A própria abordagem do texto mostra com será difícil alcançar a redução "da sensação de corrupção que permeia a opinião pública."
Olhar a corrupção como uma originalidade do serviço público já demonstra a distorção das origens do problema.
Se fosse exclusividade dos setores públicos não veríamos os últimos
escândalos envolvendo a Fifa. Se fosse exclusividade de aparelhamento e
falta de governança corporativa não veríamos corrupção em empresas e em
governos "menos aparelhados" mundiais.
O problema não é exatamente a corrupção e sim a escandalização feita
em seu nome, o oportunismo, o enviesamento, o modelo "casa grande e
senzala" e a falsa moral cristã.
1) A corrupção graça em todos os governos e empresas mundiais. A
Siemens e a Alston foram condenadas por vários governos estrangeiros, a
Fifa idem, e continuam a responder processos internacionais. Importante
empresário americano foi condenado na crise de 2008. Altos dirigentes
japoneses idem.
2) No Brasil a escandalização antecede, tem continuidade e se torna
mais importante do que a investigação e a condenação propriamente dita. A
temática sempre é direcionada aos políticos que estão em exercício,
preferencialmente os de esquerda, e focada como se fosse tema atual ou
exclusividade de A ou B.
3) O mote preferencial para se submeter, manietar ou limitar governos é a escandalização do tema que é utilizado sempre em vésperas de
eleições ou quando o governo anuncia medidas que vão de encontro aos
interesses da grande imprensa.
4) A falta de conhecimento, ou esquecimento, da população provocada
pela escandalização e massificação dela não permite se perceber que a
campanha de Jânio teve como mote a vassourinha exatamente para varrer a
corrupção; não permite que seja lembrado que foi uma das grandes bandeiras
para o golpe militar de 64 e que os políticos apontados como os mais
corruptos no Brasil saíram ou ganharam musculatura exatamente neste
período nefasto do Brasil. A Campanha de Collor foi a do "caçador de
marajás" e o povo elegendo-o exatamente sendo ele um marajá.
5) O modelo "casa grande e senzala" que inconscientemente continua afastando as classes
em dois extremos distintos; os poderosos que a eles tudo é dado
(inclusive a impunidade) e do outro lado a população em geral; " aos
amigos tudo, aos inimigos a lei" como disse um importante personagem da
nossa política.
6) A falsa moral cristã, a que foge dos mesmos princípios cristãos;
"Quem não pecou, que atire a primeira pedra."; e todos a atiram como se
os nossos problemas fossem exclusivos dos outros (a corrupção é sempre
do outro).
7) O enviesamento é quando a imprensa e a própria justiça acusam
políticos e blindam empresários ficando sedimentada na opinião pública
que a corrupção é exclusividade dos agentes públicos.
8) A falta de conhecimento e de divulgação por parte da imprensa de
ações dos poderes instituídos no combate à corrupção, como a importante
Lei nº 12.846, a chamada Lei Anticorrupção, que prevê a punição para
empresas envolvidas em casos de corrupção, sancionada pela presidente
Dilma Rousseff em agosto do ano passado como parte da “resposta às
ruas” após a série de protestos.
No Brasil recente foram criadas uma série de medidas que objetivam
diminuir e punir a corrupção como a criação das Controladorias Gerais, a
maior independência da Polícia Federal, menos ingerência direta nas
escolhas dos chefe dos Ministério Público e Ministros do STF, as leis de
Transparência e o resultado foi pela primeira vez na nossa história
vermos políticos de alta extirpe serem condenados. Ainda assim, pela
escandalização por parte da imprensa fica a sensação de que o PT é o
único partido corrupto e que a impunidade continua a favorecer as
políticos. Ficou esquecido, também, os vários políticos que tiveram a
suas candidaturas impedidas pela "Lei da Ficha Limpa", como por exemplo,
José Arruda, candidato ao governo do Distrito Federal.
Para concluir, o governo criou uma série de medidas par coibir os
crimes de corrupção, a justiça tem condenado políticos e os impedido de
participar de eleições, crimes dessa natureza acontecem em todos os
países, sejam eles democracias avançadas ou de regimes fechados, ocorre
em grandes, médias e pequenas empresas, e até mesmo no dia a dia da
população como os famosos "você sabe com quem está falando" e nos
"agrados" dados diariamente às manicures, aos frentistas, funcionários
de estabelecimentos comerciais, a aos guardas de trânsito.
O problema ou o desfio é cultural.
Comentário ao post "O desafio de enfrentar a corrupção"
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