quarta-feira, 27 de julho de 2011

Amy e a economia global

Por Goretti

Um amigo disse-me, numa brincadeira, para relacionar a morte da Amy com a economia global, “para dar mais destaque ao assunto”. Fiquei com isso na cabeça e a partir daí saiu esse texto.
Vivemos num sistema econômico capitalista e dentro desse sistema a música é um produto e por conseqüência os artistas também.
A maldição dos 27 anos acontece porque o artista fecha um pacto com o demônio, e esse demônio é a gravadora. A partir do momento que o artista assina o contrato com a gravadora ele perde sua alma e vira um produto da indústria fonográfica. Esses demônios pegam jovens extremamente talentosos e propõem:   “Te damos esse monte de dinheiro pra tu fazer o que NÓS quisermos.” Quem aceita vira marionete de produtora. A partir daí começam shows, entrevistas, propagandas tudo de acordo com o interesse da empresa produtora. A única função do artista é subir no palco e cantar e/ou tocar como a gravadora quer, para ganhar uma parte do grande lucro que esse negócio gera. Então o artista, já sem alma, perde sua vida própria, seu amor próprio, sua genialidade, e o que resta é a depressão, álcool, drogas. Em conseqüência disso vira um prato cheio para a mídia sensacionalista, o que é ótimo para a gravadora porque isso vende mais discos. Nenhuma das empresas envolvidas, da música ou da mídia se importa com o artista, só com o lucro.
Claro que não acontece com todos, alguns conseguem ser mais fortes. Mas se para nós “reles mortais”, às vezes já é difícil lidar com esse sistema nos pressionado, mídia, consumo, relações superficiais, etc, imagina para uma “mega estrela pop”  que foi transformanda em um simbolo de tudo isso.
A Amy era um produto descartável para a indústria musical, já enriqueceu a gravadora e a produtora e já fez a mídia vender muitas noticias. Eles já não precisam mais dela, o pacto foi selado, já compraram sua alma e agora eles podem vendê-la como quiserem. Com ela morta a mídia vende mais noticias e a gravadora lucra imensamente mais e sem ter a verdadeira Amy atrapalhando seus negócios.
Agora só nos resta ver quem será o próximo jovem gênio da música que será vitima do pacto com esses demônios, mídia e gravadora. E esses ainda vem dizer que pirataria é crime. Pirataria não é crime, criminosos são eles, as gravadoras e a mídia, que escravizam os artistas.
por Casi Miro

Um comentário:

  1. Natalia Rangel

    A voz da cantora inglesa Amy Winehouse sempre impressiona e encanta quem a escuta pela primeira vez. Resgata a atmosfera dramática do jazz e do soul, reverbera histórias pungentes e revela uma intérprete capaz de usar a própria voz com a desenvoltura reservada às grandes divas, emprestando nuances aos versos como bem entende. O virtuosismo vocal de Amy, no entanto, não foi o seu maior trunfo. Ela também se revelou uma compositora genuína em um gênero que o tempo sequestrou a uma determinada época. Com aquele visual emprestado às cantoras das décadas de 1950 e 1960, ela criou uma caricatura daquelas que foram as suas musas inspiradoras, as cantoras do jazz e do R&B, como Aretha Franklin, Nina Simone e Ella Fitzgerald. E da mesma maneira que despenteava cada fio daquela cabeleira todas as noites, Amy reverenciava as divas que tanto amava com toda a irreverência do mundo. E imprimiu isto em suas letras revelando-se uma compositora madura e intuitiva. E talvez este seja um dos legados mais preciosos da artista – ela contextualizou a poesia do soul tradicional em um cenário pop e contemporâneo de uma forma que há muito não se via.

    E fez isso com a naturalidade e intimidade de quem dialoga com membros de sua própria família, que era o que a música negra, repertório que Amy cresceu escutando na casa dos pais, representava para ela. Amy incutiu em suas composições a dor desbragada e a solidão imensa das divas e aliou às suas letras, sempre muito pessoais, algo que ela tinha de sobra: senso de humor.

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