– A tua argumentação é retórica.
– A tua retórica é que não tem argumentos.
É assim que rola o papo nas redes sociais.
Cada interlocutor quer vencer pela retórica sem ser chamado de retórico. Nos duelos da internet, o que mais se lê é:
– Não generaliza. Toda generalização é um erro.
– Essa tua generalização também?
Outra astúcia da nova retórica é o golpe do equilíbrio. Depois de
muita polarizar, um dos debatedores, se for gaúcho, tenta por a bola no
meio:
– Não grenaliza, cara.
É pura astúcia retórica. Se o sujeito é de direita, jamais foge ao já clássico e risível clichê ideológico:
– Não tem mais essa de esquerda e direita.
Quanto mais ideológico é o indivíduo, mais provável que num determinado momento ele infle o peito e afirme:
– As ideologias acabaram. Isso é coisa do passado.
Figura típica das redes sociais é o “trollador”, o mala que se
encarna em alguém disparando clichês e tentando desqualificar tudo o que
outro diz. Tem o “trollador” que não se vê como tal. “Trolla” todo
mundo. Quando “trollado”, finge-se de santo ou de equilibrado.
– Eu só estava tentando mostrar o outro lado.
Divertidos são os antipetistas. Exageram tudo o que possa ser ruim
para o PT, omitem tudo o que possa prejudicar a direita, especialmente o
PSDB. Aí dizem:
– Não dá para aguentar essa redução de tudo a PT e PSDB.
As estratégias discursivas do momento desconhecem o princípio da
não-contradição. O saudoso de Médici e da censura do regime militar
brasileiro cobra liberdade de imprensa na Venezuela, que chama de
ditadura bolivariana.
– Mas tem eleições lá.
– Fraudadas.
– Com observadores internacionais presentes?
– Encenação. Não tem liberdade de imprensa.
– Mas os jornais impressos são todos de oposição.
– Me engana que eu gosto. Kkkkkkk!
Raras vezes a situação esteve tão polarizada. A internet é um campo
de oposição dogmática entre direita e esquerda. Reflete nitidamente o
que continua ocorrendo em qualquer esfera da vida. Só que na rede tudo
se diz. É o espaço do insulto, do palavrão, da provocação frontal. Um
teórico dos anos 1960, no estilo Roland Barthes, talvez cravasse numa
fórmula: “O cidadão morreu. A internet é fascista”. Favorece a
intolerância. A internet, contudo, pode ser o renascimento do cidadão. O
fascismo gostaria de controlá-la. Manter só os seus “trolladores” em
ação.
O velho esquerdista deixa escorrer a nostalgia:
– A esquerda de hoje não tem projetos.
O novo esquerdista tira uma onda:
– O projeto da velha esquerda era o totalitarismo.
Políticos “realistas” de hoje, revolucionários ou resistentes de
ontem, que a direita chamava de baderneiros, rotulam os jovens
manifestantes na bucha:
– Terroristas esses black blocs.
– Fascistas esses defensores do AI-5 da Copa.
O inimigo dos direitos humanos nunca vacila:
– Leva o bandido para casa.
O lacerdinha da direita Miami nunca esquece o:
– Vai para Cuba.
Por Juremir Machado.
http://www.correiodopovo.com.br/blogs/juremirmachado/?p=5739
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