Muitos disseram que essa hora
chegaria, este momento que eu conseguiria agradecer de coração por tudo o
que a gente passou sem a raiva ou recalque por termos terminado.
Desacreditei, em grande parte por não entender o conceito de apego. O
tempo, ah, este que antes considerava inimigo, ansiosa que sou, vem se
tornando meu camarada, com uma paciência que é só dele e me ensinando
muito sobre tanto, e pontua que sim, é fator fundamental para movimentar
sensações.
Então hoje sento e agradeço por tudo o que vivemos, e não é porque foi lindo – é porque é lindo, no presente.
Agradeço por todas as vezes que você
me fez sentir tão pequena e impotente perante minhas vida e decisões,
por ter caprichado tanto na escolha das palavras agressivas que hoje, no
meu presente, está muito mais simples identificar o que quero e desejo
de outra pessoa quando me sinto frágil – ou quando estou forte, o que
também pode ser uma afronta pro outro, dependendo do momento que ele
está. Mas, especialmente, por ter sido fundamental para que eu abrisse
os olhos e enxergasse minha força e criatividade pra vida, pros meus
grilos, pras minhas sensações.
Agradeço também por você ter insistido
no conceito machista de que a mulher tem que estar sempre linda e
disposta para o homem. Adequei este discurso insalubre para a rotina,
parei de fumar e tenho me exercitado. Estou com um popozinho lindo de
fazer inveja.
Obrigada também por ter me deixado com
tanta raiva à despeito da forma como me culpava por todos os males do
mundo: esta raiva foi fundamental pra alimentar minha energia criativa e
trazer à tona meu sonho de propagar o bem-estar por meio da natureza,
uma coisa tão simples e sofisticada que só pessoas como eu são capazes
de produzir.
O outro obrigada é por ter me chamado
inúmeras vezes de louca, de burra e de puta – hoje entendo que quando
estes apontamentos partem de uma pessoa que não consegue olhar pro seu
próprio umbigo e prefere usar palavras de julgamento contra o
“parceiro”, hum, entendo que isso é mesquinho e pequeno, duas
características que eu definitivamente não quero pra um relacionamento
amoroso, visto que amo o amor e, honestamente, acho que ele está aí pra
ser amado.
Agradeço de coração, de corpo e alma
por você ter reforçado em mim o processo de validação do meu eu, este
que não acha que é cobrança esperar uma ou duas palavras de carinho
quando conta como foi o dia, a semana; este que acha que contato físico é
necessário para o entendimento energético entre um casal, e que não é
só o sexo, mas também o sexo, é claro, o responsável por intensificar
esta troca.
Isso, esta pessoa colorida que chama
atenção seja por demonstrar tão claramente como é e o que sente, seja
por ser uma afronta para quem acha que tem tudo perfeito na vida, mas
não tem essa alegria de alma que brilha que tenho mesmo quando a
situação está preta (esta é a hora que você fecha os olhos e pensa
“puts, é verdade… mesmo quando está na merda, a pessoa tem amor pra
dar”). Não acho que sou a última bolacha do pacote, veja bem, mas sei
que sou uma com muito recheio, caprichada :)
Sim, tem o temperamento, este que é
como ajustar sal na comida: numa receita dá certo, noutra dá errado, mas
importa mesmo não parar de cozinhar. Ainda duvido da sua capacidade de
entender metáforas, então explico: reconheço minhas falhas, meus
esquisitismos e só fico tranquila porque ninguém mais do que eu mesma
pode saber da minha caminhada, que é de de ascensão.
É gratificante saber que mesmo que eu
dê cinco passos pra trás, meu compromisso é com o crescimento, com a
evolução, e que o descanso faz parte do desfrutar quem sou em essência.
Então não, meu temperamento não foi o motivo pra todos os teus
maus-tratos. Estes vieram da sua alma, visto que cada um só dá o que tem
pra dar.
E agora?
Perdeu, playboy. E obrigada – por tudo.
http://jornalggn.com.br/noticia/prezado-ex-namorado-preciso-lhe-contar-umas-coisas-por-mariana-nassif
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