segunda-feira, 8 de abril de 2013

O conservadorismo da sociedade brasileira


A nossa sociedade é incrível, ao mesmo tempo em que ela é conservadora ela não admite discurso conservador.

Muitos já disseram que vivemos em uma sociedade do faz de conta, talvez seja por isso.

São aqueles casos em que podemos falar mal dos nossos entes próximos mas não admitimos que mais ninguém o faça; ou quando alguém critica uma mulher dizendo que ela “troca de marido como se troca de roupa”, mas se perguntarmos se ela está chamando de prostituta há de imediato a negativa em tom ofendido; ou quando alguém assim se refere ao mencionar um preto “ olhe que moreninho lindo com traços finos” ; ou quando as pessoas acreditam que corrupção é  ato de quem recebe o dinheiro, e nunca de quem dá.

Essa dubiedade parece fruto da nossa própria formação de características assimiladas da “casa grande e senzala” onde o senhor da “casa grande” fazia crer que os da “senzala” eram membros da sua própria família, mas esse sentimento é apenas nas aparências e é mais  perceptível nos dias atuais.

Enquanto a sociedade era, até pouco tempo atrás, dividida em guetos fechados e dominada  pelos senhores, o discurso conservador tinha resultados práticos pelo fato de que um pequeno grupo era responsável pelo destino do país.

É o próprio avanço da democracia, com destaque para a resistência dos negros ao sistema, que possibilita que o erroneamente chamado pacifismo brasileiro vá se desfazendo e o hesitante discurso pelo método “faz de conta” vá se desfazendo.

Se antes o povo era oprimido e o discurso dúbio jogava a responsabilidade da imobilização para o “pacifismo” do brasileiro, hoje a luta empreendida dentro dos guetos fechados ganha projeção e se amplia pelo surgimento da própria televisão que deveria ser a guardiã do conservadorismo.

Não é que as nossas emissoras não tivessem tentado manter o “status quo”, o que ocorre é que toda a “inteligência” delas era voltada para a classe média, a concepção dos seus programas era focada para esse segmento que representava uma ínfima parcela da sociedade.

Como os programas são voltados para esta classe todo o discurso conservador embutido neles trazia exatamente a possibilidade do conforto, do sucesso, da possibilidade de uma vida melhor, daí que a enorme massa dos excluídos passa a reverberar essa condição para todos.

Grupos saem do armário e passam a ter representatividade na sociedade.

Esses grupos trazem a autenticidade do povo brasileiro no que tem de melhor e que diferencia o nosso povo dos demais países; a mistura, embora alguns a tenha como demérito.

Essa mistura característica e sempre negada em sua essência pela classe dominante, finalmente se apresenta como característica marcante e decisiva do nosso povo.

As condições vividas pela enorme população antes não inserida trazem com elas várias características, como solidariedade, compartilhamento, luta de sobrevivência, que coloca o país inexoravelmente dentro de um pensamento mais a esquerda.

É essa vivência trazida pela enorme massa que agora começa a se inserir na vida da sociedade que reduz as possibilidade de discursos conservadores, quase sempre elitista e homogêneo.

Como fazer um discurso conservador, como defender os princípios da “excelência”, da competitividade que exclui “os piores”, de fazer a economia crescer para depois reparti-la, a defesa da individualidade?

Milton Santos dizia em seus estudos:

“A escassez dos pobres é diferente, mas tem melhores frutos. Como não conseguem e talvez nunca conseguirão consumir, por esse mesmo sentimento de escassez passam a buscar bens imateriais e infinitos, como a solidariedade, por exemplo. A escassez do pobre leva a novas descobertas e ao entendimento do mundo.
Mas a pobreza não pode chegar à miséria, que aniquila. A pobreza é ativadora de lutas e leva à tomada de consciência. Elabora-se assim a política dos de baixo, alimentada pela necessidade de existir e pela desilusão das demandas não satisfeitas. Parte-se para a rebeldia.

Os movimentos organizados, por sua vez, devem imitar o cotidiano dessas pessoas para se tornarem perceptíveis. Os partidos devem ser o espelho de seus eleitores.
A questão da classe média também é interessante. Ela teve seu apogeu e agora sente de perto a crise: antes era a maior beneficiária do crescimento econômico, mas agora não tem a força política de antigamente e sente a escassez e a insegurança de perto. Num primeiro plano começa a lutar por vantagens individuais que, com a tomada de consciência, tornam-se sociais e se identificam com os clamores dos pobres. Passam a ter a função de implantar a democracia forçando o ideário e as práticas políticas.”

Essas condições apontadas fazem com que o discurso conservador inteligente não seja possível em suas propostas práticas, pois perderam o sentido em uma sociedade com características bem próprias como a nossa e após várias eleições perdidas.

O conservadorismo passa a se encostar a um número bem restrito, para que sobreviva, e esse pequeno agrupamento é representado exatamente por aqueles que não admitem qualquer mudança, mesmo cosméticas por adaptação, e dai passa a ser intolerante, reacionário, e pouco inteligente. Eles passam a reverberar não uma mudança, ou mesmo permanência de uma situação, e sim a revolta pelo novo, a incapacidade de adaptação, o ódio. O surgimento do “novo” discurso de Serra, Constantino, Reinaldo Azevedo, e alguns outros, deve-se a impossibilidade de ser diferente. Quem iria ouvi-los?

Um comentário:

  1. Muito bom sintetizou com propriedade....já espalhei no face...rs*

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