Comentário ao post "A questão da atuação dos sindicatos"
Por Assis Ribeiro
O enfraquecimento de organizações populares como sindicatos,
associações e similares foi algo muito bem arquitetado, pensado, e
induzido de forma consciente pelo "mainstream" a fim de enfraquecer o
debate entre o capital e o trabalhador possibilitando uma total
hegemonia do primeiro em relação ao segundo, com isso formando a
sociedade atual denominada de "pensamento único".
Desta forma, a supremacia do capital "determinou" a importância da
economia frente a qualquer outro instrumento, inclusive a própria
política que se quedou frente aos interesses do "crescimento" acima de
qualquer coisa. Nos dias atuais até mesmo políticos de esquerda deixam
de debater melhorias das condições de vida da população optando a seguir
o caminho traçado pelo sistema de crescimento a qualquer custo. É como
se voltássemos, de forma clara, a seguir o mote "crescer para depois
repartir".
Esse condicionamento do pensamento foi massificada pela indústria de
relações públicas, da indústria do entretenimento e do materialismo da
sociedade de consumo, nos devora de dentro para fora. Não deve nada a
nós ou à Nação. Faz a festa em nossa carcaça.
Foi a massificação dos ensinamentos "do que é melhor" que contribuiu
para que a sociedade se tornasse pragmática e dessa forma fugisse de
qualquer debate de diversidade ideológica que toque à reformas
estruturantes do modelo.
De forma que todos aqueles que pensam de forma diferente do que foi
traçado são denominados de radicais, de extremistas, de forma pejorativa
de sonhadores ou "polianas". Abaixo segue um artigo de minha autoria que tenta alertar
sobre o conformismo do pensamento pragmático atual.
Utopia e Pragmatismo
Em sentido amplo, a utopia pode ser
entendida como tudo o que ainda não foi tentado. A importância da utopia
é a de mover segmentos da população que estão insatisfeitos e não
comprometidos com a ordem existente, por isso ela é essencial na
democracia. A utopia é uma condição “sine qua non” do homem como ser,
que deseja, que busca a superação, a transcendência, os sonhos.
Ao
contrário, o pragmatismo tão propalado nesta sociedade pós – moderna
comporta imensos riscos. Ser pragmático é, em miúdas palavras, ser
prático ou seguir uma praxe estabelecida. Desta forma, ao exercer esse
princípio corremos o risco da apatia, da adaptação, ou, se preferirem,
do conformismo. Este conformismo está expresso quando concordamos com o
que está posto, quando passamos a acreditar que não existem alternativas
no jogo político, por exemplo.
Segundo Mannheim: “A desaparição
da utopia ocasiona um estado de coisas estático em que o próprio homem
se transforma em coisa. Iríamos, então, nos defrontar com o maior
paradoxo imaginável, ou seja o do homem que, tendo alcançado o mais alto
grau de domínio racional da existência, se vê deixado sem nenhum ideal,
tornando-se um mero produto de impulsos. (...) o homem perderia, com o
abandono das utopias, a vontade de plasmar a história e, com ela, a
capacidade de compreendê-la”
Este “estado de coisas estático” é
percebido quando ouvimos as pessoas afirmarem que "não gostam de
política", ou quando observamos a cristalização de um conjunto de noções
anti-políticas no senso comum. Esta expressão de tendências indica
fenômenos bem mais amplos do que a simples "desinformação".
Ao
sufocar a utopia e enaltecer o pragmatismo, o mundo pós - moderno
estabeleceu mecanismos de reprodução sistêmica e tornou - se autômato,
colocando em risco a própria democracia. Este pragmatismo cria
sociedades marcadamente burocratizadas com instituições políticas
rigorosamente fora de controle social o quê, por seu turno, é fonte
propositiva de irregularidades, de desvios, de crimes, e da violência.
No
campo político o pragmatismo e a sua busca por resultados imediatos
tende a subordinar a concepção da ética. A ética não deve ser reduzida
como a esfera específica onde se disputam posições; não deve ser
limitada aos interesses em jogo.
Compete à sociedade introduzir a perspectiva da universalização que
ultrapasse os antagonismos da busca pelo poder e supere a sua dispersão
da ética. Compete à sociedade afirmar aquilo que ela deve ser para além
de suas fraturas.
Os defensores da ordem vigente procuram desqualificar e até mesmo
ridicularizar os contestadores utopistas. Com o tempo, muitos destes se
rendem ao discurso “realista”. As necessidades políticas para a
aquisição e manutenção do poder levam à prática de atitudes antes
criticadas, mas agora legitimadas pelo “pragmatismo”.
É muito
comum a crítica ao “utopismo” dos outros, sendo que o crítico coloca-se
na posição do “realista”. Nesses casos, a crítica tende a ser
pejorativa, ou mesmo feita com certa condescendência. De qualquer forma,
o objetivo é caracterizar o outro como “irrealista”, “sonhador”, etc.
Como escreve Mannheim:
“Os representantes de uma ordem dada irão rotular de utópicas todas as concepções de existência que do seu ponto-de-vista jamais
poderão, por princípio, se realizar. De acordo com esta utilização, a
conotação contemporânea do termo “utópico” é predominantemente a de uma
ideia em princípio irrealizável. (...)Não obstante, os homens cujos
pensamentos e sentimentos se acham vinculados a uma ordem de existência
na qual detêm uma posição definida, manifestarão sempre a tendência a
designar de absolutamente utópicas todas as ideias que tenham se
mostrado irrealizáveis apenas no quadro da ordem em que eles próprios
vivem.”.
Portanto, é imprescindível que a população não perca o
seu poder de fiscalização, de controle, e de busca por uma sociedade
mais justa e mais ética, ou como diz Mannheim:
“Com efeito,
quanto mais ativamente um partido em ascensão colabora em uma coalizão
parlamentar, tanto mais abandona seus impulsos utópicos originais e, com
eles, sua perspectiva ampla, tanto mais seu poder para transformar a
sociedade tenderá a ser absorvido por seus interesses em detalhes
isolados e concretos. (...)”.
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