desafio se torna ainda maior com as demandas trazidas pelo Plano Nacional de Educação (PNE), que determina, em sua 6ª meta, o aumento de vagas e escolas em tempo integral e, para isso, aponta a para a educação integral com diversificação do currículo e a ampliação dos espaços e agentes educativos, conectando a escola a uma ampla rede de proteção e efetivação dos direitos e oportunidades educativas para os estudantes.

Ao mesmo tempo em que inúmeros municípios e estados estão começando a construir seus programas, políticas e concepções de educação integral, outros muitos já possuem alguma experiência. Desde que foi lançado em 2007, o programa Mais Educação, do governo federal, impulsionou programas de educação integral em municípios e estados de todo o país. Em 2013, a iniciativa chegava a 4.836 municípios, dos cerca de 5.500 que o Brasil tem. E mesmo as experiências mais antigas seguem se reformulando e buscando se consolidar como política de Estado.

Para debater os desafios da educação integral em 2015, o Centro de Referências em Educação Integral conversou com especialistas e gestores públicos para saber quais os nós para que essa agenda avance no país.

1. Conheça sua realidade

Para aquelas escolas, municípios e estados que estão começando a se planejar, o principal elemento para a construção de um programa de educação integral é conhecer a comunidade, para detectar tanto suas necessidades quanto o que ela tem para oferecer. “Para começar é importante fazer um diagnóstico inicial da rede, perceber suas potências, ver o que já há e averiguar quais condições precisam ser criadas para a educação integral”, explica a especialista em Educação da Fundação Itaú Social, Tatiana Bello Djrdjrjan. “Há um terreno muito fértil de cultura e vocação locais para fazer a interface com a aprendizagem dos estudantes.”

2. Construção coletiva

Um programa de educação integral não pode vir de cima para baixo. Para a assessora de Relações Institucionais da Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais, Neuza Macedo, o principal desafio é a construção coletiva “por meio de reuniões e assembleias com as famílias, a comunidade, enfim, todas as pessoas e instituições que integram o território escolar”.  A opinião é partilhada por Tatiana, “as experiências mais bem sucedidas e que conseguem se estruturar como uma política de estado são aquelas em que o projeto é mais coletivo”.

3. Ser protagonista da política

Como muitos municípios e estados começaram suas políticas de educação integral a partir do Mais Educação, as especialistas apontam que é necessário que eles se tornem mais autores das propostas . “O Mais Educação serviu e serve como um grande indutor de políticas públicas de educação integral, mas precisamos repensar um pouco a estrutura do programa para estruturar nos municípios e estados as capacidades técnicas e administrativas para que eles possam projetar suas próprias iniciativas”, defende Tatiana.

Já Neuza destaca que os gestores municipais e estaduais tomem para si a tarefa de estabelecer uma política de educação integral. “Ela deve ser construída a várias mãos, na perspectiva da intersetorialidade, sem nunca perder o foco, a centralidade do programa, que é o estudante.”

4. O papel e lugar dos professores

Ao trazer um novo paradigma às escolas, a educação integral demanda que se repense a atuação dos professores. Assim, é necessário realizar formações e capacitações constantes e também estruturar uma carreira que seja compatível com as demandas da educação integral.
Para Neuza, a jornada de dedicação exclusiva é um dos pontos centrais já que permite o acompanhamento próximo da trajetória escolar dos estudantes. “Esse tempo junto, de maneira mais informal, favorece a criação de um vínculo maior que pode contribuir com o desenvolvimento emocional e afetivo, que são também dimensões da formação humana”, argumenta.

5. Saberes integrados

Com a ampliação do tempo e diversificação das atividades, é comum que as escolas dividam a jornada entre os conteúdos tradicionais e as oficinas culturais e esportivas, separando os conhecimentos. “Há que se construir um currículo mais articulado, em que as experiências dialoguem e componham uma aprendizagem”, aponta Tatiana.  “É preciso pensar currículo um que busque integrar os conteúdos do horário dito regular com outros próprios de cada território. O saber escolar não pode estar dissociado da vida dos estudantes”, complementa Neuza.

Alberto Carabajal, Secretário de Educação de Novo Hamburgo (RS). Conheça do programa de educação integral do município.

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