quinta-feira, 10 de maio de 2012

Khalil Gibran (4)

 Descortinar

Vossas roupas escondem grande parte da vossa beleza, mas não escondem o que não é bonito.
E apesar de buscardes nas roupas a liberdade da privacidade, o que podereis encontrar serão uma armadura e uma corrente.
Andai ao sol e ao vento com mais pele e menos vestimentas.
Pois o sopro da vida está no sol e a mão da vida está no vento.
E não esqueçais que a terra adora sentir vossos pés descalços e o vento deseja brincar com os vossos cabelos.

Usura

Para vós a terra produz seus frutos, e só o querereis se souberdes que podem encher as vossas mãos.
É na troca de presentes da terra que encontrais abundância e sereis satisfeitos.
Porém se a troca não for feira com amor e justiça, vai levar uns à avareza e outros à fome.
No mercado, quando vós, trabalhadores do mar, dos campos e dos vinhedos, encontrardes os tecelões, os oleiros e os coletores de especiarias –
Invocai então o espírito mestre da terra, para que venha ate vós e santifique a balança e o cálculo que pesa valor contra valor.



O Julgamento

Muitas vezes vos ouvi falando daqueles que comete um mal como se ele não fosse um de vós, mas um estranho entre vós e um intruso em vosso mundo.
Mas digo que, assim como o sagrado e o correto não pode se elevar acima do que há de mais elevado dentro de vós, o mau e o fraco também não podem cair mais baixo do que do que há de mais baixo em vós.
E assim como uma única folha não fica amarela sem o conhecimento silencioso da árvore inteira.

Razão e Paixão

Vossa alma é muitas vezes, um campo de batalha, na qual vossa razão e vosso julgamento entram em guerra contra vossa paixão e vosso desejo.
Vossa razão e vossa paixão são o leme e as velas da vossa alma navegadora.
Se as vossas velas ou o vosso leme estiverem quebrados, podereis apenas ser sacudidos e sem rumo, ou até mesmo ficar presos em uma calmaria no mar interior.
Pois a razão, governando sozinha, é uma força que confina; e a paixão, sem cuidado, é uma chama que queima até se destruir..
Portanto, deixai que vossa alma exalte vossa razão até a altura da paixão, para que ela possa cantar;
E que a vossa paixão seja dirigida pela razão, para que vossa paixão possa viver a sua própria ressurreição diária, e como uma Fênix, ressurja de suas próprias cinzas.
Gostaria que considerásseis  vosso julgamento e vosso desejo como dois hóspedes amados em vossa casa.

Resignação

Assim como a casca da fruta deve se partir, vosso coração também deve ficar ao sol, para que conheçais a dor.
E que consigais manter vosso coração maravilhoso com os milagres diários de vossa vida, que vossa dor não pareça menos maravilhosa que a vossa alegria;
E aceitareis as estações do vosso coração, assim como sempre aceitastes as estações que passam sobre os vossos campos.

O Bem e o Mal

Do em dentro de vós, eu posso falar, mas não do mal.
Pois o que é o mal além do bem torturado por sua própria fome e sede?
Em verdade, quando o bem está com fome, busca alimento mesmo nas cavernas escuras, e quando tem sede, bebe até mesmo das águas paradas.
Quando sois bons, sois inteiros.
Mas quando não sois inteiros, não sois maus. Pois uma casa dividida não é um esconderijo de ladrões; é apenas uma casa dividida.
E um barco sem leme pode navegar sem rumo entre perigosos rochedos, mas não afundar.
Sois bons quando buscais dar de vós mesmos.
Mas não sois maus quando buscais obter para vós mesmos.
Pois quando lutais para ganhar, sois apenas uma raiz ligada à terra que suga no seu seio.
Certamente, os frutos não podem dizer à raiz: “Seja como eu maduro, completo e sempre generoso da vossa abundância”.
Pois para o fruto, dar é uma necessidade, como receber é uma necessidade para a raiz.
Sois bons quando estais totalmente conscientes dos vossos discursos,
Mas não sois maus quando dormis, enquanto vossas línguas tropeçam sem sentido.

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