terça-feira, 8 de maio de 2012

Khalil Gibran (1)

A Procura

Mustafá, o eleito e o amado, no crepúsculo de seus dias, havia esperado doze anos por seu barco, que deveria voltar e levá – lo de volta à ilha onde nascera.
E no décimo segundo ano, no sétimo dia do Ielool, o mês da colheita, subiu a colina, longe dos muros da cidade, e olhou para o mar; viu seu barco chegando com a neblina.
Então, os portões do seu coração abriram – se e sua alegria voou ate o mar.
Ele fechou os olhos e rezou no silencio de sua alma.
Mas quando descia a colina, foi tomado de tristeza, e pensou com seu coração:
Como partirei em paz e sem sofrimento? Não, não deixarei esta cidade sem uma ferida na alma.
Longos foram os dias de dor que passei dentre seus muros, e longas foram as noites de solidão; e quem pode abandonar esta dor e esta solidão sem arrependimento?
São demasiados os fragmentos do espírito que espalhei por estas ruas e demasiadas são as crianças de meu afeto que caminham nuas por estas colinas, e não posso abandoná – las sem culpa e sem dor.
Não é uma peça de roupa que deixo para trás, mas uma pele que rasgo com minhas próprias mãos.
Também não é um pensamento que deixo para trás, mas um pedaço adocicado pela fome e pela sede.
Porém, não posso me demorar mais.
O mar, que chama todas as coisas, me chama e devo embarcar.
Pois ficar, apesar das horas que queimam na noite, é congelar, é cristalizar e ficar colado a um molde.
De bom grado, levaria comigo tudo que existe aqui. Mas como poderia?
Uma voz não pode levar a língua e os lábios que lhe deram asas. Deve buscar o éter sozinho.
E sozinha e sem pó e sem o seu ninho deve a águia voar através do sol.

Dar e Receber.

Será o dia da partida o dia do encontro?
E será dito que o meu crepúsculo era na verdade a minha aurora?
E o que darei àquele que deixou seu arado no meio do trabalho, ou àquele que parou a roda da prensa de vinho?
Meu coração se tornará uma árvore carregada de frutas para que eu possa colhê – las e dá – lãs a eles?
E meus desejos fluirão como uma fonte para que eu possa encher seus cálices?

O Amor

Quando o amor vos chamar, segui – o,
Apesar do seu caminho ser duro e íngreme.
E quando suas asas vos envolver, abraçai – o,
Apesar da espada escondida entre suas penas poder ferir – vos.
E quando ele falar convosco, acreditai nele,
Apesar de a sua voz poder esfacelar vossos sonhos como o vento norte arruína o jardim.
Pois mesmo quando o amor vos coroa, ele vos crucifica, Mesmo sendo para o vosso crescimento, ele também vos poda.
Todas essas coisas o amor fará convosco até que conheçais os segredos dos vossos corações, e, através deste conhecimento, vos torneis fragmentos do coração da vida.
O amor não dá nada além de si mesmo e não toma nada além de si mesmo.
O amor não possui e nem é possuído;
Pois o amor é suficiente ao amor.

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