quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

A Verdadeira Divisão Humana

Sois vós um daqueles a quem se chama feliz? Pois bem, vós estais tristes todos os dias. Cada dia tem uma grande amargura e um pequeno cuidado.

Ontem tremíeis pela saúde de alguém que vos é caro, hoje receais pela vossa; amanhã será uma inquietação de dinheiro, depois a diatribe de um caluniador ou a infelicidade de um amigo, mais tarde o mau tempo que faz, qualquer coisa que se quebrou ou se perdeu, uma vez um prazer que a vossa consciência e a coluna vertebral reprovam, outra vez a marcha dos negócios públicos. Isto sem contar as penas de coração. E assim sucessivamente. Uma nuvem que se dissipa e outra que se forma logo.

Apenas um dia em cem de plena felicidade e cheio de sol. E sois desse pequeno número que é feliz!

Quanto aos outros homens, envolve-os a noite estagnante.
Os espíritos refletidos usam pouco desta locução: os felizes e os infelizes. Neste mundo, evidentemente vestíbulo de outro, não há felizes.

A verdadeira divisão humana é esta: os iluminados e os tenebrosos.
Diminuir o número dos tenebrosos e aumentar o dos iluminados, eis o fim.

É por isso que nós gritamos: ensino, ciência! Aprender a ler, é iluminar com fogo; toda a sílaba soletrada cintila.

De resto, quem diz luz não diz, necessariamente, alegria. Também se sofre com a luz; em demasia queima. A chama é inimiga da asa. Queimar-se sem deixar de voar, é o prodígio do gênio.
Quando conhecerdes e quando amardes, sofrereis ainda. O dia nasce em lágrimas. Os iluminados choram quando mais não seja sobre os tenebrosos.

Victor Hugo, in 'Os Miseráveis'

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