"O
que será que será
que
andam suspirando pelas alcovas,
que
andam sussurrando em versos e trovas,
que
andam combinando no breu das docas,
que
anda nas cabeças, anda nas bocas,
que
andam acendendo velas nos becos,
que
tão falando alto pelos botecos
e
gritam nos mercados,
que
com certeza está na natureza?
O que
será que será,
que
não tem certeza, nem nunca terá
que
não tem conserto, nem nunca terá
que
não tem tamanho?
O que
será que será
que
vive nas ideias desses amantes,
que
cantam os poetas mais delirantes,
que
juram os profetas embriagados,
que
está na romaria dos mutilados,
que
está na fantasia dos infelizes,
que
está no dia a dia das meretrizes,
no
plano dos bandidos, dos desvalidos,
em
todos os sentidos?
O que
será que será,
que
não tem decência, nem nunca terá,
que
não tem ternura, nem nunca terá
que
não faz sentido?
O que
será que será,
que
todos os avisos não vão evitar,
porque
todos os risos vão desafiar,
porque
todos os sinos irão repicar,
porque
todos os hinos irão consagrar,
e
todos os meninos vão desembestar,
e
todos os destinos irão se encontrar,
e
mesmo o Padre Eterno que nunca foi lá,
olhando
aquele inferno, vai abençoar
o que
não tem governo, nem nunca terá
o que
não tem vergonha, nem nunca terá
o que
não tem juízo."
Chico Buarque
e Milton Nascimento -
"O que será que será"
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