segunda-feira, 8 de abril de 2013

“Ética globalizada & Sociedade de consumo”


A globalização não surgiu do nada. É a consequência de um processo de expansão capitalista beneficiado pelo fim do socialismo soviético. Mais do que o fim soviético, o capitalismo triunfante beneficiou-se do desgaste das ideologias e da substituição das utopias pelo consumismo.

A derrota dos processos ideológicos ou utópicos não aconteceu pelo debate de ideias ou por uma opção da maioria. É uma sequência de várias etapas históricas em que os valores humanos foram, aos poucos, mas inexoravelmente, substituídos pelo pragmatismo político e econômico.

Como sabemos não se faz história ou política em torna da palavra “se”.  Mas é preciso lembrar que “se” não fosse o oportunismo e o fascínio pelo poder político o Brasil não entraria neste período globalizante em tão precárias condições. Os nossos indicadores sociais e econômicos são péssimos em relação ao nosso potencial. Hoje, nem se pode repetir, como no tempo da ditadura militar, as palavras do General Médici: “o país vai bem, mas o povo vai mal”.

Mesmo sem avaliar a conduta política dos responsáveis, podemos verificar que a partir de 1955 o Brasil se curvou a uma das mais agressivas investidas do capital estrangeiro, abalando a nossa infraestrutura de transportes em favor dos investimentos multinacionais.

Até 1950, o principal meio de transporte no Brasil era a ferrovia.

Esse período, cinco anos depois da segunda guerra mundial, é marcado pelo começo da guerra fruía, quando Estados Unidos e União Soviética disputavam a hegemonia entre os países do mundo.
Caracteriza-se, também, pela recuperação da economia norte-americana e a retomada dos seus investimentos na America Latina, explorando inclusive “bens de capital”, na forma de maquinaria obsoleta, Recuperando-se internamente, o capitalismo norte-americano criou novas tecnologias sem o ônus de perder as velhas, que foram exportadas para o Terceiro Mundo.

Trata-se de um processo “maquiavélico”: ao exportar velhas fábricas, os Estados Unidos “modernizaram” os países do Terceiro  Mundo, aumentando o poder aquisitivo daqueles que consumiam suas exportações. Ao mesmo tempo, esses países, como o Brasil, fabricavam produtos inferiores e mais caros que os Estados Unidos; portanto, não significavam risco de concorrência no mercado internacional. No caso brasileiro, um exemplo foram as máquinas enviadas para fabricar o Aero Willys e o Jeep, entre outros veículos, que representavam o que havia  de mais obsoleto na indústria automobilística norte-americana.

O Brasil, que historicamente sempre caminhou a reboque do capital estrangeiro – inglês até 1930, norte-americano depois -, começava a viver uma grande febre de progresso em 1955. Eram os tempos de progredir  “50 anos em 5”, como prometia o presidente Juscelino Kubitschek. Na época, um dos grandes símbolos do progresso era o automóvel: para ser um país progressista, O Brasil precisava ter uma indústria “nacional” de veículos.

A implantação da indústria automobilística no nosso país resultou na impostação de fábricas obsoletas, em desuso a Alemanha, França, Itália e Estados Unidos. O governo abandonou as ferrovias, que entraram em decadência, e construiu estradas asfaltadas, por onde deveria trafegar a nossa frota.

Como se sabe, o transporte ferroviário é o mais barato do mundo. O rodoviário, o mais caro. Além disso,  a construção de estradas asfaltadas implicava, posteriormente, o uso de petróleo, que não tínhamos. Os automóveis exigiam gasolina. Para construir estradas e abastecer veículos, aumentamos as importações de petróleo. Enquanto isso, a rede ferroviária era abandonada. Em consequência o transporte de cargas passou a ser feito por caminhões. O preço do frete subiu, a dívida externa aumentou; o balanço do comércio exterior passou a ser negativo, pelas crescentes importações de petróleo.

As complicações – que tiveram reflexos no futuro – não paravam aí. Os navios petroleiros que por aqui chagavam não podiam voltar vazios aos seus portos. Por uma série de contratos internacionais, o lastro para esses navios  era fornecido pelo Brasil: em gasolina. Mas como o preço internacional da gasolina era mais baixo que o praticado Np Brasil, “exportávamos” gasolina para os países produtores de petróleo e a um preço menor do que o pago pelos brasileiros.

No processo há outras “peças” importantes. Por exemplo, as fábricas instaladas no Brasil eram “montadoras”. As suas velhas máquinas entraram no país sem pagar impostos.  As fábricas foram construídas com financiamentos e isenções fiscais.  Os lucros obtidos pelas multinacionais do setor foram desproporcionalmente maiores do que o capital investido. A maior parte desses lucros era remetida para os países de origem.

Júlio José Chiavenato em:

“Ética globalizada & Sociedade de consumo”.

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