sábado, 25 de outubro de 2014

Patifes honestos de espírito, por GMello

Argumentos que irritam, mas que passam com um suspiro:

– Não morro de amores pelo Aécio, mas temos que tirar o PT do poder.
– Você não leu na Veja o que eles fizeram?
– Realmente a corrupção não é exclusiva do PT, mas acho importante a alternância do poder (O Alckmin? Mais aí o problema é que não existe alternativa...).
– Os petistas querem transformar o Brasil na Venezuela, em Cuba, na Bolívia.
– Na época do FHC era tudo melhor!
– Se o PT ganhar vou me mudar desta merda de país

Argumentos que me fazem pensar que estou no planeta errado:

– Tem que morrer, matar todos esses FDP de petistas fascistas.
– Estamos vivendo uma grande ditadura. Só os militares para acabar com isto!
– Não vota no PT só porque é pobre, mas porque é mal informado.

Argumentos que começam a tirar do sério:

– Tudo bem que nunca tivemos a sorte de um Franklin Delano Roosevelt, George Washington ou Abraham Lincoln, mas já tivemos bons políticos...
– É bem possível essa corrupção do metrô em São Paulo, mas a verdade é que ainda é suspeita e o Alckmin nunca foi condenado, já sobre os mensaleiros petistas não se pode dizer o mesmo!
– Não é problema de gestão, é a maior seca dos últimos 3.000 anos...
– E eu falo isto porque sou um ex-petista...

Argumentos que cruzam o limiar e dão inicio à discussão (e o arrependimento de entrar numa barca furada)

– Cara, estamos com índices altíssimos de desemprego (pode até ter algum emprego de 2-3 salários mínimos, mas na nossa faixa tem muito profissional desempregado...)
– O que eu não aceito mesmo foi eles terem quebrado a Petrobrás com tanta corrupção...
– O Mais Médicos é um programa escravagista
– O Chico Buarque tem apartamento em Paris e pode mudar para lá quando o país estiver quebrado, mas a gente não!

Argumentos que acabam definitivamente com discussão por total inviabilidade intelectual (que tal falarmos de carros?)

– O problema é que á mídia é toda comprada pelo PT
­– Mas a Veja não é do PT?

Meu derradeiro contra-argumento, infelizmente pensado apenas nestes dias, tem alcançado certa eficiência: “está bem, concordo em mudar meu voto se você me falar sobre um projeto do PSDB na educação ou saúde de São Paulo nos últimos 20 anos”. Por fim, lembrei de tudo isto numa leitura recente de Dostoievski e novamente ri de uma passagem aparentemente atemporal descrita em Memórias do subsolo, que transcrevo aqui em homenagem aos meus algozes, alguns candidatos e ex-presidentes:

“Sim, somente em nosso meio o mais reconhecido patife pode ser totalmente, e até de modo elevado, honesto de espírito, sem, ao mesmo tempo, deixar de ser um patife”.

http://jornalggn.com.br/fora-pauta/patifes-honestos-de-espirito-por-gmello

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